Zema lança pré-candidatura e adota o estilo “Na boleia vou eu, na caçamba quem couber”
Com homenagem constrangedora de aliados polêmicos, evento da AmCham evidencia estratégia de somar quem estiver à disposição, seja lá quem for

Luciano Meira
O lançamento da pré-candidatura de Romeu Zema (Novo), à presidência na AmCham, em São Paulo, escancarou de vez a fase do Novo: “na boleia vou eu, na caçamba quem couber”. A expressão, muito apropriada para a ocasião, sintetiza a política de acomodar aliados de qualquer calibre — desde que estejam prontos a empurrar o projeto rumo ao poder, pouco importando seus antecedentes ou escrúpulos.
A solenidade foi marcada por discursos e bravatas, sendo um dos mais estridentes o de Marcel van Hatten, que vestiu o figurino de defensor da honestidade. Ironia máxima: o deputado está envolvido em um polêmico caso de atropelamento com morte e é reconhecido por sua insignificante produção legislativa. Além disso, recentemente protagonizou um espetáculo bizarro ao se recusar a deixar a cadeira da Presidência da Câmara ao final do Motim Legislativo organizado pela direita, expondo o partido ao ridículo nacional. Os adultos já haviam decidido; a criança faz birra — e o país assiste.
O ex-deputado Deltan Dallagnol, apresentado como embaixador do partido Novo, por sua vez, seguiu a cartilha da indignação contra a corrupção, esquecendo convenientemente os episódios da “Vaza Jato” e do plano para criar o Instituto Lava Jato, artifício mirabolante para atrelar milhões em conluio internacional. A cada frase, era impossível não sentir o peso da hipocrisia: o discurso contra a corrupção vindo justamente de quem, agora revelado, também operava nos bastidores do sistema.
O Novo, que até então era visto como um parasita que se aproveitava das sobras do bolsonarismo, vive agora o estágio da simbiose ao se fundir plenamente com esse grupo político em crise, especialmente diante da inelegibilidade do ex-presidente, seu maior representante; ao ponto de transformar Deltan Dallagnol em seu “embaixador”, um personagem acusado de agir junto a autoridades norte-americanas prejudicando empreiteiras brasileiras e a Petrobras — um modo de atuação que ecoa o comportamento do próprio filho do inelegível, o traidor que também trabalha para comprometer a economia e os interesses nacionais junto a políticos de direita nos EUA.
O evento revelou, sem cerimônia, que o partido Novo está disposto a engatar rumo ao Planalto com quem estiver disponível: se na boleia, vai quem assume o volante; na caçamba, todos os que ajudarem a empurrar, sem checar quem são, nem por onde andaram. Mais do que candidatura, Zema ganhou a celebração do descarte de qualquer filtro ético — e uma prévia de quais companhias dividirão o banco da frente caso chegue ao comando.
Neste cenário, resta ao eleitor o desconforto de assistir homenagens constrangedoras e discursos moralistas vindos de figuras que converteram seus próprios escândalos em trampolim para o poder. Afinal, como traduzido no palco da AmCham, o destino do projeto do Novo depende só de quem está disposto a embarcar. Escrúpulos? Esses dão lugar para quem couber na caçamba, ou pagar ingresso para participar.