Eduardo Riedel deixa PSDB jogando a ‘pá de cal’ que faltava sobre os tucanos

Luciano Meira
O PSDB, que já foi um dos maiores protagonistas da política nacional, agora não conta mais com nenhum governador eleito em seu nome. Eduardo Riedel, até então o último governador tucano — eleito no Mato Grosso do Sul em 2022 — assinou sua filiação ao Progressistas (PP), oficializando a derrocada de um partido que, a cada eleição desde 2014, vem perdendo espaço e relevância.
A saída de Riedel é surpresa surpreende para quem acompanha o caminho tortuoso do PSDB desde que Aécio Neves, candidato derrotado à Presidência em 2014, recusou-se a aceitar a derrota para Dilma Rousseff (PT). A postura do então cacique tucano simbolizou não só uma negação da realidade eleitoral, mas também foi o estopim para um processo de encolhimento que levou o partido a condição de nanico em que se encontra hoje.
Aécio, que se apresentava como a salvação do partido para retomar o comando do país, saiu do palco principal com suas promessas vazias e arrogância que afastaram eleitores, aliados e quadros importantes. Em vez de renovar o projeto político tucano, sua liderança foi marcada por disputas internas, fragmentações e pela incapacidade de evitar a debandada de nomes como Geraldo Alckmin, que migrou para o PSB, e até de Eduardo Leite e Raquel Lyra, que encontraram no PSD uma nova casa.
Riedel muda-se para o PP justamente buscando maior estrutura para sua reeleição, um movimento que desnuda a crise interna do PSDB, hoje privado de qualquer governança estadual. Com isso, a legenda que já foi o vanguardista da política brasileira se torna irrelevante no Executivo estadual, além de sofrer para manter sua bancada no Legislativo.
A ironia amarga de Aécio Neves
O antigo candidato tucano, que em 2014 fez da rejeição à Dilma e da beligerância política sua marca, terminou por sepultar o próprio legado e o futuro do PSDB. Sua negativa à derrota ficou marcada não só por discursos inflados, mas pela incapacidade de reinventar o partido e reconhecer as mudanças profundas no eleitorado brasileiro, abrindo espaço para o bolsonarismo que mergulhou o país na maior crise institucional de sua história no período pós redemocratização.
Enquanto Aécio Neves se agarrava ao passado, o PSDB desmoronava em um processo sem interrupção, perdendo votos, cadeiras, quadros e a confiança do eleitor. Hoje, o partido que já teve grandes presidenciáveis e foi polo de lideranças nacionais, sobrevive como um nanico político, incapaz de assegurar sequer a titularidade do Governo de um estado.
Enquanto isso, o PSD colhe os frutos dessa situação. Em 2024, liderou a eleição municipal no Brasil, elegendo mais prefeitos que qualquer outra legenda e ampliando sua base em um ritmo acelerado. A sigla de Gilberto Kassab aproveitou o vácuo criado pela debandada tucana para consolidar-se como a nova referência do centro e centro-direita nacional.
A perda do último governador para o PP, a debandada de lideranças e a deterioração constante da bancada eleitoral denunciam que o PSDB virou, enfim, apenas uma sombra do gigante que já foi. Aécio Neves, com sua obstinação pela disputa perdida e seus posicionamentos que flertavam com o imobilismo político, é um dos símbolos dessa decadência — um personagem que, ironicamente, ajudou a enterrar o próprio partido.
A derrocada do PSDB desenhada a partir de 2014, quando Aécio se recusou a aceitar a derrota, mostra que quem não se renova está condenado a definhar. A saída de Eduardo Riedel escancara esse cenário: o PSDB não é mais um partido com força política para disputar governos estaduais e, muito menos, se colocar como protagonista nacional — um triste fim para um partido que já se disse social democracia com direito a cadeira no Planalto.