Popularmente conhecida como “Forno”, em meio a denúncias de crimes ambientais, não pagamento de verbas rescisórias e até calote em aluguéis e fornecedores, empresa fechou as portas
Luciano Meira – Itaguara
O que parecia ser uma nova esperança na geração de emprego e renda na cidade seguiu no mesmo caminho de suas antecessoras e fechou suas portas. A Siderúrgica Padre Libério, assim como as antecessoras, conhecida pelo apelido de “Forno”, empresa localizada às margens da BR-381, cujas mesmas instalações já foram utilizadas por outras empresas do ramo fechou definitivamente suas portas, quando há pouco mais de uma semana demitiu os últimos funcionários que ainda estavam contratados por ela.
A empresa foi uma das poucas que se instalou em Itaguara nos últimos oito anos, período em que as empresas instaladas em sua maioria não vieram de fora da cidade ou não são filiais nem subsidiárias de outras empresas.
Sem uma política de desenvolvimento econômico racional e sustentável, Itaguara não atraiu empresas durante o período, apesar de haver implantado há muitos anos antes da administração Chumbinho (PSDB) um Distrito Industrial, onde apesar de algumas poucas empresas e residências instaladas, o local segue sendo utilizado inadequadamente para descarte de animais mortos e outros resíduos.
A Siderúrgica Padre Libério era produtora de ferro gusa utilizando no processo a queima de carvão vegetal. As atividades em Itaguara se iniciaram em fevereiro de 2024, e menos de um ano após o início se encerraram, a empresa gerava algo em torno de 90 empregos diretos, e era cliente de outras instaladas na cidade contribuindo direta e indiretamente com a economia local.
O fechamento da empresa em Itaguara, que iniciou o processo de desligamento dos equipamentos e demissão de funcionários em novembro/24, ainda é um mistério, havendo diversas versões para o ocorrido. Há quem diga que as condições de mercado estariam desfavoráveis para produção de ferro gusa pelo processo utilizado pela Padre Libério, há uma versão que fala sobre a situação precária dos equipamentos cuja manutenção é difícil e cara, outra versão fala sobre o armazenamento inadequado e preço do carvão e também surgiram especulações sobre eventuais problemas enfrentados pela empresa em relação a questões ambientais.
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Nossa primeira tentativa de contato com a empresa deu-se em novembro/24, coincidindo com as primeiras demissões e o auge das discussões e reclamações dos moradores sobre a fumaça e o barulho emitidos pela empresa. Procuramos uma pessoa identificada como João, funcionário da SPL e membro do grupo “Poluição de Itaguara” no WhatsApp que discutia a questão ambiental. Na ocasião, João chegou a solicitar que enviássemos nossas perguntas por mensagem, o que foi feito, mas nunca obtivemos resposta. Nesta semana, fazendo a apuração da matéria sobre o encerramento das atividades da SPL, mais uma vez entramos em contanto com o funcionário João, explicamos que gostaríamos de falar com alguém que pudesse responder aos nossos questionamentos, ele nos disse que não é a pessoa autorizada a falar sobre o assunto, mas encaminharia nossa solicitação ao diretor da empresa, até o fechamento desta matéria ninguém nos procurou.
Assim como já havíamos feito, tentamos mais uma vez fazer contato diretamente com a matriz da empresa em Sete Lagoas – Ferro Metais Siderurgia, desta vez a pessoa que atendeu ao telefone nitidamente desconversou e disse não saber informar se havia alguma relação entre as empresas, mas poderia passar o contato de alguém que saberia dizer algo sobre o assunto, o que reforça a nossa percepção da intenção que em Sete Lagoas onde está localizada a direção da empresa, não há disposição de responder nossos questionamentos. O contato que nos foi passado é de uma pessoa chamada Euclides, que alguns ex-funcionários identificaram como “sócio minoritário” da empresa que após inúmeras tentativas de contato também não nos atendeu, assim como vem fazendo com os credores da empresa, ambos os supostos sócios apesar da oportunidade oferecida, não demonstram vontade de expor sua versão dos fatos.
Também entramos contato com o Sindicato dos Metalúrgicos em Itaúna, que esteve presente em Itaguara participando das negociações referentes ao pagamento de verbas rescisórias. Fomos atendidos pelo diretor Noel Marcelo que confirmou a ação do Sindicato para recebimento de verbas rescisórias, incluindo também eventualmente outras verbas previstas na Convenção Coletiva: “Em novembro, quando a empresa começou as demissões fomos chamados por alguns trabalhadores para acompanhar as rescisões, para garantir o recebimento das verbas entramos na Justiça do Trabalho aqui em Itaúna que acatou nosso pedido e bloqueou as contas bancárias da empresa para proteger os direitos dos trabalhadores”, disse o dirigente sindical.
Nem todos os funcionários da empresa aderiram à negociação via sindicato, cujo pagamento das verbas estava previsto para a sexta-feira dia 31/01, como de fato aconteceu na Justiça o pagamento acordado. Marcelo informou que o advogado do sindicato estava providenciando o levantamento das verbas e na próxima quinta-feira (06) haverá uma reunião com os trabalhadores para receberem as verbas rescisórias. Há também casos de funcionários que contrataram advogados particulares e que já receberam parte das verbas rescisórias, um deles que prefere não se identificar disse haver recebido a multa rescisória e uma parcela do acordo feito, devendo receber a próxima parcela de seu acordo na segunda quinzena de fevereiro.
O diretor do Sindicato disse que ainda aguarda algumas informações dos trabalhadores, para acionar, ou não, a Justiça sobre os direitos previstos na Convenção Coletiva da categoria, como por exemplo, se a empresa pagou 2/3 de férias nas rescisões, diferentemente de muitas categorias que é de 1/3.
A única certeza até o momento é que ainda há trabalhadores e empresas prejudicadas com o fechamento da SPL, e o silêncio intencional por parte de alguns, ou o silêncio conivente por parte de outros, nos permite imaginar que apenas aqueles que fizeram uso da força do direito estão sendo pagos. Quanto aos demais existe a desconfiança que poderão enfrentar mais dificuldades para receberem o que a empresa lhes deve.
Alguns ex-funcionários e fornecedores ainda não contemplados com nenhum pagamento, informaram que já contrataram advogados para buscarem na Justiça seus direitos.
Nesta semana foram vistas pessoas trabalhando no “Forno”, recebemos a informação de tratar-se apenas de serviços de manutenção preventiva, para eventualmente uma nova empresa, como tantas outras já fizeram, se instale no local que segue “no mercado” para futuros interessados.