Ele tem bandida de estimação

Líder do PL afirma que pedirá asilo à Itália para Carla Zambelli e escancara hipocrisia da direita ao defender deputada condenada

Deputado federal Sóstenes Cavalcante (PL-RJ)
Luciano Meira

O líder do Partido Liberal (PL) na Câmara dos Deputados, Sóstenes Cavalcante, anunciou que pedirá ao governo da Itália que conceda asilo político à deputada federal Carla Zambelli, condenada a 10 anos de prisão pelo STF por crimes comuns como invasão de sistemas do Conselho Nacional de Justiça e falsificação de documentos. O pedido, que ignora a gravidade dos delitos e a sentença unânime da Suprema Corte, revela mais do que o desespero de um partido: escancara a seletividade e hipocrisia de boa parte dos representantes da direita brasileira, que costumam ironizar adversários com a expressão “tem bandido de estimação” – agora, aplicável ao próprio grupo.No ofício enviado à primeira-ministra da Itália, Giorgia Meloni, Sóstenes sustenta que Zambelli é vítima de “perseguição política” e desrespeito ao devido processo legal, omitindo que todos os trâmites judiciais foram observados. Ignora também que a deputada foi condenada não por suas ideias, mas por crimes concretos – entre eles, a adulteração de documentos judiciais em parceria com um hacker, prática que compromete o funcionamento das instituições e mancha a lisura do parlamento.

Pistoleira, foragida, e candidata a mais 5 anos de cadeia

A lista de infrações não para por aí. Zambelli também responde por outro processo, no qual pode ser condenada a mais cinco anos de prisão, desta vez por ter corrido armada pelas ruas dos Jardins, bairro nobre de São Paulo, perseguindo um jornalista com arma em punho, em ação típica de pistoleira e flagrada em vídeo. A cena grotesca, digna de um faroeste às avessas, ocorreu na véspera da eleição presidencial de 2022 e escancarou o destempero e o desprezo da parlamentar pela lei e pela civilidade.

Mesmo assim, no melhor estilo “bandida de estimação”, Sóstenes defende Zambelli de todas as formas que tanto critica nos adversários. Trata-se, aliás, de uma expressão clássica da retórica da direita bolsonarista, utilizada para atacar defensores de direitos humanos em casos de violência policial ou prisões polêmicas. O velho bordão “direitos humanos para humanos direitos” também costuma ser lançado por esse grupo, que agora ignora o fato de a deputada ter violado direitos de terceiros e cometido crimes típicos de criminosos comuns, não de perseguidos políticos.

Ativismo hipócrita e histórico de um grupo em guerra contra o Brasil

A defesa de Zambelli é só mais um sintoma dos graves problemas causados por líderes do próprio partido, como o deputado Eduardo Bolsonaro – chamado com justiça de traidor da pátria por ter atuado no exterior em articulações para enfraquecer o próprio país. Eduardo, herdeiro direto do ex-presidente, já protagonizou polêmicas como apoio aberto a ataques a decisões do Supremo, lobby por interesses pessoais e articulação de projetos que restringem direitos de minorias e crianças vítimas de violência sexual, e a cereja do bolo as tarifas impostas aos produtos brasileiros exportados para os EUA e sanções ao Ministro Alexandre de Moares, aprofundando o caos institucional no Brasil.

Enquanto boa parte da direita se especializou em criar inimigos imaginários, inventar perseguições e defender causas morais seletivas, a realidade se impõe: Carla Zambelli foi julgada e condenada por crimes comuns, praticados de maneira consciente e reiterada. O pedido de asilo é uma tentativa evasiva de transformar delito em heroísmo, e a defesa irrestrita, sem o mínimo senso autocrítico, só revela a hipocrisia e os métodos duvidosos dos que hoje empunham a bandeira do atraso no parlamento.

Num país ainda marcado por graves problemas sociais agravados por esses mesmos representantes, nada mais simbólico do que ver quem sempre foi rápido em rotular os outros como defensores de criminosos, agora às voltas em proteger sua própria “bandida de estimação”.

O Metropolitano

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