Beatriz Cerqueira aciona Ministério Público e Defensoria Pública contra declarações do ex-secretário Igor Alvarenga sobre escolas cívico-militares

Luciano Meira
A deputada estadual Beatriz Cerqueira protocolou ofícios no Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) e na Defensoria Pública para solicitar apuração sobre as declarações do secretário estadual de Educação, Igor Alvarenga, feitas durante audiência pública na Assembleia Legislativa em 10 de julho. Além disso, a parlamentar denuncia a forma “impositiva” e questionável como tem sido conduzida a consulta para adesão ao Programa das Escolas Cívico-Militares nas escolas da rede estadual. A iniciativa de Cerqueira ocorre no contexto da expansão do programa, que já selecionou 721 escolas para possível implementação.
O principal ponto de contestação está na acusação dirigida pelo secretário às pessoas contrárias ao programa, classificadas por ele como “bandidos”. Conforme explica a deputada, “tal posicionamento, além de ofensivo, é inaceitável vindo de um gestor público que ocupa um cargo de tamanha responsabilidade e que deveria, acima de tudo, valorizar e respeitar os profissionais da educação, os alunos da rede estadual e a comunidade escolar, como um todo”. Para Cerqueira, o secretário “atribuir o título de bandido a alunos, pais, mães e profissionais contrários é uma grave afronta e fere os princípios básicos da convivência democrática em ambiente escolar”.
Além disso, Beatriz Cerqueira denuncia o processo de consulta prévia para adesão ao programa. Segundo ela, o procedimento é arbitrário e constrangedor, uma vez que “a comunidade escolar, ou seja, pais, alunos e profissionais das escolas, são obrigados a se identificarem na cédula de votação disponibilizada pela Secretaria de Educação”. A deputada destaca que a cédula exige o nome completo, a escola, a manifestação quanto ao interesse no programa e a assinatura do votante. Essa exigência, na avaliação dela, transforma a consulta num potencial instrumento de intimidação e perseguição a quem se posicionar contra o modelo das escolas cívico-militares. Ela lembra que o secretário afirmou que “uma educação de verdade não tem medo da polícia e quem tem medo de polícia é bandido”, frase que aprofundou o clima de tensão.
O Programa das Escolas Cívico-Militares, lançado pelo governo estadual, busca implementar um modelo de gestão em que a disciplina e a segurança, muitas vezes conduzidas por agentes militares, são reforçadas nas escolas públicas. Seus defensores argumentam que o modelo contribui para a redução da violência, melhora o ambiente escolar e aumenta o desempenho acadêmico. Contudo, críticos apontam que este formato pode restringir a liberdade de expressão, impor um ambiente autoritário e afastar os princípios democráticos da educação pública, além de questionar se o foco na disciplina militarizada é o caminho adequado para as soluções educacionais nos dias atuais.
Em meio à polêmica, Cerqueira já havia, em 9 de julho, apresentado representação contra a expansão do programa no MPMG e na Defensoria Pública, com alegações de falta de diálogo adequado com a comunidade escolar e ausência de transparência no processo decisório, reforçando que uma consulta democrática não pode estar atrelada à coação ou à identificação que possa comprometer a liberdade de voto.
A discussão amplia o debate sobre o futuro da educação estadual e levanta questões fundamentais sobre os limites da gestão pública, o respeito às comunidades escolares e o impacto social das políticas educacionais que adotam modelos cívico-militares. A tramitação dos pedidos da deputada junto ao Ministério Público e à Defensoria poderá resultar em recomendações ou medidas para garantir o direito à participação democrática e ao tratamento respeitoso das vozes contrárias no sistema educacional.