Na entrega de obras de contenção de enchentes, seria uma “medida sanitária” a prefeita de Contagem manter distância dos “ratos da política”
Obras de contenção da Bacia do Arrudas foram entregues e suspeita de constrangimento marcam evento

Luciano Meira
A Prefeitura de Contagem concluiu a implantação da bacia de contenção B3, que tem capacidade para armazenar quase 103 milhões de litros de água, reduzindo os riscos de enchentes históricas nos córregos Ferrugem e Ribeirão Arrudas, especialmente na avenida Tereza Cristina.
Essa obra recebeu investimentos de R$28,2 milhões, recursos provenientes do Termo de Reparação da tragédia de Brumadinho repassados pelo Governo do Estado, além de aporte adicional da Prefeitura. A estrutura inclui dique reservatório, drenagem, contenções, galerias, iluminação, pavimentação, paisagismo e áreas de convivência, unindo infraestrutura hidráulica e valorização ambiental.
Além da entrega das obras de contenção da Bacia do Arrudas em Contagem, o evento oficial nesta segunda-feira (18) ficou marcado por uma crise política local. A prefeita Marília Campos (PT) decidiu se afastar da cerimônia e da coletiva de imprensa após denúncias de que o protocolo montado para a solenidade pelo cerimonial do governador teria dificultado sua participação nas filmagens oficiais ao lado do governador Romeu Zema (Novo) — que se lançou pré-candidato à Presidência da República, acompanhado do vice-governador e pré-candidato ao governo mineiro, Mateus Simões.
Zema, que enfrenta risco de extinção do Novo — seu partido pode não alcançar a cláusula de desempenho nas eleições de 2026, o que exige mínimo de votos para manter o registro e recursos — buscava dar visibilidade política ao ato, em um momento no qual as pesquisas eleitorais ainda o colocam atrás dos concorrentes presidenciais, enquanto seu vice parece ser ignorado nas pesquisas pelos eleitores para o governo de Minas.
O projeto das obras na Bacia do Arrudas, essencial para reduzir enchentes e transtornos históricos em Contagem e região metropolitana de Belo Horizonte, sofria com entregas parciais e atrasos recorrentes. Apenas parte da contenção foi finalizada, enquanto outras etapas importantes seguem pendentes, gerando críticas da população e do poder local.
Na cerimônia, houve clima tenso. Fontes revelam que a estratégia do cerimonial do governador teria sido organizada para privilegiar a presença e protagonismo de Zema e Simões, dificultando a exposição da prefeita durante as filmagens oficiais. Sentindo-se constrangida e excluída, Marília Campos optou por se afastar do local na hora da coletiva.
Nas redes sociais, a prefeita evitou polemizar, mas a expressão “ratos da política” — usada pelos filhos do ex-presidente Jair Bolsonaro para criticar o grupo político liderado por Zema em meio às disputas eleitorais — reforçou a narrativa de adversários e apoiadores que elogiaram a decisão de Marília Campos de se afastar do evento. “Bem fez a prefeita em se colocar longe”, comentaram apoiadores da prefeita.
Especialistas políticos observam que o episódio traduz a polarização e a disputa de poder dentro do cenário eleitoral mineiro, onde alianças e rivalidades vêm influenciando até mesmo eventos públicos de interesse coletivo. Para a população, entretanto, a prioridade segue sendo a conclusão das obras, prometida há anos e ainda insuficiente para garantir proteção completa contra enchentes que afetam milhares de moradores.