Justiça manda Deltan Dallagnol pagar R$ 135 mil a Lula por caso do PowerPoint

Ex-procurador da Lava Jato coleciona derrotas emblemáticas, com cassação, condenações e atos anulados, tornando-se personagem exemplar de um fracasso autoral

O condenado Deltan Dallagnol
Luciano Meira

Se o leitor buscava redenção ou heroísmo, é melhor parar por aqui: a narrativa de Deltan Dallagnol, ex-procurador da força-tarefa da Lava Jato em Curitiba, tornou-se um manual prático do desastre institucional. Responsável por um dos espetáculos mais megalomaníacos da justiça recente, com direito a apresentações em PowerPoint e acusações exuberantes contra alvos políticos, Dallagnol conseguiu, com inigualável talento, transformar glória midiática em vexame judicial.

À frente da Operação Lava Jato, Dallagnol não hesitava em vestir a capa de combatente da corrupção, ignorando os limites institucionais e, como atestaram tribunais superiores, antecipando juízos de culpa e promovendo linchamentos morais muito antes que o Código Penal conhecesse o verbo “julgar”. Seu maior feito midiático — uma coletiva de imprensa em 2016 com o ex-presidente Lula estampado como “grande general” do esquema na Petrobras — rendeu-lhe recentemente uma condenação por danos morais: terá de pagar R$135 mil ao presidente por extrapolar em sua sanha acusatória, segundo o entendimento do Judiciário.A farra acabou mal. Não só suas ações à frente da Lava Jato foram anuladas por “irregularidades” diversas, como sua tentativa de reinventar-se na política terminou em novo fiasco. Em 2023, Dallagnol experimentou o sabor amargo da cassação: o Tribunal Superior Eleitoral considerou sua candidatura a deputado federal um arranjo para burlar a Lei da Ficha Limpa. O então aspirante a político pediu exoneração do Ministério Público quando havia nada menos que 15 procedimentos administrativos em seu desfavor. O TSE foi taxativo: a manobra visava evitar a inelegibilidade que viria de uma eventual demissão — não à toa foi chamado de “fraude à lei” nos autos.

O enredo não para por aí: contas rejeitadas pelo Tribunal de Contas da União, punições por censura e suspensão, e uma trajetória galonada por processos que escancararam seu método pouco ortodoxo de operação. Quando não anuladas por questões processuais, as condenações se acumulam como medalhas invertidas em sua biografia.

O personagem que um dia se vendeu como caçador implacável da corrupção termina hoje na incômoda posição de condenado, cassado, e, para desgosto de qualquer manual de integridade funcional, réu exemplar de tudo o que dizia combater. Resta a Dallagnol o consolo da martirização mal ensaiada nas redes, onde mistura o heroísmo de fancaria com declarações de que faria tudo “mil vezes” — estratégia duvidosa para quem já perdeu até mesmo o direito de se escorar no próprio cargo.

Ao transformar acusações em show, Dallagnol deu ao país uma lição valiosa: a de que o espetáculo punitivo, no fim, cobra ingressos bem mais altos ao protagonista do que à plateia.

O Metropolitano

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