Carla Zambelli deixa do Brasil e vai para Europa

Carla Zambelli (PL)
Luciano Meira

A deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) anunciou nesta terça-feira (3) que deixou o Brasil. Ela afirmou estar fora do país já há alguns dias e que deve se basear na Europa, onde possui cidadania europeia.
Segundo a parlamentar, o motivo inicial da viagem foi buscar um tratamento médico que ela já realizava no exterior. Zambelli declarou que, por isso, solicitará licença de seu mandato. Ela citou o correligionário Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que também deixou o Brasil e se licenciou do cargo, como precedente para essa possibilidade constitucional. A defesa da deputada disse não saber para onde ela foi.
O anúncio ocorre cerca de 20 dias após Zambelli ter sido condenada pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Em 14 de maio, a Primeira Turma do STF a condenou a 10 anos de prisão, em regime inicialmente fechado, pela invasão aos sistemas do Conselho Nacional de Justiça (CNJ).
De acordo com a denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR), Zambelli foi a autora intelectual da ação, ocorrida em janeiro de 2023. A invasão cibernética resultou na emissão de um mandado de prisão falso contra o ministro Alexandre de Moraes. O hacker Walter Delgatti Neto confessou à Polícia Federal ter executado o ataque sob orientação de Zambelli. Delgatti afirmou ter recebido um texto redigido por ela para inserir no sistema e pagamentos que totalizam ao menos R$ 13,5 mil. A PF aponta que o hacker utilizou credenciais falsas para acessar os bancos de dados do Judiciário Federal.Além da pena de prisão, a condenação inclui a perda do mandato parlamentar e a inelegibilidade da política por oito anos, o que já está valendo. A perda do mandato, contudo, depende de uma decisão da Câmara dos Deputados após o trânsito em julgado (quando não houver mais recursos). A sentença da Primeira Turma do STF também determinou que Zambelli pague uma indenização de R$ 2 milhões por danos morais e coletivos.
Apesar da condenação, a defesa da deputada entrou com recurso contra a decisão, alegando “cerceamento de defesa” por não ter tido acesso completo a provas importantes. A defesa pede que o STF conceda acesso integral aos documentos, absolva a parlamentar e afaste as consequências da condenação, incluindo a perda do mandato.
Zambelli declarou que pretende usar sua estadia na Europa para “denunciar a ditadura” que, segundo ela, o Brasil vive, e levar suas alegações a cortes europeias. Ela disse que sua partida não é um abandono, mas uma forma de “resistir” e “voltar a ser a Carla que eu era antes das amarras que essa ditadura nos impôs”.
Em 15 de maio, Zambelli havia declarado que não sobreviveria à pena de prisão devido a uma série de problemas de saúde, incluindo uma síndrome rara chamada Ehlers Danlos, problemas cardíacos e depressão. Na ocasião, ela afirmou que seus médicos eram unânimes em dizer que ela não sobreviveria à cadeia e que relatórios seriam apresentados em momento oportuno. Dias depois, em 19 de maio, a deputada publicou um vídeo pedindo doações via Pix a seguidores para custear multas judiciais, alegando não ter condições de pagá-las sozinha.
Carla Zambelli também é alvo de outro inquérito no STF, no qual responde por crimes de porte ilegal de arma de fogo e constrangimento ilegal. O julgamento desse caso foi interrompido em março após um pedido de vista do ministro Nunes Marques.
Fontes indicam que, apesar de ser considerada um incômodo pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, que a vê como principal culpada pelo fracasso nas urnas em 2022, Zambelli será acolhida pela bancada do PL na Câmara dos Deputados.

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