Papa reconhece virtudes heroicas de João Luiz Pozzobon
Vaticano decreta João Luiz Pozzobon venerável. Diácono morto em 1985 pode se tornar o 1º santo gaúcho

Da redação
Na manhã desta sexta-feira, dia 20 de junho de 2025, o Santo Padre, o Papa Leão XIV, autorizou a promulgação do Decreto que reconhece as virtudes heroicas do Servo de Deus Diácono João Luiz Pozzobon, pertencente à Arquidiocese de Santa Maria (RS), membro do Movimento Apostólico de Schoenstatt e iniciador da Campanha da Mãe Peregrina.
“Com essa promulgação, a Igreja declara João Luiz Pozzobon Venerável, reconhecendo oficialmente que viveu de modo exemplar as virtudes cristãs em grau heroico. Trata-se de um passo significativo no caminho de sua causa de beatificação e canonização”, informa o comunicado oficial publicado pela Arquidiocese de Santa Maria em conjunto com a Presidência do Movimento Apostólico de Schoenstatt.
Na prática, o decreto reconhece as virtudes heroicas do Servo de Deus, ou seja, é um atestado oficial do Vaticano de que essa pessoa não apenas foi boa, mas que viveu as virtudes como fé, caridade, esperança, justiça, prudência de forma heroica, mesmo à custa de grandes sacrifícios.Em paralelo, o exame do presumível milagre realizado por Deus por intercessão de João Pozzobon já está sendo examinado pelos peritos e pelos cardeais responsáveis pelas causas dos santos. O fato, ocorrido no território da Arquidiocese de Santa Maria, já passou pelo escrutínio de peritos locais. O processo foi concluído pela Arquidiocese, foi enviado para Roma e aberto para análise em fevereiro deste ano.
Quando o milagre for aprovado, se for o caso, o Venerável Diácono João Luiz Pozzobon poderá ter sua beatificação agendada. Esta será uma cerimônia realizada na Arquidiocese de Santa Maria.
Celebração do aniversário de morte mobiliza devotos ao redor do mundo
O decreto de Venerável encontra os devotos de João Pozzobon mobilizados em oração, pela novena que antecede seu aniversário de 40 anos de falecimento, a ser celebrado em 27 de junho. Eventos presenciais e momentos de oração on-line estão sendo realizados em Santa Maria e em outras cidades e países.
Quem foi João Luiz Pozzobon?
Neto de imigrantes italianos, João Luiz Pozzobon nasceu em 1904, na localidade de Ribeirão, atual município de São João do Polêsine, região central do Rio Grande do Sul. A família vivia da agricultura familiar e cultivava a piedade católica típica dos “colonos” italianos no interior do Rio Grande do Sul, com a reza do terço, assiduidade nos Sacramentos e o voluntariado nas obras da Igreja.
Aos 23 anos, Pozzobon casou-se com Theresa, com quem teve dois filhos, passando a morar em Restinga Seca, onde os dois abriram um pequeno hotel. Poucos anos após o casamento, Theresa desenvolveu tuberculose, e para facilitar o tratamento, a família mudou-se para Santa Maria, onde Pozzobon abriu um pequeno comércio em uma região próxima à linha férrea.
Em Santa Maria
Theresa não resistiu à doença, e faleceu em 1933. Tendo dois filhos pequenos, João Pozzobon casou-se com Vitória, que tornou-se uma boa mãe para as crianças e para os cinco filhos que vieram nos anos seguintes. João Pozzobon se referia aos filhos como “minhas sete graças”, e é lembrado até hoje pelos familiares como um pai bom, amoroso e justo, que nunca descuidou de sua família.
Em Santa Maria, o Sr. João vinculou-se à Paróquia Nossa Senhora das Dores, onde morava, continuando os costumes religiosos que trouxe de berço. Conheceu o Santuário de Schoenstatt e sua espiritualidade mariana, passando a participar de retiros e encontros de formação, e da missa diária às 6h30min. O vínculo criado com o Santuário foi imediato e passou a dar um sentido para a vida de João, que testemunhou:
“Eu tinha 12 anos e sentia uma espécie de saudade, que não conseguia saciar. Em nossa terra havia uma colina, uma terra um pouco elevada, e eu olhava o horizonte, ali onde o céu parece tocar a terra, e parecia-me que, desse modo, preenchia o vazio que sentia… Essa saudade durou uns 36 anos…” A sua saudade foi saciada ao conhecer o Santuário e ouvir o chamado de Deus para a campanha que iniciou.
Dia 10 de setembro de 1950, ano em que a Igreja proclama o dogma da Assunção de Maria ao céu, ele recebe da Irmã Terezinha Gobbo a Imagem da Mãe, Rainha e Vencedora Três Vezes Admirável de Schoenstatt, após acompanhar uma visita a uma família. Ela o convidou a assumir a tarefa por alguns meses.
Ele afirma: “No Santuário da Mãe e Rainha aconteceu minha grande descoberta. A bondade e a misericórdia de Deus e da Virgem Mãe e Rainha me confiaram uma grandiosa missão evangelizadora: a Campanha do Santo Terço. Entendi a missão e, por ela, fiz minha entrega total”.
Como começou a Campanha da Mãe Peregrina?
A imagem que recebeu das irmãs em 1950 havia sido pensada para visitar as famílias em preparação à proclamação do Dogma da Assunção de Maria. Porém, findada a tarefa, o Sr. João pede para continuar com a imagem. Assim, deu seguimento e ampliou cada vez mais o campo de atuação.
