Vestida a caráter e presa na Itália, Carla Zambelli troca acusações por videoconferência com o também detido hacker Walter Delgatti
Deputada participa da audiência de prisão na Itália, hacker responde de presídio em São Paulo

Luciano Meira
A deputada federal licenciada Carla Zambelli (PL-SP) participou, na última quarta-feira (10), por videoconferência de uma audiência na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara dos Deputados. Zambelli está presa em um presídio feminino na Itália, enquanto o hacker Walter Delgatti cumpre pena em Tremembé, São Paulo. Ambos foram condenados em decisão definitiva do Supremo Tribunal Federal (STF) a mais de 10 anos de prisão por participação em invasão hacker ao sistema do Conselho Nacional de Justiça (CNJ).
O encontro pela internet marcou o início da análise do processo que pode levar à perda do mandato da deputada. Durante a audiência, Carla Zambelli e Walter Delgatti trocaram acusações e fizeram questionamentos ríspidos. Delgatti afirmou que a invasão ao CNJ ocorreu a pedido de Zambelli, quem teria dado ordens diretas e o hospedado em Brasília para os crimes. Já Zambelli rebateu chamando o hacker de “mitomaníaco” e questionou sua sanidade mental, citando o uso de medicamentos pelo hacker para um transtorno de TDAH.
Carla Zambelli foi condenada a 10 anos de prisão pelo STF por envolvimento na invasão ao sistema do CNJ, que incluía a inserção de mandados de prisão falsos. Ela fugiu do Brasil antes da condenação definitiva, passando pela Argentina e EUA, até se refugiar na Itália, onde foi presa em julho e aguarda decisão sobre extradição. O hacker Walter Delgatti cumpre pena no Brasil. O processo de perda de mandato da deputada na Câmara exige o apoio de ao menos 257 deputados para cassá-la.
Além das trocas de acusações, a audiência teve momentos de emoção, com Zambelli chorando ao receber mensagens de apoio de colegas do PL. A deputada federal Bia Kicis (PL-DF) declarou que a parlamentar não está sozinha e que uma comitiva de parlamentares pretende visitá-la na Itália.
Esse episódio marca um caso vexatório sem precedentes na Câmara, dada a participação simultânea de uma parlamentar condenada, foragida e presa no exterior e seu comparsa, um condenado cumprindo pena no país, ambos ligados a um crime de hacking contra um órgão público. A decisão do plenário da Câmara será definitiva sobre a manutenção ou cassação do mandato da parlamentar.