Comissão constata situação de abandono de museu da educação mineira

Em condições precárias de armazenamento e conservação, o espaço mantém peças e documentos que recontam a história da educação no Estado e no País

Deputada Beatriz Cerqueira (PT) representando a Comissão de Educação da ALMG, examina peças no Museu da Escola Professora Ana Maria Casasanta Peixoto. Foto: Luiz Santana
Da redação

Um patrimônio material e bibliográfico dos mais raros do País corre risco de degradação, armazenado de forma precária no Museu da Escola Professora Ana Maria Casasanta Peixoto e na Biblioteca Bartolomeu Campos Queirós, localizados na Escola de Formação e Desenvolvimento Profissional de Educadores, em Belo Horizonte.

A situação foi constatada pela deputada Beatriz Cerqueira (PT) em visita técnica aos dois espaços, nesta segunda-feira (18/11/24). A parlamentar, que solicitou a atividade, representou a Comissão de Educação, Ciência e Tecnologia da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG).

˃˃Receba notícias no seu WhatsApp˂˂

O Museu da Escola Professora Ana Maria Casasanta Peixoto foi criado em 1994, na Praça da Liberdade, no prédio da antiga Secretaria de Estado da Educação, imóvel remanescente do período da construção de Belo Horizonte.

Transferido primeiramente para o Instituto de Educação de Minas Gerais, o museu encontra-se, desde 2012, no campus da Escola de Formação e Desenvolvimento Profissional de Educadores. O acervo conta com mobiliário, jogos educativos, cartilhas, fotografias, documentos textuais e depoimentos orais que reconstroem a história da educação no Estado e no País.

No entanto, o museu vem sendo tratado pelo governo como um equipamento de menor importância, segundo os educadores que participaram da visita. Não há uma legislação que ampare sua criação e funcionamento – nem mesmo um profissional responsável pelo espaço.

Peças foram emprestadas e desviadas

Na falta de um museólogo para gerir e organizar o acervo, o servidor Mário Jardim, responsável pela Biblioteca Bartolomeu Campos Queirós, atua como uma espécie de memória viva do museu. São pouco mais de 5 mil itens inventariados em 80 pastas. Parte considerável dos documentos está na biblioteca.

“Esses documentos contam a trajetória das instituições educacionais em Minas Gerais, boa parte do que a Secretaria de Estado de Educação produziu nos últimos cem anos, como políticas pedagógicas, diagnósticos e projetos”, explica Jardim. As peças mais antigas datam da segunda metade do século XIX.

Andrea Moreno, diretora da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), disse ter recebido denúncias quanto à falta de conservação do material e de cuidado com esse patrimônio inestimável. Peças do acervo teriam sido emprestadas sem qualquer controle a terceiros. Sem cortinas, bens eram castigados pelo sol.

A professora defendeu uma política de Estado para preservação e digitalização do acervo, acabando com a dependência do voluntarismo de profissionais como Mário Jardim e de pesquisadores.

Neuma Marçal, ex-coordenadora do museu, definiu como revoltante a atual situação. O primeiro museu da América Latina dedicado à memória da educação, que chegou a ter 18 mil visitantes, hoje só abre sob demanda, principalmente de escolas.

Segundo Neuma, as dificuldades começaram quando o museu foi para o Instituto de Educação. “É uma escola muito grande, era fácil copiar uma chave. À noite, acontecia o desvio do acervo”, relatou. Ela citou o exemplo de uma eletrola, trazida por americanos em um projeto de cooperação na educação elementar, entre as muitas peças perdidas.

Infiltração e poeira

Os documentos abrigados na Biblioteca Bartolomeu Campos Queirós, requisitados por pesquisadores de todo o País e do exterior, também estão à mercê do sol, da água, da poeira. Livros importantes estão se deteriorando em um ambiente com infiltrações, sem climatização. Na biblioteca, estão aproximadamente 40 mil itens.

Juliana Filgueiras, professora do departamento de História da UFMG, aprovou um projeto pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado (Fapemig) para digitalizar uma pequena parte do acervo.

“É uma documentação única, só conhecida por pesquisadores, que precisa ser mais cuidada. Digitalizar é preservar e democratizar o acesso”, pontuou.

“A memória da educação em Minas e no País está sendo apagada por falta de responsabilidade do governo. Há a falsa ideia de um museu em pleno funcionamento. A maior parte do acervo está em salas fechadas, falta cuidado com a documentação. O museu não existe, verificamos só a resistência individual dos interessados”, afirmou a deputada Beatriz Cerqueira, ao abordar a necessidade de “institucionalização” do museu, por meio de projeto de lei de sua autoria.

Ela também disse que irá sugerir emendas ao Plano Plurianual de Ação Governamental (PPAG) e ao Orçamento de 2025 para incluir o museu no planejamento do Estado. Ainda está prevista uma audiência pública sobre o tema da visita na Assembleia Legislativa, no ano que vem.