Fofocas e fuxicos de uma cidade do interior
Uma breve narrativa sobre Lili Chupetinha, que chegou com status de protagonista, e terminou como mera coadjuvante, cedendo o papel principal à velha dona Jajá.
Lili chupetinha apertou o passo, tinha de se arrumar para chegar mais cedo ao trabalho. Naquela noite o deputado federal, Osmar de Oliveira Neto daria o ar da graça na boate “Ninho da cobra”. Nome bem apropriado para um puteiro, sem sombra de dúvidas. Tratava-se de uma casa de shows de quinta categoria, que ficava às margens da BR 381 e muito bem administrada por Roberto Cabeleira. Na boate todos sabiam da mão aberta do deputado Netinho, como era chamado na intimidade da zona. Na hora de trepar, com ele não tinha miséria. Era champanha e vinho importado para quem quisesse. A zona inteira festejava bebendo à custa do deputado. Afinal, dinheiro para ele não era problema. Era dinheiro saqueado dos cofres públicos e tomado do pobre trabalhador assalariado. Mas não falemos de política e suas safadezas, pois o assunto em si é nauseante.
Quem ficava rindo à toa era Roberto Cabeleira, que nessas ocasiões via seu estoque de bebidas caras se esgotar. Nos demais dias da semana os frequentadores de sempre eram os cidadãos locais e motoristas de caminhão, que pechinchavam até as pererecas, se satisfazendo com copos de cachaças servidos até a risca. Noites como aquelas eram raras e Roberto Cabeleira fazia questão que o nobre deputado fosse tratado a pão de ló e se preciso fosse a zona seria até fechada, conforme a vontade do ilustre freguês.
Lili Chupetinha buscou o filho Manuel na escola e o arrastou para a casa de dona Jacira. A velha se dispusera a tomar conta do menino enquanto a rapariga ia exercer o ofício. Dona Jacira, outrora, também fez a vida na boate e lá ganhou o apelido de Jajá loba louca, devido aos ensaiados uivos na hora de dar o furico para os antigos fregueses. Fregueses muito fiéis por sinal, entre eles o doutor Baltazar de Morais e o padre Juarez Soares. Corria na cidade a fama de que os dois homens eram grandes apreciadores de traseiros. Não me cabe aqui discorrer sobre taras sexuais de ninguém. Afinal sou moça séria e nada sei sobre essas traquinagens.
Dona Jacira ao saber da vinda de Netinho à boate, ficou alvoroçada. Foi ela quem descabaçou o menino quando ele tinha apenas dezessete anos. Tomou Manuel pelo braço e sem demora correu para a cozinha. Iria preparar um delicioso bolo de fubá para o deputado.
Dona Jajá devia-lhe obrigação. Foi ele quem arranjou serviço para seu filho Tadeu quando este cismou de ir morar em Belo Horizonte. O que não passou de uma troca de favores, pois o peru do menino Marinho, como na época o deputado era conhecido, não subia de jeito nenhum. A pobre Jajá acostumada àqueles aperreios da vida noturna ficava horas naquela peleja. Como era bem requisitada, perdia vários fregueses na noite, mas nada do peru adormecido de Marinho acordar para vida. Doce tormento para as putas mais vividas.
A velha Jacira preparou um bolo de milho daqueles. Como o fubá estava em falta teve de substituí-lo por uma lata de milho verde com uma aparência um tanto quanto duvidosa, tal qual o supermercado onde foi comprado, que tinha má fama de vender mercadoria velha e bichada. Caprichou nas medidas. Ficou supimpa! Agora era só levar o agrado na boate e quem sabe, até ganhar umas gorjetas do deputado parrudo e bebedor de tequila.
Já na porta da boate fora recebida por Roberto Cabeleira que ao ver a velha com a oferenda na mão, foi logo a enxotando. Ficou ressentido desde que Jacira abandonou o puteiro virando dama direita. Como se puta não pudesse ser direita!
O que você quer, tribufu do caralho? Saia já daqui, pois tenho cliente ilustre e puta velha aqui não tem vez!
Mas dona Jacira não era de levar desaforo para casa e foi logo retrucando: Não sei se lembra, Roberto Cabeleira. Mas você já mamou muito nesses peitinhos muxibentos e se ficar com gracinhas, espalho para toda cidade que você não tem saco!
Roberto Cabeleira reconsiderou, afinal, a velha já lhe “serviu” muito de graça e hoje só viera trazer um agrado ao generoso deputado.
