Presidente do PL admite planejamento de golpe e causa abalo no campo bolsonarista
Declaração de Valdemar Costa Neto surpreende aliados e repercute nacionalmente

Luciano Meira
O presidente do Partido Liberal (PL), Valdemar Costa Neto, afirmou, durante evento realizado no último sábado (13) em Itu, interior de São Paulo, que houve, sim, um planejamento de golpe de Estado por parte de Jair Bolsonaro. A fala inédita de Costa Neto rapidamente gerou mal-estar entre os aliados do ex-presidente e abriu uma crise na articulação política bolsonarista, que tenta atualmente viabilizar a anistia de Bolsonaro no Congresso.
O evento e os presentes
O pronunciamento ocorreu durante painel no Rocas Festival, evento de luxo do setor equino realizado na Coudelaria Rocas do Vouga, em Itu. O festival reuniu políticos de alto calibre e empresários, com foco na exposição de cavalos, mas ganhou tons políticos pela presença de possíveis candidatos à Presidência da República em 2026. Entre os presentes estavam os governadores Ronaldo Caiado (União Brasil, GO), Romeu Zema (Novo, MG) e Ratinho Júnior (PSD, PR), além do presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab, e do senador Ciro Nogueira (PP). O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, foi convidado, mas não compareceu.
O conteúdo da fala
Durante sua participação no painel mediado pelo deputado estadual Tomé Abduch (Republicanos-SP), Valdemar Costa Neto declarou: “Houve um planejamento de golpe, mas nunca teve o golpe efetivamente. No Brasil a lei diz o seguinte: se você planejar um assassinato, mas não fez nada, não tentou, não é crime. O golpe não foi crime”, disse. Ele comparou os preparativos para o golpe a delitos não consumados e minimizou os atos de 8 de janeiro de 2023, qualificando-os de “bagunça” e criticando a avaliação do Supremo Tribunal Federal (STF), que classificou os eventos como tentativa de golpe de Estado.
Repercussão entre aliados de Bolsonaro
A confissão pública de Valdemar foi imediatamente rechaçada por membros do núcleo bolsonarista, que enxergaram na fala um “sincericídio” capaz de enfraquecer a articulação por anistia de Bolsonaro no Congresso. Aliados avaliaram que a admissão oferece munição para que adversários minem a defesa do ex-presidente. Parlamentares ligados ao ex-presidente manifestaram indignação; Fabio Wajngarten, ex-ministro e advogado de Bolsonaro, escreveu em redes sociais que não é aceitável “ouvir e se calar” diante da fala. Ricardo Salles (Novo-SP) e outros integrantes do PL também criticaram a postura do dirigente partidário.
Contexto político e consequências
O episódio ocorre em um momento em que o PL se articula em Brasília, sob comando do governador Tarcísio de Freitas, para aprovar uma proposta de anistia a Bolsonaro, condenado recentemente pelo STF a 27 anos e três meses de prisão por tentar um golpe de Estado. A declaração de Costa Neto é vista nos bastidores como um golpe às tentativas de blindar o ex-presidente e obrigou lideranças do partido a correr para limitar danos políticos. O racha evidencia a divisão interna no campo da direita sobre a estratégia de enfrentamento às decisões do Judiciário e o futuro de Bolsonaro no cenário eleitoral.
A reação ao “sincericídio” do presidente do PL evidencia a tensão e a fragilidade nas articulações do grupo bolsonarista diante das investigações e penas impostas ao ex-presidente.