Oficina no Festival de Inverno de Itaguara propõe mergulho crítico na alma brasileira através de seus “heróis” literários
Professor Rafael Penido conduz análise de Macunaíma, Brás Cubas e outros personagens para desvendar as paixões subterrâneas e os paradoxos que moldam o imaginário nacional

Luciano Meira
A 8ª Oficina de Filosofia e Literatura do 23º Festival de Inverno de Itaguara vai muito além da leitura de textos consagrados: sob a condução do professor Rafael Penido, o público é convidado a um mergulho nas estruturas afetivas e morais que moldaram o imaginário brasileiro. O tema “Macunaíma, Brás Cubas e outros ‘heróis’: a alma brasileira em perspectiva” serve de fio condutor para uma análise das paixões subterrâneas — como preguiça, luxúria, vaidade, melancolia, cobiça, cordialidade e dissimulação — que operam silenciosamente na alma do país do “jeitinho” e da “malandragem”.A proposta da oficina é revisitar, por meio da Filosofia, da História e da Literatura, os pilares fundadores da cultura brasileira, explorando como personagens como Macunaíma (Mário de Andrade) e Brás Cubas (Machado de Assis) revelam um Brasil marcado por autoritarismo velado, ambiguidade sexualizada das origens, vaidade disfarçada de virtude, encantamento com a ilusão da riqueza e apropriação antropofágica do que vem de fora. O percurso inclui ainda nomes fundamentais como Matias Aires, Paulo Prado, Gilberto Freyre, Sérgio Buarque de Holanda e Oswald de Andrade.

No primeiro dia, o enfoque recai sobre as paixões que moldaram o caráter nacional, com uma leitura crítica da História do Brasil a partir de Paulo Prado, a vaidade como essência das relações sociais em Matias Aires, e a análise das máscaras sociais como instrumento de autoproteção e ironia em Machado de Assis. Gilberto Freyre contribui para o debate sobre a ambiguidade afetiva e moral fundada na intimidade, elemento central das relações brasileiras.
O segundo dia propõe uma reflexão sobre o Brasil como invenção cultural: um país de sínteses instáveis, onde o afeto e o poder se entrelaçam em fórmulas de sedução, conciliação e rebelião simbólica. O conceito do “homem cordial” de Sérgio Buarque de Holanda é explorado para pensar o sujeito brasileiro como passional, malandro, ambíguo e lascivo — o próprio Macunaíma, “herói sem caráter”, que devora o outro para sobreviver e inverte simbolicamente a colonização, como propõe Oswald de Andrade.
A oficina, aberta ao público, será realizada presencialmente na Biblioteca Pública Municipal Guimarães Rosa, nos dias 7 e 8 de julho, das 18h30 às 20h30. O evento integra a programação oficial do festival e reafirma o compromisso de Itaguara com a promoção do pensamento crítico, do diálogo interdisciplinar e da valorização das raízes culturais brasileiras.