Primeiro, levava a imagem a cada noite em uma família da vizinhança, rezava o terço, conversava sobre a vida de fé das pessoas, estimulando que fossem à Missa, contribuíssem com sua paróquia e buscassem os sacramentos. Com o tempo, suas caminhadas passaram a incluir escolas, hospitais, presídios e empresas; e também aumentaram as distâncias percorridas. João levou a Peregrina para localidades no interior, na região da Quarta Colônia, onde havia nascido, e mais além. Conforme registrou em seu diário, percorreu a pé cerca de 140 mil quilômetros ao longo dos 35 anos de caminhadas com a Mãe e Rainha sobre o ombro direito.
Seguindo a inspiração da Providência, criou o que hoje conhecemos como a Campanha da Mãe Peregrina. Encomendou a fabricação de imagens de Nossa Senhora em tamanho menor, mas com o mesmo formato daquela que ele carregava. Essas deveriam passar de casa em casa, servindo de elo de união entre as famílias de um mesmo bairro. Os anos foram passando e este apostolado cresceu cada vez mais. Está em quase 100 países, contando cerca de 200 mil imagens que circulam entre os grupos de 30 famílias.
A cada ano, o Sr. João entregava um relatório de suas atividades para o seu pároco e para o bispo, relatando o que observava, as comunidades visitadas e o trabalho desempenhado. De cada encontro, não saía sem pedir de joelhos a bênção da autoridade eclesial, e dedicava orações e sacrifícios pelos sacerdotes. Além disso, em suas viagens, sempre que chegava a uma nova comunidade, ia diretamente ao padre responsável pelo local humildemente pedir permissão para visitar as famílias e fazer seu apostolado.
Em seu trabalho de evangelização e visitas às famílias, tinha contato com a pobreza e as necessidades materiais e espirituais dos irmãos. Isso o motivou a criar a Vila Nobre da Caridade.
Com a ajuda de benfeitores, construiu 14 casas e uma capela, a capelinha azul, que servia também de escola e centro comunitário. As casas eram para moradia gratuita de pessoas pobres, que também recebiam educação para o trabalho e orientações práticas, como fazer hortas, reparos e melhorias nas casas.
Outras duas capelas – a rosa e a branca – e uma escola também foram construídas em outras vilas pobres da cidade com o apoio da comunidade. Tudo sem descuidar da formação ética e espiritual, garantindo a dignidade de cada um. Na zona rural dos municípios vizinhos, João estabeleceu mais de 40 ermidas, como locais de reunião e oração para as famílias que moravam longe das capelas, formando pequenas comunidades.
Um diácono comprovado no amor
Em 30 de dezembro de 1972, ele é ordenado Diácono Permanente da Igreja, pela imposição das mãos de Dom Érico Ferrari, na Capela Nossa Senhora das Graças em Santa Maria. Assim, poderia ampliar seu trabalho, pois muitas vezes visitava famílias que ainda não tinham acesso aos sacramentos como batismo e matrimônio. Como Diácono, passou a celebrar batismos e matrimônios e a levar a Eucaristia para os doentes, contribuindo diretamente com a missão da Igreja, em comunhão com o bispo, na Diocese de Santa Maria.
Ele testemunha sobre este chamado: “Minha ordenação foi como uma flor que se abriu, uma grande alegria que se estendeu a todos os amigos. Senti-me penetrado, totalmente, pelo espírito da Santa Igreja. Senti a união como um só coração. Foi um verdadeiro Cenáculo, junto com a Mãe e Rainha. A hora do Espírito Santo”.
Sente-se também unido ao Fundador da Obra de Schoenstatt, Padre José Kentenich, do qual se considera um aluninho e com quem se encontrou em 1952. Após 35 anos de total dedicação à Campanha da Mãe Peregrina de Schoenstatt, falece no dia 27 de junho de 1985. A caminho do Santuário, ao atravessar uma avenida, devido a um forte nevoeiro, é atropelado por um caminhão.
Assim ele faz a sua última romaria, realizando suas palavras:
“Se um dia me encontrarem morto no caminho, saibam que eu morri de alegria!”
O Diácono João Luiz Pozzobon buscou responder o chamado a santidade em sua vida também pela dedicação à Campanha da Mãe Peregrina, um apostolado desenvolvido na Arquidiocese de Santa Maria que se espalhou pelo mundo. Seu processo de beatificação foi aberto em Santa Maria/RS em 12 de dezembro de 1994, por Dom Ivo Lorscheiter.
Testemunho do bispo e do pároco
Seu Bispo Diocesano, Dom Ivo Lorscheiter, escreve ao Diácono João, após receber um relatório de suas atividades: “Vejo, não sem emoção, que seu trabalho apostólico nas vilas e bairros, está chegando às Bodas de Prata… sua oração diária é um verdadeiro louvor em nossa Igreja diocesana, e seu trabalho pastoral é digno de nossa comovida homenagem”.
Na homilia da Santa Missa de corpo presente, seu pároco testemunha: “João cultivava uma estreita vinculação com a própria paróquia; com frequência estava na casa paroquial, trazendo seus programas para serem aprovados. Nunca deixava o escritório sem pôr-se de joelhos e suplicar a bênção, dizendo: ‘Vou com sua bênção, Padre!’”
Fonte: Assessoria de Imprensa da Secretaria Pastoral João Luiz Pozzobon