CPMI do INSS aprova pedido de prisão para 21 envolvidos em fraudes; esquema pode ter desviado R$ 6 bilhões

Operação mira "Careca do INSS", ex-presidente do órgão e 19 outros suspeitos por prejuízos a aposentados

Divugação Câmara Federal
Luciano Meira

Em decisão unânime, a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que investiga fraudes contra aposentados e pensionistas do INSS aprovou, na noite de segunda-feira (1), o pedido de prisão preventiva do lobista Antônio Carlos Camilo Antunes — conhecido como o “Careca do INSS” — e de outros 20 suspeitos, incluindo o ex-presidente da autarquia, Alessandro Stefanutto, que pediu demissão após a deflagração da Operação Sem Desconto.

Como funcionava o esquema de fraudes

As investigações da CPMI e da Polícia Federal apontam que o esquema envolvia o desconto irregular de mensalidades e valores de benefícios de milhões de aposentados e pensionistas, sem autorização dos titulares. Associações e sindicatos de fachada, com apoio de empresas de telemarketing, cadastravam idosos sem consentimento, realizando cobranças mensais diretamente na folha de pagamento do INSS. O grupo chegou a movimentar cerca de R$ 6,3 bilhões entre 2019 e 2024, prejudicando pelo menos um milhão de beneficiários.O “Careca do INSS”, segundo a Polícia Federal, era o operador central do grupo, articulando repasses do dinheiro às entidades envolvidas e repassando valores a servidores do INSS. Antonio Carlos mantinha dezenas de empresas, usadas para receber e distribuir recursos desviados de associações ligadas ao INSS. A Operação Sem Desconto apurou que só empresas ligadas a Antunes movimentaram mais de R$ 50 milhões. Parte do dinheiro, segundo as investigações, teria sido usada para pagamento de propina, inclusive a integrantes do Judiciário.

Lista dos acusados pelo esquema

Além de Stefanutto e do Careca do INSS, são alvo do pedido de prisão nomes como André Paulo Felix Fidelis (ex-diretor do INSS), Cecília Rodrigues Mota (apontada como pagadora de propinas), Virgílio Antônio Ribeiro de Oliveira Filho (ex-procurador do INSS), empresários ligados a associações de pensionistas e servidores afastados do órgão. Entre eles está também Maurício Camisotti, empresário que controlava associações suspeitas e chegou a movimentar R$ 20 milhões mensais com descontos fraudulentos.

NomeQualificação/Função
André Paulo Felix FidelisEx-diretor de Benefícios e Relacionamento com o Cidadão do INSS
Eric Douglas Martins FidelisAdvogado, filho de André Fidelis
Cecília Rodrigues MotaAdvogada, apontada como operadora das fraudes e pagadora de propinas a servidores do INSS
Virgílio Antônio Ribeiro de Oliveira FilhoEx-procurador do INSS
Thaisa Hoffmann JonassonMulher de Virgílio Filho
Maria Paula Xavier da Fonseca OliveiraSócia da Xavier Fonseca Consultoria, empresa da irmã de Virgílio Filho
Alexandre GuimarãesEx-diretor de Governança do INSS
Antonio Carlos Camilo Antunes (Careca do INSS)Lobista, operador do esquema, empresário central do grupo
Rubens Oliveira CostaSócio do Careca do INSS
Romeu Carvalho AntunesFilho do Careca do INSS
Domingos Sávio de CastroEmpresário, dono de empresas de telemarketing usadas pelo grupo
Milton Salvador de Almeida JuniorSócio do Careca do INSS
Adelinon Rodrigues JuniorOperador do call center utilizado pelo grupo para as fraudes
Alessandro Antonio StefanuttoEx-presidente do INSS, pediu demissão após operação
Geovani Batista SpieckerEx-diretor-substituto de Benefícios e Relacionamento com o Cidadão do INSS
Reinaldo Carlos Barroso de AlmeidaServidor afastado do INSS
Vanderlei Barbosa dos SantosDiretor de Benefícios e Relacionamento com o Cidadão, exonerado após operação
Jucimar Fonseca da SilvaDiretor de Pagamentos de Benefícios do INSS, afastado após operação
Philipe Roters CoutinhoAgente da Polícia Federal envolvido no esquema
Maurício CamisottiEmpresário, dono de grupo de associações que cometiam fraudes contra aposentados
Márcio Alaor de AraújoOperador de consignados junto às instituições financeiras, citado por depoente como participante

Papel das associações e participação política

O esquema contava ainda com a conivência ou omissão de autoridades e envolvimento de cerca de 50 entidades. Entre elas, associações nacionais de aposentados e entidades ligadas a categorias rurais. O advogado Eli Cohen, que detalhou o caso na CPMI, afirma ter sofrido ameaças após denunciar o esquema. Parlamentares presentes na comissão exigiram proteção ao depoente e intensificação do trabalho investigativo.

Governo e INSS prometem ressarcimento às vítimas

Após a operação, o governo anunciou medidas para ressarcir os prejudicados. Proposta da Advocacia-Geral da União prevê a devolução integral dos valores descontados irregularmente, corrigidos pelo IPCA, a partir de medidas junto ao Supremo Tribunal Federal. O plano inclui notificações e canais para que aposentados solicitem o ressarcimento, estimando lotes de pagamentos quinzenais para até 1,5 milhão de beneficiários. Projetos de lei no Congresso buscam endurecer a fiscalização e evitar fraudes futuras.

Prisão depende agora do STF

A CPMI, por não ter poder para decretar prisões, encaminhou o pedido ao ministro André Mendonça, relator do caso no Supremo Tribunal Federal. Caberá a ele decidir sobre as prisões preventivas. Enquanto isso, a apuração prossegue com novas oitivas, análise de provas e rastreamento dos valores desviados, já que parte considerável do dinheiro permanece desaparecida.

A Comissão de inquérito prevê intensificar as investigações, ampliar apurações sobre fraudes envolvendo empréstimos consignados e novas operações irregulares em benefícios previdenciários. O caso é apontado como um dos maiores prejuízos sofridos por aposentados e pensionistas no país, revelando fragilidades na fiscalização e controle do pagamento de benefícios sociais.

O Metropolitano

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