General confessa autoria de plano digitalizado para matar Lula, Moraes e Alckmin

Oficial que atuou no governo Bolsonaro confessa ter elaborado documento, mas afirma não ter compartilhado o material; PF considera plano detalhado e com características terroristas

General da reserva Mário Fernandes, ex-secretário-executivo da Secretaria-Geral da Presidência durante o governo de Jair Bolsonaro – Foto: Reprodução Redes Sociais
Luciano Meira

O general da reserva Mário Fernandes, ex-secretário-executivo da Secretaria-Geral da Presidência durante o governo de Jair Bolsonaro, confessou em depoimento ao Supremo Tribunal Federal (STF) ser o autor do chamado “Punhal Verde e Amarelo” — um plano digitalizado que detalhava estratégias para o assassinato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do vice-presidente Geraldo Alckmin e do ministro do STF Alexandre de Moraes. O militar, porém, insiste que se tratava apenas de um “pensamento pessoal” que nunca teria sido mostrado ou repassado a terceiros.

O que foi o “Punhal Verde e Amarelo”?

Segundo a Polícia Federal, o documento foi elaborado logo após o segundo turno das eleições de 2022, num contexto de efervescência e contestação dos resultados por parte de setores bolsonaristas. O plano previa o assassinato das principais lideranças do Executivo e do Judiciário como parte de uma tentativa de golpe de Estado. O material, descrito pela PF como tendo “características terroristas”, detalhava possíveis métodos, incluindo:

Uso de armas de fogo e armamento pesado (pistolas, fuzis, metralhadoras e até lança-granadas);

Emprego de artefatos explosivos e de agentes químicos para provocar colapso orgânico das vítimas;

Monitoramento contínuo das autoridades-alvo;

A criação de uma estrutura de “Gestão de Crise” para agir após eventuais execuções ou sequestros.

O documento foi impresso duas vezes no Palácio do Planalto, nos dias 9 de novembro e 6 de dezembro de 2022, conforme apontaram as investigações.

Depoimento e defesa do general

Durante interrogatório no STF, Fernandes, atualmente preso preventivamente, declarou que o documento era apenas uma “análise de riscos” redigida a título pessoal e digitalizada por hábito, com o objetivo de leitura fora das telas. Ele afirma ter impresso e depois rasgado o material, negando qualquer distribuição ou compartilhamento:

“Esse arquivo digital nada mais retrata do que um pensamento meu que foi digitalizado. Um compilado de dados, um estudo de situação, uma análise de riscos […] Não foi apresentado a ninguém ou compartilhado com ninguém. Hoje me arrependo de ter digitalizado isso”.

Sobre eventuais múltiplas impressões, culpou a configuração da impressora e reiterou não se recordar de ter feito mais cópias intencionalmente.

Mário Fernandes era considerado um dos militares próximos ao então presidente Jair Bolsonaro e, segundo investigações, teria atuado também no aconselhamento de estratégias políticas pós-eleições. O caso do “Punhal Verde e Amarelo” veio à tona por meio de delações de outros militares envolvidos na suposta trama golpista que buscava impedir a posse de Lula após sua vitória nas urnas.

Além de Fernandes, outros integrantes do chamado “núcleo 2” são investigados por monitoramento de autoridades, elaboração da chamada “minuta do golpe” e articulação de ações para paralisar o processo democrático.

O depoimento causou forte repercussão e agravou a crise política no entorno da oposição, reforçando a linha dura das investigações sobre as tentativas de golpe após as eleições de 2022. A expectativa nos meios jurídicos e políticos é pela continuidade das oitivas dos réus envolvidos, assim como a apresentação de novas denúncias pela Procuradoria-Geral da República.

A confissão, ainda que contenha tentativas de minimizar o alcance do plano, foi recebida como evidência concreta do envolvimento de setores das Forças Armadas em iniciativas anticonstitucionais para subverter o resultado eleitoral. O caso segue em análise no STF e pode resultar em desdobramentos legais de grande impacto.

O Metropolitano

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