Primeiro caso de Gripe Aviária em granja comercial é confirmado no Rio Grande do Sul

Luciano Meira
O Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) confirmou a detecção do vírus da influenza aviária de alta patogenicidade (IAAP) em uma granja de aves comerciais no município de Montenegro, no Vale do Caí, Rio Grande do Sul. Este é o primeiro foco de IAAP encontrado em um sistema de avicultura comercial no Brasil. Em resposta, foi decretado estado de emergência zoossanitária por 60 dias na área afetada.
A propriedade infectada é destinada à criação de galinhas matrizes, utilizadas para a produção de ovos férteis comercializados para desenvolver animais de corte. Cerca de 17 mil animais estavam divididos em dois galpões na granja. Em um dos espaços, 100% das galinhas morreram, enquanto no segundo galpão a mortalidade foi de 80%. As aves remanescentes foram sacrificadas.As autoridades estão rastreando os ovos que saíram da granja foco para que possam ser eliminados. Esses produtos já foram movimentados dentro e fora do Rio Grande do Sul.
As medidas previstas no plano nacional de contingência foram rapidamente iniciadas para conter a doença, garantir a segurança alimentar e evitar impactos na produção. A Secretaria Estadual da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação (Seapi) detalhou as ações em andamento: isolamento da área em Montenegro, eliminação das aves restantes para saneamento da granja e investigação complementar em um raio inicial de 10 quilômetros da área do foco, além de possíveis vínculos com outras propriedades. O nome e a localização exata da propriedade não estão sendo divulgados.
Autoridades do Mapa e da Seapi, juntamente com representantes da Secretaria Estadual da Saúde (SES), Fundesa e Asgav, detalharam o caso em coletiva de imprensa em Porto Alegre. Eles destacaram que as entidades se preparavam para essa possibilidade desde 2006, quando a doença começou a circular com mais força no mundo. Experiências passadas com doenças como a Newcastle em Anta Gorda serviram de aprendizado para o enfrentamento atual. Sabiam que o mês de maio era um período de risco devido ao movimento de aves migratórias nesta época do ano.
Além do caso em Montenegro, a contaminação por influenza aviária também foi confirmada em aves silvestres no Zoológico de Sapucaia do Sul. O surto vitimou 90 das 500 aves aquáticas do local, principalmente cisnes e patos. O zoológico foi fechado para visitações, e a área destinada às aves isolada. Contudo, casos em aves silvestres são considerados mais esperados, pois o vírus circula nas Américas e globalmente.
O Ministério da Agricultura e Pecuária alerta que a doença não é transmitida pelo consumo de carne de aves nem de ovos. A população pode consumir produtos inspecionados com tranquilidade. O risco de infecções em humanos pelo vírus da gripe aviária é baixo e ocorre principalmente entre tratadores ou profissionais com contato intenso com aves infectadas (vivas ou mortas).
A detecção deste foco tem um impacto financeiro significativo para o Brasil e o Rio Grande do Sul, o terceiro maior exportador de carne de frango do país. A venda do produto brasileiro para a China foi suspensa por 60 dias, conforme previsto no protocolo de exportação entre os países. Embora a China suspenda a importação do país inteiro, outras nações podem restringir as compras apenas do Estado onde o foco foi encontrado. Cálculos para dimensionar o problema ainda estão sendo feitos.
O vírus da influenza H5N1, um subtipo da Influenza Aviária de Alta Patogenicidade (IAAP), atinge predominantemente aves. A IAAP se caracteriza por alta e súbita taxa de mortalidade, ou doença severa com depressão intensa, sinais respiratórios e neurológicos, cianose e necrose na crista e barbela, além de queda na postura e produção de ovos deformados. No exame após a morte, podem ser verificados edemas, congestão, hemorragias e necrose em órgãos internos e pele.
O Serviço Veterinário brasileiro tem sido treinado e equipado para o enfrentamento da doença desde a primeira década dos anos 2000. Medidas preventivas incluem monitoramento de aves silvestres, vigilância epidemiológica na avicultura comercial e de subsistência, treinamento de técnicos e vigilância nos pontos de entrada no Brasil. Essas ações foram cruciais para postergar a entrada da enfermidade na avicultura comercial por quase 20 anos.
A Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) e a Associação Gaúcha de Avicultura (ASGAV) ressaltaram a transparência das autoridades na identificação e contenção da situação, que consideram pontual. As entidades estão apoiando o Mapa e a Seapi e confiam na rapidez das tratativas para solucionar quaisquer efeitos decorrentes da situação. Elas reforçam que a ocorrência não representa risco ao consumidor final.
A granja afetada produz “matrizes” que geram ovos férteis usados para desenvolver aves de corte (frangos para abate). A eliminação dessas aves e ovos impacta diretamente a cadeia de produção de carne de frango, uma vez que afeta a reposição do plantel de aves. Embora as fontes mencionem o avanço do vírus H5N1 em outros animais nas Américas, incluindo gado leiteiro nos Estados Unidos, e o impacto econômico das exportações, elas não estabelecem uma conexão direta entre a situação nos Estados Unidos e o aumento do preço do ovo no Brasil. A relevância da granja de matrizes reside em seu papel fundamental para a produção de frangos de corte no próprio país, como detalhado nas fontes.
Devido a importância da avicultura para o agronegócio mineiro, entramos e contato com o IMA, mas até a publicação desta matéria ainda não havia uma resposta. Caso o IMA se manifeste atualizaremos a matéria.