Produtoras mineiras de ferro-gusa preparam retomada de contratos com EUA e mercado ensaia normalização
Após não aplicação do tarifaço, empresas vislumbram reabertura de operações, restauração de vendas e estabilidade no setor

Luciano Meira
A indústria de ferro-gusa em Minas Gerais, duramente ameaçada pela perspectiva de um tarifaço de 50% nas exportações para os Estados Unidos, já se movimenta para restabelecer contratos e normalizar o fluxo comercial. As usinas, que chegaram a paralisar fornos, suspender entregas e conceder férias coletivas em antecipação à medida, agora acompanham sinais de que o mercado voltará a operar nos moldes anteriores, reforçando a dependência das vendas para o mercado americano.Minas Gerais responde por cerca de 70% das exportações brasileiras de ferro-gusa, com 85% do volume destinado aos EUA — mercado vital para polos industriais como Sete Lagoas. Em 2024, as receitas das vendas externas mineiras chegaram a US$1,15 bilhão, e, somente no primeiro semestre de 2025, 90% das exportações tiveram como destino portos norte-americanos, indicando a centralidade desses contratos para o setor. Diante da ameaça da tarifa extra, empresas como Fergubel interromperam operações, enquanto representantes da categoria alertavam para o risco de demissões em massa e inviabilidade financeira caso as sobretaxas fossem mantidas.
Com o recuo do governo norte americano, siderúrgicas mineiras começam a renegociar contratos com parceiros dos EUA e a replanejar embarques, buscando rapidamente retomar atividades e readmitir trabalhadores. “O setor exportador acompanha de perto as tratativas e espera a normalização do comércio com os Estados Unidos, principal destino do nosso ferro-gusa”, afirmou o Sindifer, sindicato da categoria, ao relatar o contato frequente com clientes no exterior.
A expectativa generalizada é de que, confirmada a manutenção das condições pré-tarifa, o ambiente de negócios volte à normalidade nas próximas semanas, devolvendo previsibilidade e confiança ao setor e à cadeia produtiva local. Empresários estimam que, boa parte dos empregos e do dinamismo econômico associados ao polo de ferro-gusa em Minas Gerais serão preservados.
O episódio, no entanto, deixou lições: a dependência quase absoluta do mercado americano evidencia a vulnerabilidade do setor diante de eventuais mudanças unilaterais da política comercial dos EUA. Especialistas defendem maior diversificação de mercados e articulação institucional para proteger a siderurgia mineira de novas turbulências internacionais, garantindo a segurança dos contratos e a tranquilidade dos trabalhadores e fornecedores do segmento.