Uma mineira no centro do poder: Cármen Lúcia pode decidir hoje o destino de Bolsonaro
Ministra de Montes Claros, jurista reconhecida por rigor, tende a ser voto decisivo no julgamento do Núcleo Crucial da trama golpista. Perfil conta com trajetória marcada pelo pioneirismo e independência

Luciano Meira
A ministra Cármen Lúcia, do Supremo Tribunal Federal, será protagonista nesta quarta-feira (10), a partir das 14h, ao proferir o voto que pode selar o destino do ex-presidente Jair Bolsonaro e de todos os demais réus do chamado Núcleo Crucial na ação penal que investiga a tentativa de abolição do Estado Democrático de Direito. Considerada um dos votos mais aguardados, Cármen Lúcia pode encaminhar a primeira condenação unânime de um ex-chefe do Executivo federal por tentativa de golpe no país, caso alinhe-se ao entendimento pela culpa geral do grupo.
Decana da 1ª Turma e julgamento decisivo nesta semana
Integrante e decana da Primeira Turma do STF, colegiado onde ocorre o julgamento, a ministra será a quarta a votar no processo, com seu posicionamento podendo definir a maioria a favor ou contra a condenação dos réus. Logo após Cármen Lúcia, está previsto o voto do ministro Cristiano Zanin, presidente da turma e responsável pelo último parecer antes da definição do julgamento. Com os votos de ambos, o Supremo encerra nesta quinta-feira a fase principal do julgamento, restando para amanhã (sexta-feira, 12) a sessão final, destinada à definição das condenações e das penas de cada réu.
Ministra mineira: formação sólida e pioneirismo
Nascida em Montes Claros (MG), em 19 de abril de 1954, Cármen Lúcia Antunes Rocha é solteira e construiu sólida carreira acadêmica e jurídica antes de chegar à Suprema Corte. Graduou-se em Direito pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas), é mestre em Direito Constitucional pela Universidade Federal de Minas Gerais e especialista em Direito de Empresa pela Fundação Dom Cabral. Em 1983, tornou-se professora titular de Direito Constitucional na própria PUC.
Trajetória de procuradora a ministra do STF
Antes do STF, foi advogada, procuradora do Estado de Minas Gerais a partir de 1983, e exerceu a função de procuradora-geral do estado durante o governo Itamar Franco, entre 2001 e 2002. Com histórico de atuação firme e discrição, ganhou destaque nacional como coordenadora de obras jurídicas e atuante em entidades da advocacia. Em 2006, foi indicada ao Supremo Tribunal Federal pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, tornando-se a segunda mulher a ocupar uma cadeira na mais alta Corte do país.
Comando e independência em cortes superiores
Cármen Lúcia já presidiu o STF entre 2016 e 2018, foi presidente do Tribunal Superior Eleitoral em dois biênios (2012-2013 e 2024-2026) e teve assento no Conselho Nacional de Justiça. É reconhecida por sua postura independente e rigorosa na defesa institucional do Judiciário, destacando-se em temas como combate à corrupção e proteção dos direitos fundamentais.
O peso do voto e o impacto do julgamento
Com uma trajetória marcada por votos firmes nos principais escândalos políticos do país, a expectativa é que Cármen Lúcia reforce o entendimento de responsabilidade compartilhada entre conduzidos e condutores da tentativa golpista, podendo não só condenar Bolsonaro, mas também referendar a punição a todos os envolvidos do Núcleo Crucial. Nestes próximos dois dias, o Supremo decidirá um dos processos mais simbólicos da história recente do país — e grande parte desse desfecho estará escrita pela pena da mineira de Montes Claros.