Em todos os sentidos um mar de lama atinge moradores no bairro dos Dias

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Não há previsão de quando deve parar de chover na região, diz Inmet

Luciano Meira – Itaguara

Nesta quinta-feira (09/01) foram registrados em Itaguara diversos pontos de alagamento resultantes da chuva intensa que começou a cair sobre a cidade por volta das 21h30 na noite da quarta-feira (08/01).

Piscina na residência da Rua Modesto Costa Gumarães, casa de Willian Lanterneiro

Além dos já tradicionais pontos na Via Expressa, tivemos vários outros pontos de inundação na zona urbana com água invadindo residências e imóveis comerciais, pontes caídas e estradas interditadas na zona rural, sendo os casos mais graves e dramáticos a inundação de residências na Rua Carlos Penido Filho, 486 e Rua Modesto Costa Guimarães, 49 ambas no Bairro dos Dias.

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Um verdadeiro mar de lama invadiu as casas, que segundo os moradores era uma tragédia anunciada desde que o loteamento Bairro dos Oliveiras da empresa Incorpe foi implantado na vizinhança. “Há quatro anos, quando foi inciada a implantação do loteamento Oliveiras da Incorpe também ocorreu uma enchente, mas não tão forte como essa” disseram os moradores do imóvel da Rua Modesto Costa Guimarães, lembrando-se que a ocorrência coincidiu com o período eleitoral no último ano do primeiro mandato do ex-prefeito Chumbinho (PSDB), que aprovou o loteamento apontado pelos moradores como causador da catástrofe que atingiu estas famílias.

Willian tentando limpar uma cama que restou da enchente

Na residência do Sr. Hélio Carlos , conhecido como “Capacete” na Rua Carlos Penido Filho, a força da enxurrada que desceu do loteamento trazendo água suja, areia, lama e destruição, derrubou parte do muro do fundo de sua residência inundando o quintal, a cozinha e a copa do imóvel.

Hélio Carlos, o Capacete limpando o quintal de sua casa.

Ao chegarmos no local para fazermos a reportagem encontramos Capacete sozinho removendo areia e lama do seu terreno. “Estou trabalhando nisso desde a madrugada de quinta-feira, a água suja entrou e acabou com tudo, fogão, geladeira, móveis, mantimentos, foi uma coisa que eu nunca tinha visto e nem esperava que fosse acontecer aqui, moro há mais de cinco anos nesta casa, e os vizinhos nascidos e criados aqui disseram que isso nunca tinha acontecido”.

Capacte mostra que em sua casa pouca coisa da sua cozinha escapou da lama.

Ouvindo outros moradores da região nossa reportagem foi informada que na mesma ocasião, em 2020, relatada pelos moradores da Rua Modesto Costa Guimarães a água entrou na fundição que é vizinha da casa dele ma Rua Carlos Penido Filho, mas que após a empresa construir um novo galpão acabou isolando o terreno dela, mas ninguém esperava que a água do loteamento escorreria toda para o fundo do terreno da sua residência, o que causou a inundação ontem.

A motoserra que Capacete diz nunca ter usado agora cheia de lama no motor.

Capacete disse que ontem estiveram em sua casa alguns representantes da Prefeitura e da Câmara Municipal, oferecendo ajuda material, a secretaria de Saúde enviou funcionários que entregaram medicamentos para prevenção de leptospirose. “Perguntaram se eu e minha família queríamos ir para um hotel, mas preferimos ficar em casa mesmo, e estou aqui há dois dias sem poder trabalhar lidando com toda esta sujeira, e o que mais me dói é que ninguém da empresa do loteamento até agora veio dizer o que vai ser feito. Tem muita areia e barro no meu quintal, é muito serviço para eu fazer sozinho, e até parece que para eles não aconteceu nada”, concluiu indignado o morador.

Nada escapou da destruição na casa do Willian Lanterneiro

 Na residência do Sr. Willian Aguiar da Costa, o Willian Lanterneiro, na Rua Modesto Costa Guimarães, a situação é muito mais grave, literalmente não há nenhum cômodo da casa que não tenha sido afetado, a água carregando, areia, lama e muita sujeira invadiu tudo destruindo móveis, utensílios domésticos, roupas, alimentos, remédios, documentos, automóvel e segundo Willian algumas coisas que não podem ser recuperadas ou recompradas, como as lembranças, as memórias e as recordações de dias de luta, dias de conquistas e de dias felizes. Seus dois filhos, como ele diz, “o menino e a menina, já formados que trabalham fora”, que não moram em Itaguara, estavam presentes ajudando os pais na limpeza e recuperação do que é possível.

O fusca de Willian que hoje mesmo já foi levado por amigos para manutenção e preservação do motor.

A esposa de Willian, era o símbolo da resiliência e da força, pacientemente dobrando com todo capricho as peças de roupa que já lavadas estavam secando ao sol para serem guardadas que não sabemos nem onde seria isso, mas ali estava ela fazendo seu serviço como supomos haver feito sempre.

Willian mostra a altura que a água chegou em sua casa

Willian e sua família estão alojados em um hotel pago pela Prefeitura de Itaguara, mas o prazo é por apenas uma semana, a esposa de Willian questionou sobre a possibilidade de aluguel social, mas foi informada que esta modalidade de auxílio não está prevista. Assim como Capacete, Willian também está impossibilitado de trabalhar.

