Trump recua e poupa quase 700 produtos brasileiros de tarifaço nos EUA
Estrutura de exceções evidencia vaivém do presidente, batizado de “TACO — Trump Always Chickens Out”; maior parte das commodities e produtos de alto valor escapa da sobretaxa

Luciano Meira
Em meio à escalada de tensões entre Brasil e Estados Unidos, o governo Donald Trump oficializou o tarifaço de 50% sobre produtos brasileiros, previsto para começar em 1º de agosto. Apesar da retórica dura, o anúncio foi acompanhado de uma surpreendente lista de recuos: quase 700 produtos do Brasil ficaram isentos da nova tarifa, entre eles justamente os setores sobre os quais pairava maior incerteza, como aeronaves, celulose, suco de laranja, minérios e papel. A decisão representa um alívio bilionário para exportadores e expõe o padrão de idas e vindas da administração Trump, já apelidado no mercado financeiro de “TACO — Trump Always Chickens Out” (Trump Sempre Amarela).O tarifaço anunciado por Trump mirava todos os produtos brasileiros, em retaliação a medidas do Supremo Tribunal Federal contra Jair Bolsonaro e a decisões do governo Lula. A ordem executiva previa uma sobretaxa de 50% (40% a mais sobre os 10% já incidentes) e retórica de tolerância zero. Porém, a inclusão de uma lista extensa de exceções reduziu drasticamente o potencial destrutivo sobre a balança comercial brasileira: ao menos 47% das exportações foram poupadas do sobretaxa, segundo cálculos do setor privado, incluindo itens de alta relevância econômica e social para ambos os países.
Entre os principais produtos brasileiros isentos da tarifa de 50% estão:
Aeronaves civis e componentes (beneficiando a Embraer)
Suco de laranja e polpa congelada
Minério de ferro
Celulose química e derivados de papel
Petróleo
Certos produtos alimentícios (como castanhas e polpa de frutas in natura)
Itens como carnes, café e frutas permaneceram na lista dos sobretaxados e deverão arcar com custos mais elevados para entrar no mercado americano, afetando especialmente setores do agronegócio. As exportações brasileiras para os EUA em 2024 somaram US$40,4 bilhões; quase metade desse volume foi poupado integralmente da nova barreira tarifária.
O fenômeno “TACO”: o que é e por que irrita Trump

A repercussão do recuo amplificada pelo vaivém nas negociações originou o termo TACO — sigla em inglês para “Trump Always Chickens Out”, traduzida em português como “Trump Sempre Amarela”. Usada inicialmente por analistas financeiros e popularizada nas redes sociais e na imprensa dos EUA e do Brasil, a expressão ironiza a frequência com que Trump anuncia medidas bombásticas e, diante da pressão dos mercados ou de grupos de interesse, recua, posterga ou cede em parte ao lobby. O termo chegou a ser citado em entrevistas e coletivas, irritando Trump, que rebateu dizendo que se tratava apenas de “tática de negociação”.
O apelido TACO viralizou em memes e comentários de especialistas, marcando os recentes adiamentos e restrições de tarifas que Trump anunciou também contra a União Europeia e outros mercados — muitas vezes para poupar indústrias americanas de reação adversa dos parceiros comerciais.
Por trás dos movimentos está uma tentativa de Trump de pressionar o governo Lula e defender Jair Bolsonaro em meio a investigações no Brasil e ao endurecimento das decisões do Supremo Tribunal Federal. O setor produtivo brasileiro, especialmente segmentos de alto valor agregado e grande influência política, intensificou articulações nos EUA. A Casa Branca também ouviu apelos do agronegócio americano, interessado em matérias-primas brasileiras e temeroso de retaliações.
O episódio mostra que, apesar do discurso inflamado, pressões econômicas e estratégicas mantêm força no jogo comercial global. Para o Brasil, as exceções aliviam parte dos danos, mas deixam setores importantes — como carne e frutas — sob risco iminente de perda de competitividade no mais relevante mercado externo fora da China.
A aplicação restrita do tarifaço e as idas e vindas da Casa Branca reforçam o diagnóstico que, para os mercados e analistas, Trump virou sinônimo de volatilidade negociadora — o fenômeno TACO é, agora, parte central do vocabulário da política comercial global.