Aécio Neves tenta ressurgir na política enfrentando rejeição recorde em Minas Gerais

Luciano Meira

O deputado Aécio Neves (PSDB/MG) articula um retorno ao protagonismo político mirando as eleições de 2026, mas enfrenta forte rejeição entre os eleitores de Minas Gerais, segundo pesquisas recentes. Nesse movimento, busca aproveitar sua condução à presidência nacional do PSDB — ele é o único candidato para substituir Marconi Perillo — como alavanca para seu retorno ao centro das discussões políticas, apesar do enfraquecimento e da redução do partido. Após anos afastado das mídias e redes sociais, o ex-governador tenta reposicionar sua imagem e consolidar uma liderança nacional no PSDB, porém carrega o desgaste de denúncias judiciais na Lava Jato, das quais foi absolvido.

Aécio Neves governou Minas entre 2003 e 2010, período em que seu legado foi projetado nacionalmente, culminando na disputa presidencial de 2014, quando perdeu para Dilma Rousseff (PT). Ele foi denunciado e julgado por corrupção passiva e lavagem de dinheiro na Operação Lava Jato, sendo absolvido pelo Supremo Tribunal Federal em 2024.Agora, o deputado busca articulações nos bastidores políticos, por exemplo, participando de encontros com lideranças como Michel Temer (MDB) e Paulinho da Força (Solidariedade-SP) na elaboração de eventual alternativa ao projeto de anistia para os condenados por tentativa de golpe de Estado, tentando aumentar sua projeção no momento político atual e apresentar-se como alternativa de centro diante da polarização. Paralelamente, reassume espaços na mídia tradicional e nas redes sociais, investindo em vídeos que contrastam sua gestão com seus sucessores, Fernando Pimentel (PT) e Romeu Zema (Novo).

Após longo período de reclusão, Aécio voltou a aparecer em propagandas partidárias, eventos tucanos e jogos de futebol, apostando numa campanha digital comparativa das gestões públicas em Minas. O objetivo é resgatar o discurso das estatais fortes e marcar oposição às privatizações propostas por Romeu Zema, tentando também consolidar uma alternativa de centro após anos de polarização entre PT e bolsonarismo.

Aécio Neves é frequentemente apontado como um dos principais responsáveis pela polarização que marca a política brasileira na última década. Ao não admitir a derrota para Dilma Rousseff (PT) em 2014, articulou junto ao então presidente da Câmara, Eduardo Cunha, a criação de condições reconhecidamente falsas para fundamentar o processo de cassação da presidenta. Diversos analistas e setores da imprensa atribuem a ele a origem do clima de radicalização, intensificado pelo uso de um discurso de deslegitimação dos resultados eleitorais, que pavimentou o caminho para o impeachment e agravou a cisão no país.

A rejeição de Aécio Neves, no entanto, é um grande obstáculo. Dados do instituto AtlasIntel apontam que 82% dos mineiros têm imagem negativa do deputado, e 54,4% declararam que não votariam nele sob nenhuma hipótese — índices que o colocam no topo das rejeições políticas do estado. Mesmo assim, aliados destacam que sua articulação ainda encontra algum respaldo em nichos da elite política e entre ex-correligionários na Assembleia Legislativa de Minas.

Com o enfraquecimento do bolsonarismo e de lideranças tradicionais, o PSDB busca se reinventar. Aécio, ao investir em uma campanha fora do espectro polarizado, quer consolidar um projeto de centro, capaz de dialogar com parte do eleitorado cansado dos extremos representados por Lula e Bolsonaro. Analistas políticos e aliados reconhecem, porém, que a elevada rejeição popular e a desconfiança persistente são entraves difíceis de superar — mesmo com o capital político acumulado em Minas e a recente absolvição.

Aécio Neves segue articulando alianças e aposta em estratégias midiáticas para tentar reverter a rejeição e voltar à disputa majoritária, mas terá que enfrentar um eleitorado cada vez mais crítico e polarizado.