Além de 700 mil mortos, gestão de Bolsonaro na pandemia deixa 149 mil órfãos no Brasil

Novo estudo revela efeito social desconhecido causado pelo impacto da Covid-19: milhares de famílias destruídas enquanto ex-presidente é investigado por crimes durante sua administração

Foto: Alex Pazuello/Semcom/Prefeitura de Manaus
Luciano Meira

A crise da Covid-19 no Brasil não se traduziu apenas em mais de 700 mil mortes e no maior colapso sanitário dos últimos cem anos; a tragédia avança numa geração de invisíveis. Dados inéditos revelam que 149 mil crianças e adolescentes perderam pai, mãe ou ambos, vítimas da doença entre 2020 e 2021, configurando um contingente de órfãos que corresponde a dezenas de milhares de novos desamparados criados direta ou indiretamente pelas políticas do então presidente Jair Bolsonaro — que agora responde juridicamente pela condução da pandemia.​O levantamento, elaborado por equipes de pesquisadores do Brasil, Inglaterra e EUA, revela que, dos 1,3 milhão de jovens que perderam familiares cuidadores desde o início da pandemia, cerca de 284 mil perderam especificamente por Covid-19 e, desses, 149 mil tiveram a perda dos próprios pais, sendo que em 160 casos as crianças enfrentam a dupla orfandade. Além disso, o estudo reforça que em famílias brasileiras, o papel do idoso é central: muitos eram os principais cuidadores desses jovens, ampliando ainda mais o número de afetados pelo vírus.​

No centro das apurações, Bolsonaro é investigado pela Polícia Federal por supostos crimes que incluem omissão na resposta sanitária, desprezo pela vacinação, incentivo a tratamentos de eficácia não comprovada e desvio de recursos públicos, fatos apontados no relatório da CPI da Covid e respaldados pelo Supremo Tribunal Federal. A magnitude da orfandade identificada reforça o dano social gerado por decisões governamentais que agravaram a crise, tornando o ex-presidente alvo não apenas de acusações pela morte direta de milhares, mas também pelo rastro de famílias desfeitas, cujas consequências ainda são pouco visíveis no debate público.​

A falta de políticas públicas específicas é alvo de críticas de pesquisadores e autoridades, que ressaltam que jamais se preparou o Estado para magnitude semelhante de orfandade, sendo insuficientes os instrumentos existentes para reparar os danos. A responsabilidade apontada à política federal, especialmente ao ex-presidente Bolsonaro, entra no escopo das investigações já abertas, confrontando consequências antes invisíveis da má gestão da pandemia.

Esse efeito indireto da pandemia levanta o debate sobre a responsabilização penal e social de governantes. Na linha do processo, Bolsonaro e ex-ministros da Saúde podem enfrentar penas que variam de prisão a ressarcimento por danos ao erário, caso sejam condenados nos diversos inquéritos já instalados. A tragédia dos órfãos — um legado silencioso da má gestão — agora entra na pauta dos órgãos públicos, exigindo políticas sociais e reparação para milhares de brasileiros que perderam não só membros da família, mas também suas bases de proteção.​

O caso das 149 mil crianças órfãs, até então subestimado, expõe que os efeitos da má gestão da pandemia vão além dos números oficiais de mortos. A dimensão social dessa tragédia segue como desafio para o país e para as instâncias jurídicas, que buscam responsabilizar aqueles que, à frente do governo, contribuíram para aumentar este rastro de dor e exclusão.

O Metropolitano

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