Preta

Reprodução Redes Sociais

“Devo falar de mim?”

“De quem se fala, quando se fala de mim?”

Com essas frases, meu personagem numa peça de teatro começava o espetáculo.

Não resisti a escrever sobre Preta. Mas por que sobre Preta?

De quem se fala, quando se fala de Preta Gil?

Por vezes escrevo sobre gente má e seus feitos maléficos.

Por que não mudar o disco e saudar quem é do bem, quem é do amor?

Por isso, Preta Gil.

Muito, muito além de ser filha de Gilberto, Preta chamou para si sua própria assinatura na vida.

O Bloco é da Preta.

O que me motivou a escrever foi sua força, sua gargalhada, sua irreverência, seu deboche.

Poderia ser mais uma a ficar “só no suco”.

Mas a filha de Gil foi além.

Botou a boca no trombone. Botou também a boca na cuíca e fez história.

Sua morte poderia ser vista como mais um adeus a um famoso.

Aquela comoção coletiva, muito própria do brasileiro.

E depois, tchau.

Mas Preta mergulhou fundo.

Não foi mulher de ficar na superfície.

Por isso, seguimos com ela, escrevendo e vibrando com essa mulher!

Preta, com seus guias e Orixás, revirou até o fundo do mar.

Subiu feito fogos de artifício e explodiu em luzes coloridas.

E deu passos decididos, firmes, convictos, autênticos — e bancou meio mundo.

Tudo em nome do amor.

Braba, viu?

Tenho vários motivos para escrever para essa jovem de 50 anos que fez de seu encanto, seu canto.

Ontem partiu.

Tornou-se Preta Gil a encantada.

Pra mim, sua luta contra o câncer, sua paixão pela vida, é o legado.

Assim como Celine Dion.

É fácil se emocionar com elas, duas gigantes em seus campos de batalha — mas sem armas, senhores.

Na fé. Na poesia. No sorriso. No trabalho diário. Resiliente.

“Preta, Preta, Pretinha…”

#PretaPresente

Sempre é dia de aprender. Aprendendo, sempre é dia de transformar, mudar, acordar.

Sempre é dia de refazer ou iniciar uma nova história — na força, na raça, na conexão com o sagrado.

“…eu vejo ascender de novo aquela chama.”

Preta é nossa, toda brasileira.

Bota pressão aí nos céus, Pretinha.

Continue sua militância, estamos carentes, precisando de seu axé.

Boa viagem. Feliz retorno.

Camilo Lélis

Ator, itaguarense, com formação concluída no Centro de Formação Artística da Fundação Clóvis Salgado/Palácio das Artes, em Belo Horizonte. Transita pela atuação, escrita e direção cênica. Atuou em diversos espetáculos, com experiência também no cinema e na TV. @camilo.lelis.oficial
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