Faculdade da USP rompe convênio com Universidade de Haifa em protesto contra ações militares em Gaza
Decisão da FFLCH é resposta a denúncias de graves violações de direitos humanos cometidas por Israel contra a população palestina; movimento estudantil celebra o rompimento como conquista ética

Luciano Meira
A Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH-USP) decidiu, em votação unânime nesta quinta-feira (23), romper o convênio que mantinha com a Universidade de Haifa, em Israel. A medida, votada por 46 dos 54 membros da Congregação, antecipou o fim do acordo que estava vigente até maio de 2026. A decisão reflete uma crítica contundente às ofensivas militares do governo israelense na Faixa de Gaza e à política do governo Netanyahu, especialmente diante do conflito iniciado em outubro de 2023, quando o grupo Hamas atacou civis israelenses, desencadeando uma série de bombardeios que causaram milhares de vítimas palestinas e destruição em larga escala.
Contexto e motivações do rompimento
O rompimento do convênio ocorre em meio a denúncias internacionais de graves violações de direitos humanos cometidas pelo Estado de Israel contra a população palestina, incluindo mortes de civis, deslocamentos forçados e destruição de infraestrutura básica na região, situação que suscitou ampla condenação inclusive da Organização das Nações Unidas (ONU) e de diversos países, entre eles o Brasil. Representantes estudantis da FFLCH vêm promovendo mobilizações, ocupações e protestos contra a cooperação acadêmica com instituições israelenses, considerando que o convênio poderia legitimar ou financiar indiretamente as ações militares e políticas de ocupação.
João Conceição, representante discente da Comissão de Cooperação Internacional da FFLCH, afirmou que a universidade pública brasileira não pode ser cúmplice de quem usa o conhecimento para fins bélicos, considerando a decisão “uma vitória da ética sobre a omissão”. Ele defendeu que a USP deve estender essa postura a outras unidades e instituições brasileiras que mantêm acordos com entidades israelenses envolvidas no conflito e nas políticas de apartheid.
Repercussões e adesão de outras universidades
O posicionamento da FFLCH-USP faz parte de um movimento crescente dentro das universidades brasileiras. Outras instituições de destaque já romperam ou revisaram acordos com universidades israelenses em solidariedade à população palestina e em protesto às operações militares em Gaza, entre elas a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Universidade Federal Fluminense (UFF) e Universidade Federal do Ceará (UFC). Essas iniciativas representam a contestação ética e política da comunidade acadêmica diante do conflito no Oriente Médio.
Histórico e futuro do convênio
O convênio entre a USP e a Universidade de Haifa foi firmado em 2018 e contemplava intercâmbio de estudantes, docentes e pesquisadores, além do desenvolvimento conjunto de projetos acadêmicos. A decisão de rompimento será encaminhada ao Conselho Universitário da USP, que deve deliberar sobre a extensão do fim das parcerias com instituições israelenses, especialmente aquelas vinculadas a atividades militares e violações de direitos humanos.
Esse rompimento simboliza um marco histórico na postura da USP sobre questões internacionais de direitos humanos e demonstra a ampliação do debate ético na academia brasileira, alinhado a movimentos estudantis e às consequências do conflito que permanece no foco da atenção global.