Indústria dos EUA encolhe pelo sexto mês seguido, contrariando discurso de Trump
Queda no setor desafia retórica protecionista

Luciano Meira
A indústria manufatureira dos Estados Unidos registrou em agosto seu sexto mês consecutivo de retração, segundo o índice PMI divulgado pelo Instituto para Gestão do Suprimento (ISM). O indicador ficou em 48,7 pontos, abaixo da linha de 50 que separa expansão de contração, mostrando sinais persistentes de perda de fôlego industrial em meio à política de tarifas implementada pelo presidente Donald Trump desde o início do ano.
Paralisação industrial afeta empregos e consumo
O prolongado ciclo de encolhimento industrial ocorre em meio a crescentes preocupações entre executivos e analistas, que apontam a política tarifária como o principal vetor do mau desempenho do setor. Fabricantes relatam custos mais altos de produção devido às tarifas sobre insumos importados, o que se soma ao recuo da demanda interna e à escalada de preços de bens de consumo e matérias-primas, refletindo na inflação ao consumidor.
Efeitos perversos sobre a economia
O cenário atual se choca frontalmente com a narrativa de Trump, que justificava as tarifas como medida para proteger a indústria local e estimular empregos. No entanto, especialistas apontam que as taxas — chegando a 50% em produtos brasileiros, como aço e alumínio — funcionam mais como manobra política. Há evidências claras de efeitos opostos: aumento do desemprego industrial, elevação do custo de vida (2,7% ao ano), preços de alimentos como carne pressionados e desaceleração na criação de vagas e investimentos.
Impacto nas relações e comércio global
Para além dos Estados Unidos, outros países também sentem reflexos das tarifas, incluindo o Brasil, que viu exportações de produtos estratégicos perderem competitividade. Economistas estimam que os novos gravames reduzem o PIB americano em cerca de 0,36% ao ano, o que significa US$ 108,2 bilhões ou US$ 861 anuais a menos por família, revertendo benefícios e transferindo para o consumidor final o custo da protecionismo.
Estratégia fiscal como ferramenta eleitoral
O ritmo de deterioração na indústria e a pressão sobre os preços desgastam a efetividade política da administração Trump. Especialistas observam que as tarifas têm sido usadas como instrumento retórico nas disputas comerciais globais e no embate eleitoral interno, mas vêm minando a capacidade de geração de riqueza e postos de trabalho—e, em vez de fortalecer a indústria nacional, aprofundam desequilíbrios e incertezas para empresas e consumidores americanos.