Do alto do Aglomerado da Serra, emissora faz jornalismo popular
Natália Andrade | BdF MG
“Um serviço de alto-falante, no morro do Serrão”. Há 48 anos entrava no ar pela primeira vez a Rádio Favela, “a verdadeira voz do Brasil”. Assim como na música eternizada por Leci Brandão, no alto do Aglomerado da Serra, favela de Belo Horizonte, moradores usavam o rádio para se comunicar e “alertar a favela inteira” sobre tudo o que as outras rádios não falavam.
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Criada por Misael Avelino, a Rádio Favela, hoje conhecida como Radio Autêntica Favela FM, começou com transmissores improvisados que passavam pelas casas da Vila Fátima, na tentativa de se esconder da polícia e da política que perseguia o projeto de comunicação popular que funcionava de forma clandestina. As vezes em que a rádio teve os transmissores lacrados e os materiais destruídos não foram capazes de conter o ímpeto da iniciativa.
Símbolo da resistência popular e da luta por justiça social, ao ousar denunciar as mazelas do Aglomerado da Serra, a violência policial e o abandono da população mais pobre, a rádio incomodou poderosos e só resistiu em razão da força dos moradores que, pela primeira vez, ouviam as suas vozes refletidas nas ondas sonoras.
A jornalista Amélia Gomes, que teve a rádio como o seu objeto de pesquisa de mestrado, destaca que a Autêntica Favela FM é uma rádio popular que, além de suas origens, cumpre um papel social fundamental para a população mais vulnerabilizada.
“Identificar um veículo enquanto popular é perceber se ele promove a cidadania, a autonomia e o empoderamento do povo. E a gente vê isso muito nitidamente na história da Rádio Favela, desde os primeiros anos em que ela surgiu até os dias atuais”, comenta.
Amélia, que foi apresentadora da rádio enquanto trabalhou no Brasil de Fato MG, faz questão de lembrar que a comunicação é um direito constitucional que, na prática, não é exercido de forma plena. Para ela, ao contrariar o poder vigente e manter a rádio funcionando mesmo durante a ilegalidade, o projeto ajudou a garantir a dignidade da população da região.
“A existência da Rádio Favela é, na prática, a garantia de um direito fundamental que nos é negado: o direito à comunicação. A gente não tem acesso a veículos de comunicação, e, por mais que esteja lá na Constituição a garantia do direito à comunicação, na prática, ele não existe. Então, ter a Rádio Favela como esse norte, esse farol, para nós, é muito importante”, explica.
“A Rádio Favela também prova e ressalta a necessidade de termos acesso a esse direito, porque ele é uma ponte para uma série de outros direitos. A partir do momento em que você tem o poder de falar, de comunicar, de denunciar e de questionar, você também tem mais potencialidade para conquistar outros direitos, como o direito à moradia, o acesso à educação, à saúde, etc”, continua Amélia Gomes.
Programa Brasil de Fato MG
O Brasil de Fato MG possui um programa diário na Rádio Autêntica Favela FM, transmitido de terça-feira a sexta-feira, sempre ao meio dia, com uma visão popular sobre os principais acontecimentos de Minas Gerais, do Brasil e do mundo.