Na véspera do fim do prazo para apresentar sua defesa sobre a tentativa de golpe, Bolsonaro quer ser hospitalizado

Tática de vitimização é narrativa recorrente de bolsonaristas

Jair Bolsonaro em prisão domiciliar exibe tornozeleira eletrônica – Reprodução Redes Sociais
Luciano Meira

Amanhã expira o prazo para Jair Bolsonaro (PL-SP), apresentar sua defesa no processo do golpe, enquanto Alexandre de Moraes se prepara para decidir o destino do ex-presidente. O velho roteiro se repete: às portas de decisões graves, Bolsonaro parece recorrer, com frequência impressionante, ao abrigo dos hospitais e à narrativa martirizada diante da opinião pública, como também fazem os bolsonaristas condenados Daniel Silveira e Carla Zambelli.

Neste contexto, os advogados de Jair Bolsonaro surgem com um pedido inusitado: a autorização para o ex-presidente realizar uma verdadeira maratona de exames médicos em hospital de Brasília. Solicitam desde coletas de sangue e urina, passando por três tomografias, duas ultrassonografias, ecocardiograma e endoscopia digestiva, tudo isso supostamente para acompanhar um “tratamento medicamentoso” e reavaliar sintomas como refluxo e soluços refratários, segundo a defesa.Mas, se há algo tão previsível quanto o calendário judicial, é o roteiro dramático encenado por Bolsonaro quando o cerco se fecha: dor repentina, internação instantânea e a teatralização da saúde como escudo político. O hospital, que deveria ser lugar de reposição de forças, vira palco de transmissões ao vivo, visitas de figurões e, claro, lágrimas convenientes. Já foi UTI, já foi sala de cirurgia, já foi reality show, mas o verdadeiro papel nunca muda — vítima heroica do sistema maligno, encenando sofrimento para manter fiel o rebanho bolsonarista.

No cenário político brasileiro, poucas figuras souberam transformar obstáculos judiciais em novela nacional como Jair Bolsonaro. Amanhã, encerra-se o último prazo para que o ex-presidente e seus aliados apresentem as alegações finais no Supremo Tribunal Federal, no processo de tentativa de golpe de Estado. É a última chance de rebater provas e convencer ministros antes do relator, Alexandre de Moraes apresentar seu voto e liberar o caso para julgamento, previsto para ocorrer já em setembro. Se condenado, Bolsonaro poderá cumprir pena superior a 30 anos de prisão por crimes que incluem organização criminosa armada, tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito e deterioração de patrimônio público.

Com a proximidade do voto do relator Alexandre de Moraes, ressurge também a suspeita de que uma possível internação poderia servir não só para sensibilizar a opinião pública, mas também como o primeiro passo para um plano de fuga nada ortodoxo — afinal, não seria uma atitude surpreendente para quem é réu por participar da articulação de ataques que planejavam o assassinato de autoridades do país.

Desta forma, a ironia está aí, escancarada, para quem quiser ver: aquele que se vendia como “imbrochável”, “incomível” e “imorrível” torna-se, nos momentos críticos do processo, sensível ao ponto do choro, acamado, dependente dos apelos e das orações dos fiéis. Não hesita em converter a dor em capital político — afinal, ser mártir sempre foi rentável para quem sabe manipular a empatia dos seguidores, mesmo que à custa do desgaste do sistema hospitalar.

Entretanto, o tribunal parece não se deixar impressionar por piruetas cirúrgicas. Moraes já sinalizou que o tempo das distrações está perto do fim. Logo, será a vez de decidir: condenação ou absolvição do ex-presidente, talvez a única internação que Bolsonaro não consiga evitar.

O Metropolitano

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