AVC: uma morte a cada seis minutos no Brasil
Doença ocupa a segunda posição nas causas de óbitos no país e revela desigualdades no acesso ao diagnóstico e tratamento eficazes

Luciano Meira
O acidente vascular cerebral (AVC), conhecido popularmente como derrame, permanece entre os maiores desafios de saúde pública no Brasil. Dados recentes apontam que, em média, a cada seis minutos uma pessoa morre vítima do AVC no país, colocando-o como a segunda principal causa de morte, atrás apenas das doenças cardiovasculares. Entre 2019 e 2024, foram registradas mais de 85 mil internações pelo Sistema Único de Saúde (SUS), com uma média de permanência hospitalar de quase oito dias por paciente e um custo acumulado de mais de 900 milhões de reais. A doença, que pode ocorrer pela obstrução ou ruptura de vasos sanguíneos no cérebro, traz risco elevado de sequelas incapacitantes, reforçando a importância do diagnóstico e atendimento ágeis.
Especialistas alertam que cerca de 90% dos casos podem ser evitados com mudanças simples no estilo de vida, como acompanhamento da pressão arterial, controle do colesterol, alimentação equilibrada, atividade física regular e abandono do tabagismo. A hipertensão, principal fator de risco, está, contudo, subdiagnosticada no país: apenas 20% das pessoas afetadas sabem que têm a doença, o que dificulta sua gestão. O rápido reconhecimento dos sinais do AVC — fraqueza súbita, fala arrastada, perda de visão ou equilíbrio — e a chegada imediata ao serviço de saúde aumentam significativamente as chances de sobrevivência e recuperação sem sequelas graves.
No cenário brasileiro, a desigualdade regional impacta fortemente o atendimento: 77% dos centros especializados em AVC concentram-se nas regiões Sul e Sudeste, deixando vastas áreas desprovidas de infraestrutura adequada. Isso se reflete em taxas de mortalidade até três vezes maiores em locais que carecem de recursos. Além disso, o tratamento emergencial que inclui trombólise e trombectomia, técnicas que reabrem vasos bloqueados, dependem de diagnóstico rápido por neuroimagem, muitas vezes inacessível em algumas regiões.
Para dar resposta a essa epidemia silenciosa, o governo federal sancionou recentemente a Lei 14.885, que institui o Dia Nacional de Prevenção ao AVC, comemorado em 29 de outubro, data que coincide com a ação global da Organização Mundial da Saúde. A iniciativa visa impulsionar a conscientização, o diagnóstico precoce, o avanço na pesquisa e a melhoria do acesso ao tratamento e à reabilitação, áreas ainda críticas no país. No mesmo sentido, organizações como a Associação Brasil AVC promovem campanhas, atividades físicas e eventos educativos para ampliar o conhecimento público e profissional sobre fatores de risco e cuidados pós-AVC.
O combate ao AVC no Brasil exige, portanto, um conjunto articulado de medidas: políticas públicas que ampliem a estrutura hospitalar e centros de referência; investimento em educação popular sobre prevenção e sinais da doença; estratégias para ampliar o diagnóstico e o tratamento em regiões distantes; e atenção à reabilitação, fundamental para reduzir sequelas e reintegrar pacientes à vida social. Só assim será possível frear o avanço dessa condição que, a cada seis minutos, rouba uma vida e deixa marcas profundas na sociedade.