Erika Hilton sob ataque: PEC 6×1 desafia lobbies e expõe transfobia no Congresso

Deputada é alvo de denúncias e críticas após protocolar proposta que reduz jornada de trabalho; aliados veem ofensiva articulada por setores conservadores e interesses econômicos

Deputada federal Erika Hilton (PSOL-SP) – Reprodução Wikipedia
Luciano Meira

A deputada federal Erika Hilton (PSOL-SP) tornou-se foco de intensos ataques políticos e denúncias após protocolar, em fevereiro, a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que propõe o fim da chamada escala 6×1 — seis dias de trabalho para um de descanso — e a redução da jornada semanal de 44 para 36 horas, com quatro dias de trabalho e três de descanso. A iniciativa, que já conta com amplo apoio popular e de parte da base governista, enfrenta forte resistência de setores empresariais e de parte do Congresso, que alegam aumento de custos e impactos econômicos negativos.Desde que a PEC ganhou visibilidade, Hilton passou a ser alvo de críticas e denúncias, incluindo uma representação protocolada pelo deputado estadual Guto Zacarias (União-SP) na Procuradoria Geral da República – PGR, que questiona o uso de verbas parlamentares para a contratação de maquiadores. A denúncia, baseada em reportagens que apontam o pagamento de dois profissionais com recursos públicos, levanta suspeitas de improbidade administrativa. O caso está sob apuração, e a deputada ainda não se manifestou oficialmente sobre o mérito das acusações.

Aliados da parlamentar e movimentos sociais apontam que a ofensiva contra Hilton ocorre em meio à tramitação da PEC, que contraria interesses de lobbies empresariais tradicionais no Congresso. A própria deputada reconheceu publicamente a existência de forte resistência à proposta: “Há lobby, há resistência, há setores que não querem que essa agenda ande porque são contrários à agenda do trabalhador brasileiro”, declarou Hilton ao protocolar o texto. O debate sobre a jornada de trabalho mobilizou sindicatos, entidades patronais e ganhou as redes sociais, dividindo opiniões e acirrando o embate político.

Além dos interesses econômicos contrariados, integrantes de movimentos progressistas e especialistas em direitos humanos destacam que Hilton, primeira parlamentar transgênero do Congresso Nacional, enfrenta ataques motivados também por sua identidade de gênero. Em entrevista recente, a deputada afirmou que pessoas trans são usadas como “bode expiatório” pela extrema-direita e que há uma tentativa de deslegitimar sua atuação política por preconceito. “Nós, pessoas trans, viramos o bode expiatório da direita no mundo, não só no Brasil. Somos taxadas como o terror social, familiar, moral”, disse Hilton.

O caso reacende o debate sobre transfobia no Brasil, onde atos discriminatórios contra pessoas trans são equiparados a crimes de injúria racial pelo Supremo Tribunal Federal. Para aliados da deputada, a ofensiva política e judicial contra Hilton revela uma combinação de resistência a pautas progressistas e preconceito estrutural, que se manifesta tanto em ataques pessoais quanto em tentativas de inviabilizar sua atuação parlamentar.

Enquanto a PEC 6×1 avança para discussão nas comissões da Câmara, a deputada segue no centro de uma disputa que extrapola o campo das ideias e evidencia os desafios enfrentados por parlamentares que desafiam interesses estabelecidos e padrões tradicionais de representação política no Brasil.

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