É pouco osso para muito vira-latas: Zema e Bananinha disputam restos
O cenário da direita brasileira parece um canil em apuros, com seus “vira-latas” mais teimosos trocando rosnados por um osso já disputado demais: a chance de liderar o que sobrou do bolsonarismo em 2026. O mais novo espetáculo canino é protagonizado pelos quase-presidenciáveis Romeu Zema (Novo-MG) e Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que trocaram rosnadas públicas depois que Zema responsabilizou Eduardo pelo tarifaço de Donald Trump sobre produtos brasileiros. Segundo Zema, o garoto propaganda de Trump teria “criado um problema para a direita”, sugerindo que sua militância nos EUA piorou ainda mais a vida do Brasil na era dos impostos-surpresa.
Em resposta, Eduardo, exilado voluntário nos EUA, latiu alto em redes sociais: vestiu-se de vítima, culpou o Supremo Tribunal Federal por todos os males nacionais, criticou a “elite financeira” e encenou o velho papel de mártir “injustiçado” pelo sistema – aquela peça já surrada e repetida para a plateia bolsonarista. No mundo real, Eduardo admitiu frequentar reuniões e atuar com aliados trumpistas nos bastidores da sanção, inclusive defendendo abertamente o endurecimento das relações para pressionar instituições brasileiras. Queria sanções pessoais sobre Alexandre de Moraes, mas levou foi um imposto de 50% para produtos nacionais – típico talento diplomático de quem troca o pão por ossos de briga.
Na tentativa de provar relevância internacional, Eduardo Bolsonaro – que só nas piadas dos republicanos estadunidenses é diplomata – atua nos EUA como uma espécie de mascote da extrema-direita americana. Participa de baladas conspiracionistas, faz lives ao lado de figuras como Paulo Figueiredo (o neto daquele ditador que preferia os cavalos, casado com aquela senhora que preferia viajar com o cabeleireiro) e investe parte do tempo em convencer congressistas republicanos de que o Brasil virou uma ditadura desde que seu pai deixou o Planalto. Quando tem chance, sonha com sanções que destinem desafetos ao exílio (desde que não seja o próprio). O problema é que, no ranking das intenções de voto para 2026, Eduardo segue mais para cadelinha abandonada, já que nenhum levantamento recente empolga – boa sorte explicando Trump para os brasileiros sem Twitter.
Já Zema – conhecido mais pelos discursos de autoajuda que por realizações no governo mineiro – tenta morder um espaço nacional. Seu governo em Minas Gerais é de obras que não terminam, servidores mal-humorados e uma lista de problemas que vão desde o aeroporto do interior parado até escolas sem merenda. Restou-lhe o “projeto de presidenciável”, embalado por marqueteiros do Novo. Em campanha explícita, Zema se dedica a alertar o país sobre as agruras das tarifas americanas (mas curiosamente, pouco fala dos problemas caseiros de Minas) e culpar o PT, Lula, Eduardo Bolsonaro, Trump e quem mais passar voando fora do estado por omissões, tarifas e dissabores. Recentemente, anunciou seu lançamento nacional no início de agosto, quinze segundos de fama, acompanhado de um punhado de militantes do Novo em São Paulo — um típico show de auditório para pré-candidato nanico.
Se há algo em comum entre os dois, é a vocação para protagonizar barraco enquanto o país enfrenta dilemas sérios. Enquanto um critica o outro por ter “criado problema para a direita”, ambos parecem indiferentes ao fato de estarem longe da liderança do eleitorado nacional. Para o eleitor desconfiado, resta assistir ao show de patetices. Quem viu as pesquisas recentes sabe que a disputa é por restos: o pedaço carcomido do eleitorado que ainda não pulou do partido “Bolsonaro” ou da “nova política” para um candidato realmente competitivo. O que se vê agora é só um ensaio, e de quinta categoria, da tradicional briga de vira-lata por um osso já bem roído pelo tempo.
Eduardo late do exterior, Zema grita no Brasil. Ambos agarram-se a memórias, slogans e “causas” com fôlego de vira-lata, já que, pelos números e pelas circunstâncias, aquilo que disputam são as migalhas do banquete de 2022. E, sejamos justos, o eleitorado parece mais interessado em apartar a confusão do que dar prêmio a quem ganhou a última briga de quintal.