África pode ganhar um novo oceano: fissura continental cresce com fluxo de lava
Pesquisadores acompanham em tempo real a abertura de uma gigantesca fenda que pode dividir o continente e dar origem a um novo oceano nos próximos milhões de anos

Luciano Meira
Uma transformação geológica de proporções épicas está em curso no Chifre da África. Pesquisadores de universidades africanas, europeias e norte-americanas monitoram o avanço de uma imensa fissura que se estende por centenas de quilômetros entre a Etiópia, a Eritreia e o Quênia. O fenômeno, impulsionado pelo fluxo constante de lava do manto terrestre, pode, em um futuro distante, dividir o continente africano e criar um novo oceano.
O que está acontecendo?
A chamada Fenda do Afar, localizada na região conhecida como Vale do Rift, é palco de uma das mais impressionantes manifestações do dinamismo da crosta terrestre. Ali, três placas tectônicas — a africana, a arábica e a somali — estão se afastando lentamente, abrindo espaço para que o magma suba à superfície. Desde 2005, quando uma fissura de 56 quilômetros apareceu repentinamente na Etiópia após uma série de terremotos e erupções, o processo tem se acelerado.Segundo a geóloga Cindy Ebinger, da Universidade de Tulane, “o que vemos hoje é o estágio inicial de formação de um oceano, semelhante ao que aconteceu há milhões de anos quando a América do Sul e a África se separaram”.
Como será o novo oceano?
Estudos recentes, publicados na revista Geophysical Research Letters, mostram que o solo da região está se tornando cada vez mais fino, com novas fissuras surgindo a cada ano. O fluxo de lava preenche essas aberturas, solidificando-se e ampliando a separação. Especialistas estimam que, em cerca de 5 a 10 milhões de anos, a água do Mar Vermelho e do Golfo de Áden poderá invadir a região, formando um novo oceano e transformando partes da Etiópia, Eritreia e Djibuti em uma nova ilha.
O que dizem os cientistas?
O processo é lento, mas inexorável. “Estamos testemunhando a criação de um novo oceano”, afirma o geofísico Christopher Moore, da Universidade de Leeds. “É raro observarmos esse tipo de evento em tempo real.” Para a população local, o fenômeno é motivo de curiosidade, mas também de preocupação, já que tremores de terra e erupções vulcânicas são frequentes na região.
A África está, literalmente, se partindo. O surgimento de um novo oceano é um lembrete do poder da natureza e do caráter dinâmico do nosso planeta. Embora o processo leve milhões de anos, acompanhar seus primeiros passos é um privilégio raro para a ciência e para a humanidade.