Burrice Natural do governo cria tumulto em aulão de Inteligência Artificial no Mineirão
Deputada cobra apuração rigorosa e denuncia uso da educação para marketing político em Minas, enquanto escolas enfrentam carências graves

Luciano Meira
Um evento promovido pela Secretaria de Estado de Educação de Minas Gerais, anunciado como a maior aula de Inteligência Artificial do mundo destinado a alunos da rede estadual, terminou em tumulto, brigas e denúncias graves sobre uso político e descaso com a infraestrutura escolar. Realizado no estádio Mineirão e marcado pela presença do governador Romeu Zema (Novo) e do vice Mateus Simões (PSD), o aulão tornou-se palco do que críticos já classificam como símbolo do marketing vazio do governo, em meio a uma triste realidade das escolas estaduais: falta de esgoto, água potável, equipamentos e internet de qualidade para os estudantes.
Evento vira caos e escancara problemas
O evento, que contou com cerca de 30 mil estudantes das escolas estaduais de Minas Gerais, teve tumultos nas arquibancadas, com cenas de violência e pancadaria registradas em vídeos e relatos. As atividades precisaram ser suspensas e equipes de segurança, bombeiros civis e Polícia Militar precisaram agir para controlar a situação. Há relatos do envio de ambulâncias para socorrer jovens no local e um clima de insegurança tomou conta dos presentes.
O Secretário de Estado da Educação, Rossieli Soares, alegou publicamente que a briga pode ter sido premeditada por alunos em redes sociais e prometeu investigar o caso. Segundo Soares, o esquema de segurança era robusto, mas a confusão teria surpreendido as autoridades.

Deputada destaca marketing eleitoreiro e omissão
A reação mais contundente veio da deputada estadual Beatriz Cerqueira (PT/MG), que cobrou apuração e denunciou o uso político da educação em Minas. “É lamentável que rapidamente o secretário de Estado da Educação tente responsabilizar outros por aquilo que era sua função. Garantir condições de segurança era a responsabilidade mínima dele. Todo mundo que é da educação sabe que esse tipo de evento não agrega nada no processo de ensino-aprendizagem, mas quis fazer para mostrar, para fazer marketing, né? A educação hoje está refém do marketing do governador, do governo Zema, e do seu secretário”, afirmou a deputada.
Beatriz ainda detalhou as medidas tomadas: “Primeira, a convocação do secretário para prestar esclarecimentos. Segunda, representei ao Ministério Público, Promotoria da Infância e Juventude, para apurar responsabilidades. Na semana passada, aprovei requerimento solicitando informação ao secretário sobre plano de contingência, acessibilidade, fonte de recursos, valor total do investimento, entre outros pontos. Desde a semana passada, acompanhava preocupada o que seria esse evento. E vimos no que se transformou com a completa incompetência do governo Zema em garantir condições mínimas para um evento dessa magnitude”.
Falta saneamento, água e estrutura básica nas escolas
O contraste entre o evento espetaculoso e a real situação das escolas mineiras não poderia ser mais gritante: dados recentes apontam que 13% das escolas estaduais não têm nenhum tratamento de esgoto, 14% não contam com água potável adequada e há centenas de unidades em que dejetos são jogados diretamente em fossas ilegais ou no subsolo, ameaçando a saúde dos alunos. Muitas escolas, especialmente em áreas rurais, enfrentam falta d’água, estrutura precária e ausência total de conexão com a internet.
Estudo do Tribunal de Contas de Minas Gerais reforça que, além do saneamento básico, há escolas sem energia elétrica adequada, sem merenda regular e com número de alunos por sala acima do recomendado, agravando os riscos de violência escolar e prejudicando o ensino.
Críticas e ironias à gestão do secretário
O atual secretário Rossieli Soares, escolhido por Zema, reproduz um histórico marcado por fatos controversos e excesso de propaganda — experiências semelhantes já haviam ocorrido na sua gestão em São Paulo e no Amazonas, ambas alvos de críticas pela desorganização em grandes eventos escolares e falta de resposta efetiva aos problemas do dia a dia nas escolas.

Pré-candidato ao governo mineiro, o ex-presidente da Câmara de Belo Horizonte Gabriel Azevedo (MDB) também criticou a postura do governo em suas redes sociais: “O governo mineiro inventou de fazer um aulão de inteligência artificial no Mineirão que virou confusão. O pior que isso passa longe de ser cuidado com a nossa educação. O governo quis lotar o estádio do mesmo jeito que lota as salas de aula em todo o estado, sem nenhum tipo de cuidado, com muitos casos de violência escolar. Salas lotadas são a realidade de muito professor, que ninguém vê na foto ou no videozinho de inteligência artificial pra campanha. Estádio tava cheio e não saiu gol. Governo perna de pau. O aluno passa de ano aqui em Minas, mas muito sem perspectiva de futuro. Tem aluno que sai da escola sem ler direito, sem escrever direito e sem saber fazer conta. Antes que digam que sou contra novas tecnologias, eu sou a favor, mas sem nem entender o básico primeiro, a nota tende a ficar vermelha”.
Promessas de investigação, mas falta prática
A Secretaria de Educação promete abrir processos internos e apurar responsabilidades, com acompanhamento psicológico para os alunos envolvidos, ao mesmo tempo em que enfatiza que a “maior parte dos participantes se comportou de maneira exemplar”. No entanto, para a comunidade escolar e seus representantes, permanece a sensação de que o protagonismo midiático se sobrepôs às necessidades reais dos estudantes.
Enquanto cortes e imagens abastecem as redes do governo, a dura verdade dos alunos da rede estadual mineira segue oculta atrás de números de audiência e promessas de inovação incompatíveis com o cenário estrutural da maioria das escolas de Minas.
