Luciana Sagioro conta sua história de exercícios e estudos até se tornar um dos principais nomes da sua geração na dança
Da redação
Luciana Sagioro, de 18 anos, mineira de Juiz de Fora, vive a rotina dos sonhos de muitos jovens e adultos que tentam uma carreira na dança. Barra, centro, saltos, giros e repete. Muitos e muitos ensaios. À noite, dançar para milhares de pessoas no palco da Ópera Garnier, a casa das bailarinas da Ópera de Paris, uma das companhias de balé mais tradicionais e conceituadas do mundo.
No último Festival de Dança de Joinville, em Santa Catarina, a jovem ministrou aulas, cujas inscrições se esgotaram em poucos dias, posou para fotos com milhares de dançarinos e teve seu rosto estampado em várias campanhas publicitárias. No ano anterior, ela ganhou o posto de melhor bailarina do festival e, junto com ele, uma legião de fãs que a elegeram a maior inspiração da geração no balé brasileiro.
Desde o início do ano, Luciana fechou contrato com a Ópera de Paris para dançar até sua aposentadoria. Ela foi a primeira e, até agora, única brasileira no corpo de baile. Antes disso, passou um ano como estudante da escola de balé da Ópera, na qual entrou após garantir o terceiro lugar no Prix de Lausanne, “as Olimpíadas do balé”, como é conhecida a competição que reúne bailarinos do mundo inteiro.
Início e trajetória
Assim como muitas crianças, Luciana entrou nas aulas de balé cedo, matriculada pela mãe. Depois de alguns anos, no entanto, já estava apaixonada e certa de que queria ser uma bailarina profissional.
Por volta dos seis anos de idade, pesquisando sobre o balé, ela encontrou Mayara Magri e resolveu que ia seguir todos os passos da carioca. O primeiro passo era estudar na Petite Danse, no Rio de Janeiro, escola dirigida por Nelma Darzi, com a professora Patrícia Salgado, ex-bailarina do Stuttgart Ballet.
Os pais concordaram em mandá-la para o Rio duas vezes por semana. Depois de um ano de pequenas viagens semanais, a escola pediu para que Luciana passasse a treinar todos os dias, para aprimorar mais suas técnicas. Durante seis anos, Luciana treinou diariamente na Petite Danse e participou de muitas competições nacionais e algumas internacionais.
Aos 15 anos, a estudante foi selecionada para o Prix de Lausanne, as “Olimpíadas do balé”. A competição acontece em Lausanne, na Suíça, e reúne cerca de 90 jovens de 15 a 18 anos, vindos de 18 países, que disputam bolsas de estudo nas maiores escolas de dança do mundo, apresentando uma coreografia clássica e uma contemporânea. Garantindo o terceiro lugar, ela pôde escolher entre todas as maiores opções: o Royal Academy, de Londres, Bolshoi e Vaganova, da Rússia, Joffrey Ballet, em Nova York, e Ópera de Paris, a sua escolhida.
Já no último ano, mais dois brasileiros foram selecionados para a mesma escola, seguindo os passos da pioneira.
Depois de um ano sendo aluna da escola, Luciana enfrentou um concurso para se tornar parte do corpo de baile —como se chamam as bailarinas que dançam em conjunto e ainda não são solistas— da companhia. Entre mais de 400 candidatas do mundo inteiro, mais uma vez, a mineira foi selecionada “de primeira”, ao lado de somente mais uma concorrente.
Luciana diz que a desvalorização da arte no país desestimula muitas potenciais dançarinas, e isso se intensifica pela competitividade entre aquelas que lutam por uma oportunidade. Ela conta que viveu situações que parecem saídas de filmes: seu figurino foi cortado, uma agulha foi colocada em sua sapatilha e ela foi excluída dos grupos de amigos na escola. Somente na França encontrou amizades verdadeiras no mundo da dança.
Aos 18 anos e empregada até a aposentadoria, a certeza dela é uma raridade entre tantos jovens que não encontraram ainda uma carreira pela qual são apaixonados.
Atualmente, além da carreira no balé, Luciana faz trabalhos de publicidade para marcas de dança e de moda. Sua mãe, jornalista, passou a trabalhar como sua empresária e assessora. Ela faz questão de enfatizar o apoio dela, do pai e das irmãs em toda a sua carreira.