Recuo em dose dupla: Trump no comércio, Bolsonaro na cela

Enquanto Trump recua em tarifas sobre produtos brasileiros sob pressão diplomática, Bolsonaro revela covardia inédita ao pedir prisão domiciliar, admitindo que não possui mais argumentos jurídicos para escapar da condenação por tentativa de golpe.

Imagem gerada por IA – Arte: RMC
Luciano Meira

Dois ex-líderes que marcaram a política global pela truculência e pelo autoritarismo encontram-se agora em momentos decisivos, ambos rendidos à pressão de realidades que não podem mais controlar. A ordem executiva de Donald Trump que retira tarifas de produtos brasileiros e o pedido da defesa de Jair Bolsonaro para cumprir pena em prisão domiciliar expõem novos contornos de poder, medo e covardia.

Na quinta-feira, 20 de novembro, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, assinou uma ordem executiva removendo tarifas de 40% sobre mais de 200 produtos brasileiros. A medida, articulada após conversas diretas com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, atende principalmente carnes, café, frutas e outras commodities, e veio após intensa negociação entre chanceler Mauro Vieira e o secretário Marco Rubio. Para o governo brasileiro, foi uma vitória diplomática e econômica: “Essas coisas vão acontecer à medida que a gente conversa”, declarou Lula. O recuo de Trump mostra que, mesmo sustentando bravatas e ameaças protecionistas, a retórica do enfrentamento perde para os interesses econômicos e diplomáticos quando a pressão se torna efetiva. A decisão só foi tomada frente à insistência de Brasília, o que expõe a fragilidade prática de promessas de campanha que, ao colidirem com o pragmatismo internacional, revelam os limites do populismo americano.​​Já Jair Bolsonaro, outrora celebrizado por impor sua vontade pelo uso da força e pela promoção ativa da ignorância e do desdém à ciência e à democracia, agora protagoniza um gesto de pura covardia. Condenado a 27 anos de prisão por crime de golpe de Estado, Bolsonaro recorreu ao Supremo Tribunal Federal (STF) pedindo concessão de prisão domiciliar “humanitária”, alegando problemas de saúde e riscos à vida caso seja enviado a um presídio comum. Ao listar doenças crônicas, comorbidades e uma suposta fragilidade física, sua defesa assume o fim dos argumentos técnicos contra a sentença: resta, apenas, pedir clemência. O ex-presidente, que nunca perdeu uma oportunidade para desqualificar adversários e coagir instituições, treme de medo diante da perspectiva de prisão de verdade. Renega o ambiente hostil que construiu e prefere o conforto do lar ao enfrentamento das consequências de seus atos. Foge do cumprimento da pena como quem foge da própria biografia, demonstrando que a coragem só existe no discurso — jamais na prática dos dias sombrios que se seguiram à sua tentativa fracassada de golpe.​

Nos dois casos, assiste-se ao desmoronamento do personagem: Trump recua quando o mercado exige lucidez, e Bolsonaro se acovarda quando a justiça exige responsabilidade. O Brasil, após anos às voltas com ameaças e retrocessos, agora testemunha o apavoramento do líder que optou pelo caminho da força, e que descobre ser incapaz de enfrentar o próprio destino. A prisão domiciliar se revela não como “medida humanitária”, mas como o último refúgio de um condenado que foge desesperadamente do que construiu, ciente de que o país já não lhe deve mais nada além do rigor da lei.

O Metropolitano

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