Barragem em Brumadinho em nível 2 de emergência: falha em monitoramento obriga evacuação e alerta para riscos ambientais
Mudança de patamar em estrutura abandonada expõe 40 pessoas à retirada preventiva e ameça reservatórios e rodovias

Luciano Meira
A barragem B1-A, controlada pela empresa Emicon Mineração e Terraplanagem, localizada na Serra da Conquista em Brumadinho (MG), foi reclassificada para o nível 2 de emergência pela Agência Nacional de Mineração (ANM), forçando a evacuação preventiva de cerca de 40 pessoas que vivem próximas à estrutura. Embora não haja indícios de risco iminente de rompimento, a decisão responde à ausência de dados recentes e confiáveis sobre a estabilidade, abandono da operação e descumprimento de obrigações legais pela empresa responsável.
Situação das Estruturas
B1-A: Estrutura de 15m de altura com capacidade para 75.000m³ de rejeitos. Situação de inatividade, embargada e abandonada sem videomonitoramento, sistemas de alerta ou funcionários.
Outras barragens: Quéias, Dique B3 e Dique B4 também encontram-se embargadas, totalizando 118,3 mil m³ de rejeitos retidos em quatro estruturas precárias, sem certificação de estabilidade.
Razão da elevação do alarme
ANM determinou a elevação do patamar de emergência devido a vários fatores:
Falta de Declaração de Conformidade e Operacionalidade (DCO) referente a 2025.
Descumprimento do Termo de Compromisso Judicial, que prevê segurança e descaracterização das barragens.
Insuficiência nas investigações geotécnicas, e resultados inconclusivos de estudos de estabilidade.
Falta de dispositivos de alerta, abandono e falhas recorrentes no Plano de Ação de Emergência.
Impactos e Riscos
Além do risco às famílias da Zona de Autossalvamento (ZAS), especialistas e autoridades alertam para impactos potenciais em:
Rodovia Fernão Dias (BR-381): A menos de 1 km da B1-A, pode ser atingida em caso de ruptura, assim como propriedades rurais vizinhas.
Represa Rio Manso: Localizada a 8,5km, abastece cerca de 1,5 milhão de consumidores e está incluída entre as áreas que podem ser contaminadas por resíduos de mineração em caso de acidente.
Mancha de inundação: Simulações apontam que, no pior cenário, até outras barragens podem ser atingidas por efeito cascata, ampliando o potencial de danos ambientais e humanos.
Ações das Autoridades
A Defesa Civil e a Prefeitura de Brumadinho criaram uma comissão para acompanhar a retirada preventiva e garantir apoio humanizado às famílias afetadas. O deslocamento de animais, assistência social e informações à população estão sendo organizados de maneira conjunta com o Corpo de Bombeiros e órgãos estaduais e federais.O Ministério Público de Minas Gerais acompanha o caso e cobra judicialmente a empresa para cumprimento de obrigações e descaracterização definitiva das estruturas.
Clima de Insegurança
Moradores protestam contra a retirada repentina e a falta de informações, relatando surpresa e indignação. Muitos alegam ter sido levados a crer que a área não apresentava riscos no momento da ocupação. O episódio revive traumas do desastre de 2019, quando a barragem da Vale no Córrego do Feijão se rompeu em Brumadinho, matando 272 pessoas.
“É importante ressaltar que não foram detectadas anomalias estruturais que indiquem risco iminente de ruptura. A decisão foi tomada durante o período de estiagem, o que reduz os riscos hidrológicos”, destacou a ANM, reforçando que a medida é completamente preventiva.
Como Funciona a Classificação de Risco
Nível | Significado | Medidas Adotadas |
1 | Anomalias detectadas, sem risco iminente | Intensificação de monitoramento e comunicação às autoridades |
2 | Risco aumentado, necessidade de evacuação imediata | Retirada da ZAS, desativação de atividades e mobilização emergencial |
3 | Risco iminente de rompimento | Acionamento de sirenes, evacuação total, implementação de plano de emergência |
Enquanto as investigações técnicas seguem em andamento e uma nova auditoria independente foi solicitada, os órgãos públicos reforçam que todas as ações têm caráter preventivo e que a situação é monitorada continuamente. A administração municipal afirma que o deslocamento está sendo feito com suporte integral e que toda a comunicação será mantida de forma transparente, buscando evitar tragédias como a que marcou a história da cidade em 2019.