Depois que dona Jacira se amigou com um funcionário da prefeitura, tornou-se senhora distinta. Ia à missa todos os finais de semana e ajudava a rezar novenas de natal na casa das comadres. Mas diferente de outras prostitutas, jamais se esqueceu de suas raízes e fazia questão de ajudar as raparigas que faziam a vida na boate Ninho da Cobra. Onde ela chegou bem menina, aos treze anos, para exercer o árduo ofício de prostituta. Mas pra dizer a verdade, ela bem que gostava e foi ali que conheceu o seu futuro marido, Antônio Ferreira Cunha, motorista do caminhão de lixo da prefeitura daquela cidade.
Dando adeus as gorjetas do deputado, Dona Jacira entregou o vistoso bolo de milho a Roberto Cabeleira e foi-se embora. Não sem antes olhar saudosa para a moita de bambu que ficava nos fundos da boate. Quantas vezes naquele chão coberto por folhas secas ela fez amor com Jaiminho Batista. Hoje um rico e careca dono de casas de peças. Mas que naquela época não tinha dinheiro para pagar por nem uma rapidinha. E dona Jacira de bom coração ofertara-lhe a “preciosa” com muito gosto. Coisa do passado. Agora era senhora casada e ia ao terço toda semana. Saudades de um tempo bom que não volta mais. Jaiminho deixou marcas no coração da bondosa senhora.
O deputado ficou satisfeito em receber o bolo de milho enviado por dona Jacira e resolveu comê-lo por ali mesmo. Ficara por mais de meia hora se esforçando em cima de Lili chupetinha e nada conseguindo. Ainda bem que o apelido chupetinha não foi dado lhe à toa, pois cansada do peso do deputado, aplicou-lhe um boquete fenomenal, vindo a acabar com aquela agonia em cima dela. Sem falar que a cama rangia com o peso do deputado. Quase quebrando as finas ripas calejadas de tanto soca-soca.
Esfomeado, Netinho comeu o bolo em poucos pedaços, mal sabendo da má procedência do milho verde. E ao entrar no quarto para uma segunda bimbada, agora com Suzana bonequinha, foi atacado por uma fortíssima cólica. Achando que a dor ia passar logo, ele tirou a roupa e se deitou sem vergonha na cama, pedindo à menina que viesse lhe cavalgar. Não deu outra. A dor apertou de tal forma que Marinho, de um salto, atirou Suzana de cara no chão, onde ela veio a quebrar seu delicado narizinho de boneca.
Marinho cagando correu à procura de um banheiro. Só não contava que, como era uma zona de quinta, os quartos não tinham suítes, mas, alheio a esta informação, começou a invadir todos os recintos, à procura de um vaso onde pudesse aliviar a caganeira. Depois de minutos que pareceram horas, ele continuava a cagar pelas pernas abaixo e nada de encontrar um maldito banheiro. Os frequentadores da zona ficaram apavorados com o descontrole intestinal do nobre deputado e resolveram dá no pé. Foi saindo gente de tudo quanto é lado tentando escapar daquela carniça, homens se jogavam pelas janelas, quebrando-as em desespero, e putas peladas corriam BR à fora. Sem ao menos saber por que estavam fugindo.
Uma equipe de reportagem que passava na BR àquela hora indo cobrir uma explosão de banco na cidade vizinha. Estranhou o corre-corre na rodovia, e munidos de câmeras e microfones foram atrás do foco da notícia. A boate foi invadida por jornalistas e repórteres que “sem querer” filmaram o ilustre deputado pelado a enlamear a zona inteira. Sem contar que alguns caminhoneiros se sentindo preteridos naquela noite resolveram foder de vez com o deputado. Filmaram o pobre coitado, cagado e com as calças na mão e como se isso não bastasse, distribuíram as imagens via WhatsApp para todos os seus contatos. A coisa literalmente fedeu.
Roberto Cabeleira no centro daquela balbúrdia não sabia se ia atrás dos caloteiros que fugiam sem pagar o programa ou se auxiliava o deputado cagado. Mas, condoído com a visão das pernas enlameadas e o rosto desfigurado de Marinho, optou por conduzi-lo ao banheiro. Que se descobriu tarde demais ficar do lado de fora da boate.
Ao se deparar com o banheiro trancado, Marinho não se conteve e chutou a porta violentamente na tentativa de arrombá-la. Minutos depois a porta é aberta calmamente por Nelson Natalino dos Santos, vulgo “miss” Jane Kelly. E quem vinha logo atrás? Erotides de Freitas, delegado metido a machão e marido da vice-prefeita Margarete Ribeiro.
O povo daquela cidade que geralmente não tinha muito o que fazer, saiu de casa na alta madrugada para verificar o ocorrido àquela hora na zona. E o que teve de mulher flagrando marido, não foi brincadeira. Alguns maridos, inclusive, dados como certo em romaria a Aparecida do Norte.
