Brasil reforça laços com China em missão de investimentos enquanto EUA elevam barreiras comerciais

Comitiva de Tebet e Padilha busca novas rotas logísticas e cooperação tecnológica em meio à escalada de tarifas norte-americanas para produtos chineses

Os ministros Alexandre Padilha e Simone Tebet – Foto: Valter Campanato/Agência Brasil
Luciano Meira

O governo brasileiro intensifica as relações com a China ao enviar uma comitiva liderada pela ministra do Planejamento, Simone Tebet, e pelo ministro da Saúde, Alexandre Padilha, para uma rodada de negociações sobre investimentos, saúde e integração logística. A viagem, de 13 a 17 de outubro, ocorre em um cenário global marcado pela guerra comercial entre Estados Unidos e China, na qual o presidente Donald Trump anunciou tarifa extra de 100% sobre produtos chineses, enquanto Pequim restringe exportações de minerais estratégicos. Nesse contexto, Brasil e China aproximam posições, ampliando parcerias e abrindo espaço para compartilhar rotas comerciais e tecnologia em saúde e infraestrutura.​

A agenda brasileira em solo chinês prevê a visita ao Porto de Xangai, pivô do projeto Rotas de Integração Sul-Americana e estratégica para o escoamento de commodities e produtos manufaturados via Oceano Pacífico. A chamada Rota Bioceânica, que conecta o Brasil ao Porto de Chancay, no Peru, reduz distâncias, custos logísticos e emissões ambientais em comparação às rotas tradicionais. Além disso, evita taxas de pedágio elevadas em canais como Panamá e Suez, consolidando uma via de exportação mais eficiente para os mercados asiáticos.​Simultaneamente, o ministro Alexandre Padilha lidera uma missão técnica para conhecer o modelo de “hospital inteligente” da província de Zhejiang, referência em tecnologia integrada à medicina, que servirá de protótipo para a implantação do primeiro hospital desse tipo no Brasil. O projeto prevê aporte de US$ 320 milhões (cerca de R$ 1,7 bilhão), financiado em parte pelo Novo Banco de Desenvolvimento (NDB/BRICS) e visa qualificar mão de obra, infraestrutura e atendimento no setor público brasileiro.​

A iniciativa brasileira ocorre em meio à crescente disputa comercial entre Estados Unidos e China. Com tarifas americanas que podem chegar a 145% sobre determinados bens, o Brasil vê na China uma alternativa sólida para ampliar a exportação de produtos agrícolas e industriais. Em agosto, as vendas brasileiras ao gigante asiático cresceram quase 30% em ritmo anual, consolidando-se como maior destino das exportações do Brasil e responsável por parte significativa do superávit comercial nacional.​

Analistas indicam que as restrições impostas por Washington aceleram a transferência de acordos e negócios para parceiros alternativos, como o Brasil, ampliando potencial de empregos, incorporação de tecnologia e intercâmbio logístico. Especialistas destacam ainda que, enquanto os norte-americanos elevam barreiras, Brasil e China se movem em direção à diversificação de exportações, sustentabilidade e inovação, abrindo margem para expansão do comércio de bens industriais e crescimento na área de serviços.​

A aproximação ocorre também em projetos de médio e longo prazo, como o reforço da conectividade entre América do Sul e Ásia, impulsionando investimentos em infraestrutura, ciência, tecnologia e educação. Além disso, novos acordos em saúde e logística estão sob negociação, com expectativa de expansão dos fluxos bilaterais em áreas estratégicas para o desenvolvimento brasileiro.​

Ainda durante a missão à China, membros do governo brasileiro têm previsto encontro com Dilma Rousseff, presidente do NDB, para avançar em financiamentos de projetos nacionais. Para o Brasil, o momento é favorável para fortalecer independência comercial, reduzir custos e diversificar sua matriz exportadora numa conjuntura internacional instável, marcada pelo protecionismo de grandes potências.

O Metropolitano

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