Presidiário apoia Policial para senador em Minas Gerais

Bolsonaro fecha apoio a Caporezzo, policial e deputado estadual, na disputa ao Senado Federal; ex-presidente quer maioria para atacar o STF

O presidiário Jair Bolsonaro e o deputado estadual Caporezzo (PL-MG) – Fotos: Reprodução – Arte RMC
Luciano Meira

O ex-presidente Jair Bolsonaro, em prisão domiciliar por decisão do STF, não se resigna à perda de poder e traça uma estratégia agressiva para 2026: transformar o Senado Federal em sua principal arma para ameaçar e chantagear ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). A mais recente jogada de Bolsonaro foi selar, em meio a sua reclusão, o apoio público à candidatura do policial militar e deputado estadual Cristiano Caporezzo (PL) ao Senado por Minas Gerais – um gesto que explicita sua obsessão em montar uma tropa de choque no Congresso disposta a “controlar o STF”, nas palavras do próprio presidiário.​

Caporezzo, o policial que Bolsonaro quer no Senado

Cristiano Caporezzo, ultraconservador, foi escolhido a dedo por Bolsonaro para representar Minas Gerais na disputa por uma das duas vagas ao Senado Federal em 2026 – cargos atualmente ocupados por Rodrigo Pacheco (PSD) e Carlos Viana (Podemos), ambos em final de ciclo legislativo.Em seu primeiro mandato na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), apresenta desempenho legislativo considerado fraco, com poucas proposições relevantes aprovadas até o momento. Seu trabalho parlamentar tem sido voltado majoritariamente para pautas conservadoras, como armamentismo e valores tradicionais, mas sem grande impacto legislativo ou protagonismo efetivo na casa.

Além disso, na eleição municipal de 2024, Caporezzo não conseguiu consolidar seu projeto político fora da esfera estadual, sofrendo derrota que evidenciou suas limitações eleitorais e sua dificuldade em ampliar o apoio popular em um cenário mais competitivo, sendo obrigado a um recuo estratégico de sua pré-candidatura à prefeitura de Uberlândia, decisão tomada após um pedido direto de Jair Bolsonaro com o objetivo de fortalecer a aliança com o atual prefeito, Odelmo Leão (Progressistas). Caporezzo justificou publicamente sua desistência como uma maneira de compor forças contra a esquerda, transferindo seu apoio para a chapa do Progressistas e indicando apenas um nome para compor a vice-prefeitura.

Seu recuo simbolizou não apenas a dificuldade de ampliar suas bases além do nicho bolsonarista, mas também expôs a fragilidade do seu projeto de liderança municipal, uma vez que, mesmo com o respaldo do ex-presidente, não conseguiu consolidar protagonismo eleitoral no cenário local. Além disso, relatos apontam que Caporezzo utilizou essa derrota como mote para exaltar o desempenho do PL nacionalmente e reafirmar sua fidelidade ao bolsonarismo, mas, no âmbito municipal, ficou evidente sua incapacidade de enfrentar os desafios de uma disputa majoritária.

Disputa mineira pelo Senado Federal

As eleições de 2026 renovarão 2 das 3 vagas de Minas Gerais no Senado Federal, com Pacheco e Viana na disputa direta pela manutenção dos mandatos, ou de quem decidirem apoiar. Segundo pesquisas recentes, ambos lideram, mas o apoio explícito de Bolsonaro a Caporezzo amplia a polarização em torno do controle do Senado por forças declaradamente antidemocráticas. O Senado Federal, órgão que tem constitucionalmente, entre outras atribuições, a prerrogativa exclusiva de processar e julgar ministros do STF em eventuais crimes de responsabilidade – o que transforma cada cadeira ocupada por aliados de Bolsonaro em peça-chave para ameaças institucionais.​ O deputado, policial militar licenciado, tornou-se fiel escudeiro da retórica armamentista e antidemocrática do bolsonarismo e recebeu, com o aval do STF, autorização especial para visitar seu líder em Brasília, onde o apoio foi sacramentado.​

O projeto de tomar o STF: chantagem como política

Bolsonaro nunca escondeu que eleger uma bancada fiel no Senado é central para executar seu plano de vingança e intimidação. O próprio deputado Caporezzo já declarou estar pronto para defender “valores inegociáveis”, ou seja, servir de soldado para interesses autoritários. A meta de Bolsonaro é cristalina: instrumentalizar o Senado Federal para derrubar ministros do STF que ousaram puni-lo por crimes contra o Estado democrático e, a partir disso, subjugar o Judiciário às vontades de uma minoria radical – algo repetido por seus aliados, que prometem “mandar Alexandre de Moraes para fora” caso obtenham maioria qualificada, num discurso de gângster institucional.​

Política feita à base da ameaça

A volta de Bolsonaro ao protagonismo político, mesmo como presidiário, expõe a degradação ética de uma parcela do cenário institucional brasileiro. Não se trata aqui de mera disputa de poder: é o uso explícito do Senado Federal como moeda e arma de vingança, na qual a “cassação” de ministros do STF, mais do que um instrumento constitucional, vira alerta vermelho para o risco de caudilhismo e pressões mafiosas sobre o único poder capaz de limitar abusos autoritários. A candidatura de Caporezzo, montada sob a tutela do “chefe” detido, não passa de mais um anel neste círculo vicioso de ameaça, chantagem e terror político.​

É com esse roteiro de banditismo declarado que Bolsonaro busca se reerguer: controlar o Senado para subjugar o STF, destruindo qualquer resquício de sistema de freios e contrapesos. O resultado pode ser devastador para a democracia brasileira – caso o eleitorado permita que o crime se imponha como método de governo.

O Metropolitano

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