Líderes europeus apoiam Zelensky após discussão com Trump

Volodymyr Zelensky e Donald Trump protagonizaram uma discussão inédita em pleno Salão Oval da Casa Branca, em Washington / AFP – Saul Loeb
Luciano Meira – Agências

O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, agradece neste sábado (1º) ao apoio recebido por dezenas de lideranças europeias, horas depois de ser pego de surpresa por uma discussão tensa com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o vice-presidente americano, JD Vance, em pleno Salão Oval, em Washington. Liderança europeias se reunirão em Londres para debater o futuro da ajuda à Ucrânia, em um contexto de incertezas.Trump e Vance acusaram o líder ucraniano de não ser grato o suficiente pela ajuda recebida dos Estados Unidos e de não querer negociar a paz com a Rússia. Zelensky acabou expulso da Casa Branca, onde estava para acertar os detalhes de um acordo de cessar-fogo na guerra contra a Rússia; em troca de privilegiar acesso aos minerais ucranianos aos americanos.

Apesar do bate-boca, em uma cena inédita na diplomacia internacional diante das câmeras, Zelensky agradeceu aos Estados Unidos por “seu apoio” e “pela visita”, em mensagens publicadas na rede social X. Agradeceu, ainda, “ao presidente Donald Trump, ao Congresso e ao povo americano”.“A Ucrânia precisa de uma paz justa e duradoura e estamos trabalhando exatamente para isso”, disse Zelensky. “É muito importante para nós que a Ucrânia seja ouvida e que ninguém se esqueça dela, nem durante a guerra, nem depois dela”, acrescentou, em uma mensagem acompanhada de imagens que o mostram com representantes da comunidade ucraniana em Washington. “É importante que o povo da Ucrânia saiba que não está sozinho, que seus interesses são representados em todos os países, em todos os cantos do mundo.”

Em uma entrevista à emissora conservadora Fox News na última noite, Zelensky disse acreditar que o relacionamento com Trump pode sobreviver ao incidente, mas afirmou que não deve desculpas ao presidente republicano.

Quem ‘brinca com a Terceira Guerra é Putin’, diz Macron

A conta X de Zelensky estava com mais de 30 frases de “Obrigado pelo seu apoio” entre a noite de sexta-feira e a manhã de sábado, em resposta a mensagens de apoio de líderes como o presidente francês, Emmanuel Macron.

“Há um agressor, que é a Rússia. Há um povo atacado, que é a Ucrânia”, declarou o presidente francês, que esteve reunido com Trump em Washington no início da semana. “Devemos respeitar aqueles que lutam desde o início porque estão lutando por sua dignidade, sua independência, por seus filhos e pela segurança da Europa”, continuou Macron. E “se alguém está brincando de Terceira Guerra Mundial, seu nome é Vladimir Putin”, argumentou, em referência a uma das acusações do presidente americano a Zelensky.

O líder francês, que lidera uma das duas potências nucleares da Europa junto com o Reino Unido, disse estar pronto para “abrir discussões” sobre a dissuasão nuclear europeia, após um pedido nesse sentido do futuro chanceler alemão Friedrich Merz. “Se os colegas quiserem avançar para uma maior autonomia e capacidades de dissuasão, então teremos que abrir essa discussão estratégica muito profundamente. Ela tem componentes muito sensíveis e muito confidenciais, mas estou aberto para que essa discussão se inicie”, acrescentou Macron.

Cúpula em Londres

“Caro Volodymyr Zelensky, apoiamos a Ucrânia nos momentos bons e nos momentos difíceis”, escreveu o futuro chanceler alemão Friedrich Merz. “Nunca devemos confundir o agressor e a vítima nesta guerra terrível”, insistiu.

A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, e o presidente do Conselho Europeu, António Costa, escreveram em conjunto que “a dignidade de Zelensky honra a coragem do povo ucraniano”, e ressaltaram que ele “nunca estará sozinho”. “Seja forte, seja corajoso, não tenha medo”, escreveram.

Neste domingo, cerca de 15 aliados europeus realizarão uma reunião na capital britânica para abordar a guerra na Ucrânia, com a participação de Zelensky. “Hoje ficou claro que o mundo livre precisa de um novo líder. Cabe a nós, europeus, assumir esse desafio”, pediu a chefe de política externa da UE, Kaja Kallas.

Já em Moscou, a porta-voz da diplomacia russa, Maria Zakharova, elogiou a “moderação” de Trump e Vance e afirmou que o fato de não terem dado “um tapa nesse canalha” era “um milagre”.

“Histórico”, reagiu Kirill Dmitriev, chefe do Fundo Russo de Investimento Direto e um dos negociadores russos nas negociações russo-americanas realizadas em 18 de fevereiro, na Arábia Saudita. “Pela primeira vez, Trump disse a verdade ao palhaço da cocaína”, disparou o ex-presidente Dimitri Medvedev, atualmente número dois no Conselho de Segurança da Rússia, referindo-se a Zelensky.