Ana Maria Gonçalves: primeira mulher negra e mineira toma posse na ABL

Escritora faz história ao integrar a Academia Brasileira de Letras e promete promover diversidade

A “imortal” Ana Maria Gonlçalves – Foto: ABL/ Dani Paiva
Luciano Meira

A escritora Ana Maria Gonçalves, nascida em Ibiá, Minas Gerais, tornou-se na última sexta-feira (7) a primeira mulher negra a tomar posse em uma das cadeiras da Academia Brasileira de Letras (ABL) em 128 anos de existência da instituição. Ela agora ocupa a cadeira de número 33, sucedendo o linguista Evanildo Bechara.​

Uma trajetória marcada pela literatura e pioneirismo

A nova imortal da ABL é autora de obras marcantes como “Um defeito de cor”, romance consagrado e premiado, inspirado na saga de Luiza Mahin, ícone da resistência negra no Brasil. Nascida em 1970, Ana Maria Gonçalves é filha de uma costureira e de um funcionário de laticínio, e já se destacava por seu interesse pelos estudos na infância, quando escreveu uma carta à professora Elizabeth Fernandes, que permaneceu guardada por quase cinco décadas como símbolo de sua sensibilidade literária precoce.​Antes de se dedicar à literatura, Ana Maria teve uma carreira de 15 anos em publicidade em São Paulo, deixando a área para se aprofundar na escrita e pesquisa, especialmente na Bahia. Em sua posse, vestiu um fardão confeccionado por costureiras da Portela, escola de samba carioca que homenageou sua obra no Carnaval de 2024.​

Inédita e diversa: o significado de sua posse

Sua eleição, quase unânime entre os membros da academia, representa um marco para a inclusão racial e de gênero na chamada “Casa de Machado de Assis”, que teve apenas 13 mulheres entre os imortais desde a fundação, e nunca antes uma mulher negra ocupando uma cadeira. Em seu discurso de posse, Ana Maria dedicou a conquista à memória das vozes negras antes silenciadas e destacou sua missão de assumir a diversidade como bandeira: “Promover a diversidade nessa casa, abrir mais as portas ao público e empenhar-se pela literatura brasileira”.​

A presença da escritora é símbolo de resistência e de atualização da ABL para um Brasil plural. Ana Maria reconheceu as escritoras como Conceição Evaristo e Lélia Gonzalez, protagonistas de debates por mais espaço para negras e negros na cultura nacional.​

Responsabilidade e novas perspectivas

Ao receber o diploma das mãos do músico Gilberto Gil e o colar acadêmico da escritora Ana Maria Machado, Ana Maria Gonçalves reafirmou o compromisso em combater a falta de diversidade na instituição. Sua participação na ABL abre caminhos para as futuras gerações de autores negros e periféricos e legitima demandas históricas por representatividade e democratização dos espaços literários brasileiros.​
A posse de Ana Maria Gonçalves é, portanto, mais do que um marco pessoal: é o reflexo de um momento decisivo para a cultura e a sociedade brasileiras, no qual a literatura se une à luta por igualdade e justiça.

O Metropolitano

Jornalismo profissional e de qualidade. Seu portal de notícias da Região Metropolitana de Belo Horizonte, de Minas Gerais, do Brasil e do Mundo.
Botão Voltar ao topo