Ato esvaziado com cara de velório político escancara isolamento de Bolsonaro
Com apenas 12 mil presentes e ausências de aliados de peso, manifestação expõe medo de associação ao ex-presidente às vésperas de possível condenação no STF

Luciano Meira
O ato convocado por Jair Bolsonaro (PL) na Avenida Paulista neste domingo (29) escancarou o clima de desânimo e isolamento do ex-presidente. Com público estimado em pouco mais de 12 mil pessoas, o evento foi marcado por um ambiente de “velório” político, agravado pelo avanço do processo no Supremo Tribunal Federal (STF) e pela expectativa de condenação de Bolsonaro ainda neste ano.
Além da baixa adesão popular, chamou atenção a ausência de líderes tradicionais do bolsonarismo: governadores, senadores e deputados de maior projeção evitaram o evento, entre eles a esposa de Bolsonaro Michele Bolsonaro (PL) que é uma das pré-candidatas do partido, os governadores Ratinho Jr. (PSD) e Ronaldo Caiado (União) e o deputado mineiro Nikolas Ferreira (PL), talvez temendo o desgaste de imagem e possíveis custos eleitorais em 2026, com o temor de serem associados a um chefe político cada vez mais identificado com tramas golpistas e outras denúncias.Em contraste, alguns pré-candidatos à presidência com desempenho tímido nas pesquisas, como o governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), marcaram presença ao lado de Bolsonaro. Zema, que não consegue superar nas sondagens nacionais os índices de votos brancos, nulos e indecisos, parece apostar na exposição ao lado do ex-presidente mesmo diante da iminente condenação deste. Diferentemente dos nomes mais competitivos, esses políticos de menor tração eleitoral se mostram dispostos a correr o risco de associação em busca de visibilidade, numa estratégia de falem bem ou mal, mas falem de mim, na tentativa de herdar parte do espólio bolsonarista e se projetar nacionalmente — ainda que, nos bastidores, aliados do próprio Bolsonaro tratem suas pretensões com ceticismo e ressaltem sua falta de carisma e apelo fora de seus estados de origem.
O ambiente foi agravado pela cobertura ao vivo dos discursos, que repetiram ataques ao STF e pedidos de anistia aos condenados pelos atos golpistas de 8 de janeiro, mas não conseguiram mobilizar entusiasmo nem reverter a sensação de fim de ciclo. Notícias diárias sobre novas revelações e depoimentos envolvendo Bolsonaro e aliados em tramas antidemocráticas contribuíram para o afastamento de parte significativa da base e do público.
O resultado foi um ato menor, silencioso e marcado por um sentimento de fim de ciclo, em que o isolamento político de Bolsonaro ficou evidente tanto no público quanto no palco. A Avenida Paulista, que já foi símbolo da força da direita, desta vez serviu de cenário para um evento mais próximo de uma despedida do que de um recomeço.