Mas, por ironia do destino, justo aquela noite, tiveram a infelicidade de quererem experimentar as delícias da boate Ninho da Cobra antes de embarcarem em viagem religiosa.
Até o senhor padre Juarez? Estranharam as beatas ao se depararem com o idoso e ex-freguês de dona Jajá de batina e bengala em punho, saindo ofegante de um dos quartos do bordel.
Só vim rezar para estas pobres almas perdidas! Justificou o padre.
Alguns teriam acreditado, não fosse o padre se virar e as comadres virem a sua bunda branca, que na pressa de vestir a batina, não a ajeitou direito na parte de trás, deixando todo o traseiro de fora, já que ele não usava cueca quando ia rezar na zona. Gostava de adiantar o serviço para as meninas.
Aquela noite terminou em quebra pau. Pelo menos para os maridos pegos com as calças nas mãos.
A notícia da caganeira do deputado Osmar de Oliveira Neto foi parar naquela mesma madrugada nos noticiários locais e na cidade durante muito tempo não se falava outra coisa. E de bônus, ainda tinham a história do delegado machão que estava bolinando Nelsinho Natalino, ou “miss” Jane Kelly, como ela preferia ser chamada.
O deputado cagão, dias após este infortúnio, tentou se justificar em uma emissora de jornal local, informando a quem quisesse saber, que àquela hora tardia passava com a família pela BR 381, quando foi acometido por intensa dor de barriga, indo pedir arrego à boate do senhor Roberto Cabeleira. Que o honrado proprietário não se exaltasse pois ele arcaria com todas as despesas na reforma de seu estabelecimento. O resto era calúnia de gentinha oportunista e invejosa que queria denegrir a sua pessoa. Como se as imagens do deputado com as pernas cagadas que circularam à exaustão não falassem por si.
A pobre esposa do deputado, envergonhada, ficou ao lado do marido durante toda a entrevista fazendo cara de paisagem e com sorriso amarelo no rosto. Ainda bem que dali a pouco iria se esbaldar numa cama de motel com o motorista da família, o bem-dotado Tadeu Lima. Ele mesmo, o filho de dona Jajá!
O delegado machão foi exposto às chacotas na cidade, e na semana seguinte emitiu pomposa nota no jornaleco da prefeitura esclarecendo a polêmica a qual fora envolvido. Estivera na boate para averiguar o tráfico de drogas, conforme denúncia anônima. E o fato de ter sido pego em flagrante com a senhorita Jane Kelly, foi devido a um ato da revista malsucedido. O delegado sendo um homem de princípios, pediu à travesti que o acompanhasse ao “toilette” e retirasse a roupa para averiguar alguma droga escondida. Verdade ou não, ninguém acreditou mesmo e a partir daí descobriu-se a preferência sexual do delegado. Que de machão nada tinha, ficando conhecido como delegado Enrustido de Freitas. Fofocas de cidade do interior, coisa de comadres.
Depois deste ocorrido Roberto Cabeleira descobriu que bons clientes eram os caminhoneiros, excelentes negociadores de perereca e apreciadores de uma boa cachaça.
E quanto ao deputado Marinho que fique sabendo, apesar da pobreza do puteiro, a casa se preza pela limpeza e bons costumes. E que cagada dessas, a gente só vê no congresso nacional, onde prostitutas desfilam bolsas Luis Vuitom e senadores barrigudos usam ternos Armani, pagando horrores por um simples boquete. Mas afinal alguém tem de se dar bem. E que nunca se esqueçam: boquete não é chiclete. Tem que chupar com carinho!
A propósito, Roberto cabeleira, “o nobre proprietário da boate Ninho da Cobra”, segundo as melosas palavras usadas pelo deputado Marinho em entrevista coletiva, era careca! Ainda não se sabe a origem do apelido e quando eu souber escrevo outro conto. Agora, quanto ao fato dele não ter saco só perguntando à dona Jacira que esta semana viajou para Guarapari junto com o marido aposentado. Foram realizar o sonho de conhecer o mar.
Suzana bonequinha passou por uma cirurgia reconstrutiva no nariz. Aproveitou a estadia na clínica, colocou próteses de silicone e fechou o pacote com uma lipoescultura. O procedimento foi feito por famoso cirurgião, conhecido como “médico das estrelas”. A conta foi paga, é claro, pelo deputado, caso contrário, Suzana teria o ameaçado, a fornecer informações que o comprometiam à revista Veja. “Segredos de alcova”. Netinho não se fez de rogado e pagou a conta sorrindo, já que tinhas pretensões políticas e na próxima eleição lançaria sua candidatura a governador de Minas Gerais. Notícia fresca que acabou de chegar, o delegado Enrustido de Freitas pediu transferência para Pará de Minas. Por que será?