Itagusa não será atingida pelo tarifaço de 50% que traz risco de colapso para setor de ferro-gusa em Minas Gerais

Siderúrgicas mineiras paralisam operações, exportações despencam e milhares de empregos estão ameaçados com a nova tarifa de importação norte-americana que entra em vigor em 1º de agosto

Arquivo RMC
Luciano Meira

Com a entrada em vigor do tarifaço de 50% imposto pelos Estados Unidos sobre produtos brasileiros em 1º de agosto, o setor de ferro-gusa de Minas Gerais enfrenta o momento mais crítico das últimas décadas. O impacto é direto: empresas já iniciaram paralisações, concederam férias coletivas a funcionários e preveem dificuldades sem precedentes para redirecionar o destino da produção voltada quase totalmente ao mercado norte-americano.Segundo o Sindicato da Indústria do Ferro em Minas Gerais (Sindifer), Minas Gerais produziu 3,8 milhões de toneladas de ferro-gusa em 2024, das quais cerca de 68% foram exportadas. Desse volume, 85% teve os Estados Unidos como destino—aproximadamente 3,3 milhões de toneladas no ano passado, que renderam em torno de US$ 1,15 bilhão em divisas para o estado. A cidade de Sete Lagoas, maior polo produtor do Brasil, respondeu sozinha por US$ 600 milhões desse total.

Sem depender de exportações e com produção direcionada ao mercado interno, a Siderúrgica Itagusa instalada na cidade Itaguara, Minas Gerais, não sofrerá os impactos diretos da eventual tarifa imposta pelos EUA. Segundo o gerente industrial Sr. João Paulo, o ritmo de produção segue o mesmo. “Estamos trabalhando normalmente, temos notícias de outras siderúrgicas que estão diminuindo a produção e até mesmo desligando equipamentos, mas no nosso caso, por enquanto nada mudou”, disse o gerente. A empresa produz 300 toneladas de ferro-gusa diariamente empregando mão de obra de mais de 90 funcionários.

A Itagusa pertence a um conglomerado produtor de ferro-gusa que conta com mais sete unidades instaladas em Itatiaiuçu, São Gonçalo do Pará, Divinópolis, Nova Serrana e três em Sete Lagoas. No total o conglomerado produz mais de 4.000 toneladas/dia de ferro-gusa.

Susto imediato e futuro incerto

O anúncio da tarifa adicional por parte do governo Trump já provoca efeitos práticos. Importadores americanos suspenderam embarques e romperam contratos, levando diversas usinas mineiras a interromperem produção e iniciar férias coletivas. A cadeia do setor — que inclui desde siderúrgicas até fornecedores de carvão vegetal e transporte — emprega diretamente 10 mil pessoas e mais de 60 mil indiretamente no estado. Estimativas apontam que, mantido o tarifaço, até 200 mil postos de trabalho podem desaparecer, causando retração de R$ 4,4 bilhões na renda das famílias mineiras. O choque pode significar um recuo de até R$ 21,5 bilhões no PIB estadual no longo prazo.

Dificuldade de redirecionamento

A dependência do mercado norte-americano é tamanha que, segundo o Sindifer, não há, no curto prazo, alternativas para escoar a produção afetada pela nova tarifa. Outros mercados, como Países Baixos, China, México e Taiwan, absorvem fração muito menor do ferro-gusa mineiro. Isso torna praticamente impossível realocar rapidamente os grandes volumes que deixarão de ser vendidos aos EUA.

Exportações e destinos

Produção mineira em 2024: 3,8 milhões de toneladas de ferro-gusa.

Exportações: cerca de 68–70% do total produzido.

Participação americana: 85% do ferro-gusa exportado de Minas Gerais vai para os Estados Unidos, principal destino disparado.

Outras rotas: Países Baixos (10% das exportações em 2024) e mercados menores na Ásia e Europa.

Cadeia em alerta e risco sistêmico

Mais do que exportações e empregos, a crise causada pelo tarifaço atinge também o segmento de silvicultura (produção de carvão vegetal), transporte e outros elos da cadeia siderúrgica. Economistas e o próprio Sindifer alertam para um impacto em cascata que pode chegar à construção civil, indústria automotiva e serviços relacionados se a tarifa não for negociada ou revertida rapidamente. O setor pressiona as autoridades brasileiras por solução diplomática, temendo que a retaliação leve a uma guerra tarifária de resultados ainda mais danosos para a economia mineira e nacional.

O Metropolitano

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