Laudos ambientais contrariam suspeitas sobre a Siderúrgica Itagusa e mostram baixo nível de poluição aérea em Itaguara
Relatórios técnicos feitos a pedido de moradores e pagos pela Prefeitura apontam níveis de partículas muito abaixo dos limites legais; alegação de que alto-forno teria sido desligado no dia da medição é tecnicamente improvável

Luciano Meira
Dois laudos técnicos elaborados por um laboratório credenciado para medir partículas em suspensão na atmosfera confirmaram que os níveis de material particulado no ar de Itaguara estão bem abaixo dos limites permitidos pela legislação ambiental. Os documentos, resultados de uma demanda de moradores que reclamam de suposta poluição causada pela Siderúrgica Itagusa Ltda., mostram que a concentração de partículas detectada não indica irregularidade ambiental.
A iniciativa de instalar os equipamentos de medição partiu de um grupo de moradores reunidos em um aplicativo de mensagens, que conta com o apoio dos vereadores Cássia Greco (PSD) e Bruno Coutinho (PDT). Após audiência com o prefeito Luan Brenner (PL), a Prefeitura custeou o serviço, pagando cerca de R$ 1.600 por dia à empresa responsável pelas medições realizadas nos dias 25 e 26/09/25 e nos dias 29 e 30/09/25. O procedimento havia sido solicitado após o resultado de uma vistoria — realizada há pouco mais de 30 dias — que também não apontou nenhuma irregularidade ambiental na siderúrgica, conforme já havia sido publicado no mesmo dia da vistoria — 22/08/25 — no O Metropolitano. Leia a matéria aqui.
Os resultados das medições
Os dois laudos, referentes a medições realizadas em pontos diferentes da cidade — entre eles o “Ponto 2 – Casa do Amaury”, na Rua Joaquim da Costa, próximo à BR-381 — demonstram que os níveis de partículas registradas ficaram muito abaixo dos limites estabelecidos pelas normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) e pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama).

Os relatórios destacam que o ponto próximo à rodovia apresentou os maiores índices de partículas, fato que pode ser atribuído à influência direta do tráfego intenso de veículos pesados, e não à atividade industrial da Itagusa.

Os resultados também reforçam a opinião do perito que havia vistoriado a usina anteriormente e concluído que não havia evidências de emissões irregulares associadas ao processo produtivo da empresa.
Segundo a Concessionária Arteris S/A, o tráfego na BR-381 é composto 37,1% por veículos comerciais e 62,9% por veículos de passeio, que recebe cerca de 23 mil veículos por dia, números também confirmados pela ANTT – Agência Nacional de Transportes Terrestre.
Alegações de “desligamento” do alto-forno
Mesmo diante dos números registrados pelos equipamentos, há uma observação incluída nos próprios laudos registrando que alguns moradores alegaram que “a siderúrgica havia sido desligada no dia da instalação dos equipamentos”. Segundo especialistas em engenharia siderúrgica, tal hipótese é tecnicamente improvável.
Um alto-forno é um equipamento de operação contínua, que atinge temperaturas de até 2.200 °C e pode permanecer em funcionamento por décadas sem interrupção. Paradas completas exigem processos de resfriamento e preparo que podem durar semanas e elevar custos de produção a níveis inviáveis. Experiências como as da Usiminas e CSN mostram que desligamentos planejados demandam até 90 dias de preparação e manutenção.
Especialistas da Universidade Federal de Ouro Preto explicam que, caso um forno seja “esfriado” de forma abrupta, corre-se o risco de trincas irreversíveis no revestimento refratário, inutilizando o equipamento. Dessa forma, a hipótese de desligamento no dia da medição não encontra sustentação técnica.
Desconfianças e repercussão local
Antes mesmo da divulgação dos resultados, participantes de um grupo de mensagens criado para discutir o problema já afirmavam que “alguém havia vazado a informação da data de instalação e que, por isso, a empresa teria desligado o forno”. Nenhuma prova foi apresentada, e o próprio resultado técnico reforça a percepção de que a especulação era infundada.
O grupo mantém a pressão sobre o poder público, e talvez possam solicitar que sejam realizadas novas medições em outros pontos da cidade, argumentando que moradores de bairros mais distantes também se queixam de fuligem, não havendo neste momento nada de concreto, nem se haverá o pedido, e se houver quem custeará a instalação dos equipamentos. No entanto, técnicos alertam que a dispersão de partículas depende de fatores como ventos, relevo urbano e fontes externas de emissão, como o tráfego da BR-381, que se mostrou relevante nos relatórios.
Custos e desdobramentos
O investimento da Prefeitura de Itaguara com a instalação dos equipamentos superou R$ 3.000, cobrindo os dias de trabalho do laboratório. Já uma perícia anterior, solicitada por iniciativa privada, havia sido orçada em R$ 4.000 — valor parcialmente pago por cotização entre todos os vereadores (R$ 1.000) e uma moradora membro do grupo de mensagens (R$ 1.000), não sendo informado se os R$2.000 restantes forsm cobrados e/ou pagos, e também não há notícias, pelo menos no grupo de mensagens, sobre a existência de um laudo/relatório feito pelo perito.
Mesmo com resultados que indicam ar dentro dos padrões ambientais, a polêmica permanece. O prefeito Luan Brenner afirmou que continuará acompanhando a questão e que manterá diálogo com os moradores e com a direção da siderúrgica para garantir transparência e segurança ambiental no município.

Os laudos foram fornecidos ao O Metropolitano após havermos tomado conhecimento de sua existência no grupo de mensagens que discute o assunto na cidade, tendo sido peticionado em 17/10/2025, junto à Prefeitura de Itaguara o fornecimento dos mesmos, amparado na Lei de Acesso a Informação – LAI Lei nº 12.527/2011 que regulamentou o inciso XXXIII do art. 5º da Constituição Federal, garantindo a todos o direito de receber dos órgãos públicos informações de seu interesse particular ou de interesse coletivo ou geral, salvo hipóteses legais de sigilo.
Para baixar os laudos na íntegra clique no link desejado.