Romeu Zema: O governador sumido de Minas Gerais, o “show” da banana com casca e o Datafolha
Enquanto Minas Gerais coleciona crises, Romeu Zema faz da política nacional um palco de piadas e vira meme ao tentar se lançar no cenário eleitoral

Luciano Meira
O mineiro mais sumido do Estado não é um personagem folclórico: é o próprio governador. Romeu Zema (Novo), em vez de enfrentar os problemas graves de Minas Gerais — de dívidas históricas a doenças ligadas à falta de saneamento básico —, prefere rodar o país em campanha eleitoral e virar estrela de vídeos constrangedores nas redes sociais. Recentemente, viralizou com a surreal experiência de comer banana com casca, apresentando a performance como sugestão para o mineiro economizar diante da disparada dos preços dos alimentos. A plateia, é claro, riu — mas não com ele, e sim dele.
Estado abandonado e crise em Minas
Não faltam motivos para o povo mineiro cobrar presença do governador no expediente: Minas Gerais amarga o maior número de internações hospitalares por doenças ligadas à ausência de saneamento, como dengue e outras transmitidas por vetores, com mais de 47.000 casos só em 2024. A situação não é apenas de saúde: o déficit estadual está estimado em R$ 7,1 bilhões para 2025, impulsionado por dívidas, aumento das despesas obrigatórias, uma folha de pagamento estourada e uma injustificada e exagerada renúncia fiscal sob suspeita. O Regime de Recuperação Fiscal virou um mantra para justificar cortes e o desmonte de políticas públicas, inclusive tentativas insistentes de privatizar a Copasa, referência nacional em saneamento — que por algum milagre das águas, Zema tenta vender como solução mágica para problemas que só aumentam.
O resultado são surtos de dengue, escolas sucateadas e uma segurança pública de joelhos. No comando, Zema prefere mirar a câmera do celular do que encarar secretários e servidores — para quem a piada acabou há tempos.
Campanha eleitoral ou stand-up?
Se o governador se esquece do próprio Estado, pelo menos ele se lembra das redes sociais com entusiasmo de iniciante. No episódio da banana — digno de comédia de quinta categoria —, Zema mastigou a fruta com casca ao vivo, dizendo ter recebido aprovação de nutricionista e sugerindo, de cara limpa, que “dá para encarar nesses tempos em que os preços dispararam”. A internet não perdoou.
Enquanto o mineiro não acha espaço nem para o arroz e feijão na mesa, o governador acha que falta é criatividade: que tal ração de memes para a população? Não satisfeitos, ministros do governo federal e lideranças políticas reagiram, chamando as redes sociais do governador de “teletubbies” e dizendo que falta conteúdo e entrega — o que, dado o contexto, soa quase como elogio.
Lançamento de campanha e insignificância eleitoral
Zema planeja para os próximos dias um evento de lançamento de sua pré-campanha presidencial. No entanto, as últimas pesquisas Datafolha mostram que, nacionalmente, o governador permanece como figura decorativa nos cenários de intenção de voto: soma modestos 4% a 7% das intenções, sempre abaixo até mesmo de outros governadores do campo conservador. Nos cenários alternativos, quando Lula não está na disputa, continua sem decolar — para desespero de publicitários e alívio dos adversários.
Tabela – Intenção de votos (Datafolha, agosto 2025)
| Candidato | 1º turno (com Lula) | 1º turno (sem Lula) |
| Lula | 39,00% | – |
| Bolsonaro | 33,00% | – |
| Tarcísio | 21,00% | 22,00% |
| Ratinho Jr. | 7,00% | 14,00% |
| Caiado | 5,00% | 7,00% |
| Romeu Zema | 4–6% | 7,00% |
Tabela – Principais problemas de Minas Gerais sob Zema
| Área | Problema |
| Saúde | Epidemia de dengue, doenças por falta de saneamento, hospitais sobrecarregados |
| Saneamento | Desmonte da Copasa, privatizações, queda na qualidade dos serviços |
| Finanças | Déficit de R$ 7,1 bilhões, endividamento recorde |
| Educação | Sucateamento e falta de investimentos |
| Segurança pública | Déficit de vagas em presídios, cortes em políticas públicas |
Minas Gerais assiste, perplexa, à virada do governador em comediante amador. E tem motivos para não aplaudir a performance: a cada novo post inusitado, mais distante fica a resolução dos problemas concretos do Estado. No palco nacional, Romeu Zema até tenta entrar no trending topics, mas a julgar pela ausência de resultados — e pelo pouco apetite do eleitorado para banana com casca —, sua temporada de stand-up eleitoral tende a acabar antes mesmo do primeiro turno.
Porque se governar é coisa séria, o povo mineiro já decidiu: não cai mais em piada pronta.