Zema mira nos BRICS, erra o alvo e ignora a própria vitrine rachada
Governador de Minas culpa bloco e governo Lula por tarifaço de Trump, mas ignora sua insignificante performance nacional, além de tropeçar nos próprios indicadores mineiros

Luciano Meira
O governador Romeu Zema (Novo) voltou a causar barulho — mas não propriamente aplausos — ao criticar o alinhamento do Brasil ao BRICS e atribuir às parcerias com Rússia, Índia, China e África do Sul as tarifas impostas recentemente pelos Estados Unidos sob Donald Trump. Segundo Zema, o chamado “tarifaço” nada mais seria que uma reação ao “alinhamento errático” do governo Lula, que preferiria os BRICS à OCDE, ignorando a complexidade das disputas comerciais globais — e, é claro, a lista de países ao redor do mundo que também enfrentam sanções similares dos EUA.Na prática, a verborragia do governador pouco encontra eco fora das redes sociais e de cols locais. O protagonismo nacional de Zema, a julgar pelas pesquisas de opinião, continua restrito ao campo das lamentações de bastidores — e, não raro, ao folclore político das fake solutions. Em simulações de 2026, por exemplo, Zema está bem atrás de Lula tanto em Minas quanto no Brasil, ficando com 31% contra 43% do petista num eventual segundo turno, segundo a Quaest. E ainda precisa conviver com a liderança de candidatos locais no próprio estado, segundo os institutos, que indicam ser ele lembrado bem menos do que gostaria entre os eleitores nacionais.
Analogia fácil, realidade difícil
Apontar o dedo para “regimes autoritários” (palavras do próprio Zema) enquanto defende que o Brasil abrace a OCDE soa bonito no papel, mas revela um desconhecimento prático tanto da diplomacia quanto dos mecanismos de mercado. O tarifaço de Trump, anunciado com estardalhaço, atinge diversos setores brasileiros, ainda que alimente sonhos de exceção em alguns nichos — e, em vez de ser punição exclusiva de quem flerta com blocos asiáticos, é sintoma de um protecionismo crescente que atinge países de todos os tons políticos.
Minas Gerais: potência em discurso, estagnação em dados
Enquanto critica Brasília, Zema parece não gostar de mirar a lupa sobre a realidade mineira. O Produto Interno Bruto (PIB) de Minas cresceu meros 1,4% no último período, pouco acima da média nacional e com ritmo já desacelerando, segundo a FIEMG. Os setores de serviços e indústria até mostraram força, mas a queda expressiva no agro, a inflação acima da média e a estagnação recente esfriaram o otimismo que Zema vende quando precisa de manchetes favoráveis. Em termos sociais e de desenvolvimento, mais da metade dos municípios segue em níveis “moderados” ou “baixos” de desenvolvimento, conforme o IFDM, e apenas 21,9% das cidades podem se orgulhar de alto IDH estadual. Ou seja: quase 4 milhões de mineiros vivem em contexto de desenvolvimento aquém do desejado para o século 21.
No quesito popularidade, Zema até mantém aprovação relevante em Minas, com 43,9% de ótimo ou bom e 22,3% de ruim ou péssimo (Futura), mas isso não fez dele uma força nacional. Como aspirante a presidenciável, parece fadado a ser coadjuvante em 2026 e mais lembrado pelos chiliques do que por políticas inovadoras.
Ironia mineira: quem tem tarifa, não joga pedra
Não deixa de ser pitoresco (e ironicamente conveniente) que Zema critique o alinhamento ao BRICS enquanto o próprio BDMG, banco estadual mineiro, busca empréstimos bilionários junto ao banco do bloco — mostrando que, na prática, o discurso anti-BRICS serve mais para agradar comentaristas de rede social do que para orientar as políticas reais do estado. Ao se escorar em argumentos fáceis, o governador expõe não só seu despreparo nas tratativas internacionais, mas também o vazio programático que se esconde atrás de slogans.
Assim, ao mirar no palco internacional com sua retórica de “Brasil no eixo”, Romeu Zema ignora — ou prefere ocultar — a sina do mineiro perdido: muito barulho, pouca entrega, algum folclore e, até o momento, zero solução para as tarifas globais ou para os problemas domésticos que conhecemos tão bem em Minas Gerais.