STF interroga militares conhecidos como “kids pretos”, réus por trama golpista
Grupo é acusado de planejar assassinato de autoridades e tentativa de golpe de Estado; julgamento avança em fase decisiva no Supremo

Luciano Meira
O Supremo Tribunal Federal (STF) realiza nesta segunda-feira (28) o interrogatório de um dos mais controversos grupos de réus ligados à tentativa de golpe de Estado que marcou o fim do governo Jair Bolsonaro. Composto por militares das Forças Especiais do Exército — conhecidos no meio militar como “kids pretos” — e um policial federal, o chamado Núcleo 3 da denúncia é acusado de integrar o braço executor da trama golpista que pretendia barrar a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do vice-presidente Geraldo Alckmin, pouco antes da cerimônia de 1º de janeiro de 2023.
Quem são os réus e o que pretendiam
Dez pessoas compõem o grupo atualmente julgado: onze militares, sendo coronéis, tenentes-coronéis e um general, além de um agente da Polícia Federal. Entre eles, nomes como o general Estevam Gaspar de Oliveira, o tenente-coronel Hélio Ferreira Lima e o coronel Fabrício Moreira de Bastos figuram como líderes operacionais do plano. A Procuradoria-Geral da República (PGR) e a Polícia Federal divulgam que o núcleo era responsável por ações táticas envolvendo o monitoramento de autoridades e planejamento de sequestros e assassinatos, inclusive do presidente eleito, do vice-presidente e do ministro Alexandre de Moraes, relator do caso no STF.
Confira a lista completa:
Bernardo Romão Correa Netto (coronel);
Cleverson Ney Magalhães (tenente-coronel);
Estevam Theophilo (general);
Fabrício Moreira de Bastos (coronel);
Hélio Ferreira (tenente-coronel);
Márcio Nunes de Resende Júnior (coronel);
Nilton Diniz Rodrigues (general);
Rafael Martins de Oliveira (tenente-coronel);
Rodrigo Bezerra de Azevedo (tenente-coronel);
Ronald Ferreira de Araújo Júnior (tenente-coronel);
Sérgio Ricardo Cavaliere de Medeiros (tenente-coronel);
Wladimir Matos Soares (policial federal).
Segundo as investigações, o grupo planejou um ataque batizado de “Punhal Verde e Amarelo”, que previa as execuções para o dia 15 de dezembro de 2022. As ações só não teriam sido consumadas por falta de apoio explícito do comando do Exército, após tentativas de cooptação reveladas em reuniões com militares de alta patente e o próprio ex-presidente Bolsonaro.
Acusações e crimes atribuídos
Os réus respondem por uma série de crimes graves:
Organização criminosa armada
Tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito
Tentativa de golpe de Estado
Dano qualificado pela violência e grave ameaça
Deterioração de patrimônio tombado
Esses delitos são previstos com penas que variam de 4 a 12 anos de prisão, a depender do enquadramento final que for dado pelo Supremo.
Como está o julgamento dos núcleos no STF
A denúncia da PGR foi desmembrada em cinco núcleos, dividindo os réus conforme o papel que teriam desempenhado na tentativa golpista. Segundo informações do STF, os núcleos 1, 2 e 4 já tiveram suas instruções processuais avançadas ou concluídas, com todos os réus dessas frentes já interrogados. O Núcleo 1, que envolve o chamado “núcleo crucial” da trama, do qual faz parte o próprio ex-presidente Jair Bolsonaro, já está na fase de alegações finais e pode ter sentença proferida nos próximos meses. Os outros núcleos, incluindo o dos “kids pretos”, ainda têm etapas de audiência e depoimentos, compondo o roteiro de uma das maiores ações penais já avaliadas pelo STF.O processo avança lentamente, mas com expectativa de decisões históricas ainda no segundo semestre de 2025. O julgamento vai além das responsabilidades individuais, testando os limites das instituições brasileiras diante de ataques ao Estado Democrático de Direito.