Vira-latismo em Fúria: Quando o governo Trump humilha o Brasil e aliados de Bolsonaro batem palma
Aplaudir a própria vassalagem: O espectáculo patético da Direita diante das sanções

Luciano Meira
A decisão do governo Trump de revogar os vistos do ministro Alexandre de Moraes, de outros ministros do Supremo Tribunal Federal e de seus familiares simboliza o mais revoltante episódio de humilhação nacional já protagonizado em décadas recentes. A ordem, celebrada efusivamente pelos aliados do ex-presidente Bolsonaro — ele próprio agora ornado com uma tornozeleira eletrônica determinada pela Justiça por reiteradas condutas criminosas — evoca o pior do complexo de vira-lata político: subserviência ativa, alardeada como vitória diante do chicote do patrão estrangeiro.
O secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, anunciou publicamente a revogação dos vistos, evocando uma narrativa grotesca de “caça às bruxas” e “censura” contra Jair Bolsonaro. Não bastasse a falácia do discurso, a medida ocorre como retaliação explícita à atuação da Suprema Corte brasileira, que tenta preservar a ordem democrática frente à escalada autoritária e ao golpismo. Nada disso impediu Eduardo Bolsonaro, filho do ex-presidente, atualmente nos Estados Unidos, de comemorar abertamente a imposição dessas sanções — como se celebrar represálias estrangeiras ao Judiciário brasileiro fosse sinal de orgulho pátrio e não de absoluto entreguismo.O cenário é patético: enquanto autoridades do judiciário do maior país da América Latina cumprem seu dever constitucional — entre eles investigar e restringir a liberdade de alguém investigado por conspirar contra a democracia —, uma potência estrangeira intervém arrogantemente, transformando-se em fiadora moral de foragidos e réus confessos. Ainda mais escandaloso é ver políticos brasileiros, tomados por um delírio colonial, aplaudirem a chantagem explícita. Trocam com entusiasmo o respeito internacional pela bajulação tosca à extrema-direita norte-americana, agindo como de fato jamais se tivessem libertado da cama de cachorro à porta da Casa Branca.
A comemoração dos aliados de Bolsonaro é um tapa na cara do legado democrático nacional e de toda construção civilizatória que fez do Brasil uma nação soberana. Não se viu, em nenhum momento, uma defesa altiva do Judiciário ou das instituições brasileiras, mas sim um coro de aplausos envergonhados de quem encontra no castigo imposto pelo dominador o consolo de pertencer a uma matilha de vira-latas.
Enquanto a extrema-direita festeja sua condição de subserviência, o Brasil precisa encarar, de frente, o desafio de defender sua soberania jurídica e política, repelindo toda forma de intervenção chantagista vinda do exterior — especialmente quando incentivada por aqueles que fizeram da tropa de choque do autoritarismo sua única bandeira.
O episódio ficará marcado como um dos pontos mais baixos do vira-latismo político: autoridades estrangeiras ditando regras e brasileiros comemorando a própria humilhação e a corrosão de sua democracia nacional.