Zema compara pessoas em situação de rua a carros mal estacionados
Na mesma semana em que relativizou a ditadura, Zema agora ataca pessoas em situação de rua

Luciano Meira
O governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), gerou uma nova controvérsia ao comparar pessoas em situação de rua a carros estacionados em local proibido, sugerindo a criação de uma lei para “guinchar” esses indivíduos, de forma semelhante à remoção de veículos irregulares. A declaração foi feita durante entrevista à rádio Jovem Pan, onde Zema foi questionado sobre segurança pública e a existência de uma suposta Cracolândia em Belo Horizonte.
Zema afirmou que, no Brasil, “tínhamos que ter uma lei” para lidar com a população em situação de rua. Ele descreveu cenários em que moradores de rua estariam “às vezes na porta da casa de uma idosa, atrapalhando ela a entrar em casa, fazendo sujeira, colocando a vida dela de certa maneira em exposição”. Segundo o governador, atualmente “não temos hoje nada no Brasil que é efetivo” para resolver o problema, que ele identificou como presente em São Paulo, Belo Horizonte e outras cidades. A comparação, descrita nas fontes como polêmica, ignora a complexa situação social e as condições de vulnerabilidade enfrentadas pela população em situação de rua.Esta não foi a única declaração controversa de Zema na semana. Em entrevista anterior, ele relativizou o golpe militar brasileiro (1964–1985), classificando-o como “questão de interpretação” e mencionando a existência de “terroristas naquela época”. Ele também declarou que, se eleito presidente, concederia indulto ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), caso ele seja condenado por tentativa de golpe. As fontes indicam que Zema tem “dobrado a aposta nos últimos meses” em busca do apoio do bolsonarismo, em uma tentativa de se cacifar como pré-candidato a presidente no próximo ano. Em 2023, o governador já havia associado estados do Norte e Nordeste a “vaquinhas” que produzem pouco e chegou a compartilhar uma frase de Benito Mussolini em suas redes sociais.
No campo da segurança pública, apesar do discurso considerado “linha-dura” e de defender a aplicação de estratégias rígidas no Brasil, Zema tem visto os indicadores do setor piorarem sob sua gestão. Ele retornou recentemente de uma viagem a El Salvador, onde elogiou as medidas adotadas pelo presidente Nayib Bukele, que incluem prisões em massa. Embora Bukele tenha ignorado Zema não recebendo-o pessoalmente, o governador defendeu a aplicação de táticas semelhantes no Brasil, sugerindo enquadrar facções criminosas como organizações terroristas para “prender todos” e envolver a Polícia Federal e o Exército no combate ao crime nas ruas. Ele declarou: “O que eles fizeram lá é o que o Brasil tinha que fazer”.
No entanto, essa postura contrasta com a realidade em Minas Gerais. Segundo dados do Atlas da Violência divulgados no mês passado, a taxa de homicídios no estado subiu 3,2% em 2023 em comparação a 2022. No cenário nacional, houve queda de 2,3% no mesmo período. Além disso, o governo mineiro promoveu um corte de R$ 1 bilhão em despesas, o que “afetou diretamente a segurança pública”. Este contingenciamento levou a Polícia Civil a racionar combustível das viaturas, enquanto a Polícia Militar suspendeu o treinamento básico e diligências administrativas.
A crítica reside na aparente contradição entre o discurso rigoroso na área de segurança, a defesa de medidas drásticas e a comparação desumanizante de pessoas em situação de rua a objetos a serem removidos, versus a realidade do aumento da criminalidade e o corte de verbas que afetam diretamente o trabalho das polícias no estado. Organismos internacionais criticam as estratégias como as adotadas em El Salvador por violação dos direitos humanos.
Pesquisa mostra que Zema perde de todos
A pesquisa Quaest divulgada esta semana, assim como as anteriores, mostra o governador Zema como uma figura medíocre e insignificante no cenário público brasileiro. Os números indicam que, entre todos os derrotados pelo presidente Lula (PT) em um eventual segundo turno, ele seria aquele que perderia pela maior diferença de votos.
Com isso, Zema vai se afastando da imagem inicial de sua carreira política, quando o empresário se fez passar por um caipira simplório. Filiado ao partido Novo desde o início de sua trajetória, a mesma legenda cujos membros usurparam o ideal de seu fundador – João Amoedo –, transformando-a em um apêndice da direita radical, Zema, que até há pouco tempo se apresentava como um político pragmático e distante das disputas ideológicas, percebe que sua ambição política está longe de se tornar realidade. Dessa forma, ele parte para uma mudança calculada a fim de cooptar a parcela radicalizada da direita brasileira.