Manilhas da suposta drenagem do loteamento Bairro dos Oliveiras da Incorpe

Após a implantação do loteamento Bairro dos Oliveiras, a retirada da cobertura vegetal do solo tornou a área mais suscetível a este tipo de ocorrência, pois sem a cobertura vegetal a tendência é que a água escorra com mais velocidade, diminuindo a absorção natural pela terra, levando consigo mais sedimentos que no caso do Bairro dos Oliveiras após serem coletados pela rede construída pela Incorpe seguem por um córrego que passa sob a BR-381, e assim como já aconteceu por duas vezes na MG-040 (Rua Arlete Souza de Moraes, Coelhos), a primeira no loteamento Mirante da Serra, quando os sedimentos levados pela enxurrada e até mesmo pelo sistema de drenagem entupiram a passagem sob aquela rodovia em 2018, um local onde não havia construções e havia espaço para represar a água que encontrava dificuldade em atravessar sob a pista não causando muitos transtornos, e a segunda vez poucos metros antes do primeiro entupimento causado pela enxurrada (sentido Itaguara/Crucilândia), desta vez na entrada do loteamento Bairro dos Rosas, a enxurrada carregando sujeira, areia e lama causou mais transtornos porque interrompeu totalmente a passagem pela via e invadiu a área externa de uma residência.

Por onde se caminhava só se via destruição

Nesta quinta-feira, como das outras vezes foram tragédias sem vítimas fatais, seguramente sequelas morais e materiais resultarão deste acontecimento devendo ser ressarcidas, mas suas consequências até o momento estão sendo suportadas pelas vítimas e pelo povo da cidade. A presença da Prefeitura trata-se de obrigação suportada pelos impostos pagos por todos, portanto não pode ser considerada nada além de dinheiro do povo ajudando ao povo, ficando sem resposta a pergunta sobre qual a participação da empresa na mitigação dos problemas causados pelas obras no loteamento de sua responsabilidade.

Geladeira boiando na casa de Willian Lanterneiro

Nossas suspeitas sobre o pouco empenho da empresa aumentaram quando ainda durante a entrevista na residência do Sr. Willian dois funcionários da empresa, apenas dois, com uma pá, uma enxada e um facão (literalmente estas ferramentas nesta quantidade) disseram ter estado no córrego e cortado algum capim que poderia interromper o fluxo da água sem mencionar em nenhum momento a passagem eventualmente assoreada sob a BR-381.

A situação dos móveis após a enchente

Portanto uma empresa contumaz em criar este tipo de situação mantém silêncio em negação a qualquer responsabilidade, talvez estimulada pela inércia ou cumplicidade da Prefeitura de Itaguara, que pelo menos publicamente, nunca mostrou quais providências e/ou sanções haviam sido adotadas, apesar de ter à sua disposição um dos departamentos de engenharia mais bem remunerados da região, revelando aí quem sabe um segundo mar de lama, que infelizmente água e sabão não é capaz de limpar.

Tempo segue instável na região

Após dias consecutivos de chuva, a Região Metropolitana de Belo Horizonte segue com condições instáveis para as próximas semanas. De acordo com o meteorologista do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), Claudemir de Azevedo, “de maneira geral, chove em BH e Região Metropolitana desde o dia 15 de dezembro de 2024” e a previsão não indica uma pausa das chuvas.

Ainda assim, nesta sexta-feira (10) e sábado (11), deve ocorrer uma redução no volume de chuvas, com precipitações principalmente na parte da tarde. “No domingo (12), as pancadas de chuva voltam a ganhar intensidade, menos no período da noite, e não há indicação de quando os dias devem voltar a ficar estáveis em BH e região”, afirma o especialista.

O meteorologista explica que essa redução no volume de chuvas nesta sexta e sábado se deve a diminuição de áreas de instabilidade sobre as regiões centrais de Minas Gerais. “Essas áreas de instabilidade ficarão mais concentradas no Norte do estado”. Essas zonas de instabilidade, no entanto, voltam a agir sobre a região central, mantendo as condições favoráveis para novas pancadas de chuva em BH e região a partir da próxima semana.

Na Região Metropolitana houve estragos em Ibirité, a chuva forte deixou a avenida Barbacena, no bairro Palmares, alagada, onde veículos que estavam no local ficaram praticamente submersos. Em Venda Nova a avenida Vilarinho chegou a ser bloqueada devido ao alagamento. No primeiro dia do ano, Belo Horizonte também registrou alagamentos em pontos diversos da cidade. Em Ribeirão das Neves foram ruas e casas alagadas nos bairros Vale das Acácias e Veneza. Além disso, em Contagem, a forte chuva alagou ruas no bairro Água Branca e a avenida Severino Balesteros Rodrigues, no bairro Guanabara.

Risco geológico

Devido à forte chuva que atinge a capital e demais cidades da Região Metropolitana nos últimos dias, muitas regiões estão sob alerta de risco geológico. A recomendação é que os moradores fiquem atentos ao grau de saturação do solo e sinais construtivos como rachaduras, além de tomarem cuidado com possíveis quedas de muros, deslizamentos e desabamentos.

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