Zema abandona Minas para cortejar bolsonarismo na Paulista e não discursa em manifestação

Governador mineiro deixa desfile em Belo Horizonte às pressas e chega em São Paulo para pedir anistia para golpistas, mas npassa despercebido

Governador Romeu Zema (Novo) e a bandeira estadunidense homenageada no dia da Independência do Brasil – Fotos: Reprodução – Arte RMC
Luciano Meira

O governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), protagonizou neste 7 de Setembro um episódio emblemático de sua trajetória política: após chegar a um desfile cívico-militar em Belo Horizonte a bordo de um tanque do Exército, o governador deixou o evento menos de uma hora depois do início, apressado para dividir palanque com aliados de Jair Bolsonaro em São Paulo, onde o tema do dia era pedir anistia para os envolvidos na tentativa de golpe — os chamados “bandidos de estimação” da extrema direita brasileira e homenagear da forma mais abjeta, desfraldando uma banderia estadunidense e não uma brasileira no Dia da Independência, as sanções impostas por Donald Trump que afetam de forma significativa a economia de Minas Gerais.

Tanque, desfile e saída pela porta dos fundos

Zema chegou à Avenida Afonso Pena, símbolo do civismo mineiro, ostentando um tanque militar, acenou para o público ao lado de chefes do Exército e rapidamente autorizou, de cima do palanque, o início do desfile, como manda o protocolo—mas não ficou nem até o final da cerimônia. Não houve discursos ou contato direto de Zema com as forças de segurança estaduais à margem do evento. Ironicamente, o governador, que há anos impõe penúria salarial e estrutura precária às polícias e bombeiros, tentou posar de comandante militar, mas trocou o dever solene pelo ativismo bolsonarista na paulista, acelerando sua fuga do desfile.

Anistia aos golpistas e o papel de lacaio

Em São Paulo, onde apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro, no dia da Independência do Brasil, exaltaram uma enorme bandeira dos Estados Unidos que impõe duras sanções fiscais para o país com reflexos negativos relevantes para Minas Gerais, a escolha de Zema de trocar um compromisso cívico em seu estado pela participação no ato em São Paulo pode ser interpretada como mais uma tentativa frustrada de aproximação aos bolsonaristas unindo-se ao time que pede anistia aos condenados pela tentativa frustrada de golpe de Estado após a derrota de Jair Bolsonaro em 2022.No palanque, o governador reforçou a imagem de quem busca desesperadamente o voto da direita bolsonarista, ele era o único governador no palanque além de Tarcísio de Freitas, mas foi incapaz de se diferenciar ou apresentar autonomia política. O constrangimento público fica ainda maior: Jair Bolsonaro, ainda em prisão domiciliar, mantém o mineiro à distância e já declarou várias vezes não enxergar em Zema popularidade nem tração para 2026. Até mesmo Eduardo Bolsonaro, filho do ex-presidente, já ironizou Zema publicamente e o chamou de representante de uma “turminha da elite financeira”, evidenciando desprezo do clã Bolsonaro pelo governador.

Irrelevância política e desprezo bolsonarista

Zema foi solenemente desprezado, não discursou e acabou ofuscado pelo governador paulista, Tarcísio de Freitas (Republicanos), que assumiu o protagonismo da manifestação. Citado apenas uma vez pelo mestre de cerimônias, Zema foi apresentado ao público com referências ao “jeitinho mineiro” e ao hábito de “tomar um café e comer um pão de queijo”, recebendo breves saudações. A presença tímida ocorre enquanto pesquisas recentes apontam seu baixo reconhecimento nacional e discurso considerado frágil por adversários e analistas. Em queda de aprovação em Minas e enfrentando resistência das categorias de servidores e de parcelas da população, sua ida a São Paulo soou como mais uma tentativa de aproximação ao espólio eleitoral de Bolsonaro, movimento visto como pouco convincente diante da preferência por Tarcísio e até Michelle Bolsonaro na corrida presidencial de 2026.

Segurança pública sucateada

Enquanto circula de tanque do Exército para posar em eventos e acena ao eleitorado bolsonarista, Zema colhe críticas cada vez mais duras das lideranças sindicais das polícias e penitenciários mineiros, que denunciam salário baixo e desprezo do governo pelas demandas da categoria. O discurso de “defensor da ordem”, portanto, não convence sequer as corporações estaduais.

No fim das contas, a cena de Zema desfilando em tanque militar pode ser tudo, menos demonstração de força: serviu apenas para mostrar o tamanho de sua subserviência política, a distância dos problemas reais de Minas Gerais e, sobretudo, o quanto é tratado como figurante (ou lacaio) por uma direita que já tem seus verdadeiros protagonistas. O governador mineiro parece cada vez mais condenado a assistir de fora os desfiles decisivos da política nacional enquanto corre, apressado, atrás de atenção.

O Metropolitano

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