Carla Zambelli é presa na Itália: governo brasileiro já formalizou pedido de extradição

Deputada federal está detida em Roma enquanto Justiça italiana decide se ela responderá processo de extradição presa, em prisão domiciliar ou será libertada com restrições

Carla Zambelli – Reprodução
Luciano Meira

A deputada federal licenciada Carla Zambelli (PL-SP) foi presa na Itália, em Roma, após ter fugido do Brasil, onde foi condenada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) a dez anos e oito meses de prisão por envolvimento na invasão hacker ao sistema do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), em 2023. A detenção ocorreu após articulação entre Interpol, Polícia Federal e autoridades italianas, nas imediações do Vaticano, onde a parlamentar estava escondida.Zambelli passou a noite sob custódia da Divisão de Capturas do Setor de Cooperação Internacional da polícia italiana, órgão diretamente ligado ao Ministério do Interior e à Interpol, responsável por deter estrangeiros procurados por diferentes países. O local funciona como espaço temporário para estrangeiros à disposição da Justiça, até definição sobre eventual transferência ou liberdade condicional.

Entenda o que levou à condenação, fuga e prisão

A ordem de prisão foi emitida pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF, em junho, após Zambelli ser considerada foragida por recusar-se a cumprir sentença definitiva. Segundo as investigações, ela foi a principal mentora do ataque hacker em parceria com Walter Delgatti Neto, com objetivo de fraudar decisões judiciais do CNJ e constranger ministros do tribunal. A cassação automática do mandato e outras sanções, como multa milionária, também foram determinadas pelo Supremo.

Logo após a condenação, Zambelli deixou o país, alegando motivos de saúde, mas seguiu para Itália, país do qual também possui cidadania. Apesar de ter cidadania dupla, o entendimento recente das cortes italianas permite a extradição de nacionais se o vínculo principal de vida for com o Brasil, como é o caso da parlamentar.

Após denúncia do deputado italiano Angelo Bonelli, a polícia localizou e deteve a brasileira em um apartamento no bairro Aurélio, em Roma. Sua defesa afirma que a parlamentar se entregou voluntariamente e que irá pedir asilo político, alegando perseguição judicial. Ela permanece detida enquanto Justiça italiana avalia as próximas etapas processuais.

Processo de extradição: tramitação e próximos passos

O pedido formal de extradição já foi encaminhado pelo governo brasileiro. A análise inicial na Itália envolve o Judiciário, que pode decidir nas próximas horas se Zambelli seguirá presa em regime fechado, domiciliar ou em liberdade mediante restrições enquanto tramita o processo. O Ministério Público e órgãos de cooperação internacional têm 48 a 72 horas para avaliar o caso, podendo deixá-la detida, como ocorre agora, ou conceder nova medida.

O julgamento de extradição, por outro lado, tende a ser lento: a decisão pode levar meses ou até um ano e depende de diversas instâncias, inclusive do Conselho de Estado e, ao final, do governo italiano. Ainda que a extradição seja negada, a Itália teria o dever de processar Zambelli com base nas provas enviadas pelo Brasil.

Outro processo pode ampliar a pena

Além da condenação pela invasão ao CNJ, Zambelli responde a outro processo no STF por porte ilegal de arma de fogo e constrangimento ilegal. Trata-se do episódio em que, armada, perseguiu com arma em punho o jornalista Luan Araújo, durante o segundo turno das eleições de 2022. O julgamento está suspenso após pedido de vista, mas seis ministros já votaram pela condenação que pode render mais cinco anos de prisão no Brasil, ampliando o total da pena.

Breve histórico da carreira

Nascida em Ribeirão Preto (SP), Zambelli ficou nacionalmente conhecida pelo ativismo no movimento Nas Ruas. Eleita deputada federal em 2018, foi reeleita em 2022 e se tornou uma das figuras centrais do bolsonarismo no Congresso, marcada por polêmicas e embates públicos. Sua trajetória política, de rápida ascensão, foi interrompida após as investigações e condenações no Supremo Tribunal Federal.

A situação de Carla Zambelli segue indefinida enquanto a Justiça italiana analisa seu futuro, com possibilidade de extradição ao Brasil ou abertura de processo judicial na própria Itália.

O Metropolitano

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